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A cara e a história do desemprego no Piauí: “Eu quero o que der para mim”

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“A esperança é a última que morre”, diz desanimado, mais para convencer a si mesmo do que como uma afirmação. Erson Weslley da Silva, 28 anos, está entre os candidatos que passaram horas na fila do Sistema Nacional de Emprego (Sine-PI) para obter ao menos uma entrevista de trabalho.

O jovem negro, de boné e bigodes bem cuidados, almeja uma vaga de motorista. Ele está desempregado há pelo menos três anos. Erson Weslley trabalhava em uma empresa de informática, mas foi demitido quando ela faliu em meio à crise de 2015. Nesse período, o que tem salvo a família é o trabalho da esposa.

“Não sei explicar… é ruim, você se sente impotente. Só não passamos por dificuldades maiores por causa do trabalho da minha esposa”, relatou ao OitoMeia, desviando o olhar para a rua logo à frente.

Caso consiga a vaga de emprego que almeja, ele terá que sair da casa que construiu com a esposa em Monsenhor Gil, para vir à capital. A distância é de 56 km. Empregado, ele pretende alugar uma casa para viver aqui. Aí será o início de uma nova vida.

Francisco, 43 anos, há três anos em busca de emprego. É o provedor de uma família de cinco filhos (Foto: Paula Sampaio/OitoMeia)

O APOIO DE CÍCERA

Quem vê Cícera Pereira, 42 anos, sentada, em meio aos candidatos do Sine, com um ar ansioso, acha que ela está ali em busca de um emprego. A verdade é que ela acompanha o marido, João Francisco, 43 anos. Ele faz bicos como pedreiro e carpinteiro, mas está há três anos em busca de um emprego formal.

O casal vive no bairro Santa Maria, zona Norte de Teresina, e conta com orgulho ter cinco filhos juntos. João é o único provedor da família e nesse período tem se virado como pode através do mercado informal. Eis o motivo da dupla estar na manhã de terça (16/04) em meio aos candidatos: Francisco precisa da segurança que um emprego com carteira assinada proporciona.

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“A carteira assinada é uma coisa que lhe dá segurança, pois é algo que você tem a certeza de que vai sair de casa todos os dias para ir á um trabalho”, disse ao OitoMeia.

O filho de 19 anos, primogênito da família, cursa Biomedicina em uma faculdade particular da capital. Ele conta com um sorriso cativante no rosto que a caçula da família, de nove anos diz a todos que vai ser empresária. “Mesmo desempregado e com um aperto, estamos conseguindo devagarzinho. Tenho fé em Deus de que todos eles serão formados em um curso superior”, completou.

Natália Maria Santos, 22 anos está em busca do primeiro emprego para pagar os estudos (Foto: Paula Sampaio/OitoMeia)

O FUTURO DE NATÁLIA

Natália Maria Santos, 22 anos, está À procura de um emprego, pois quer pagar os estudos. “Um curso que eu faria é jornalismo, mas para isso preciso arranjar um emprego para poder pagar por ele”, afirmou. Natália mora na comunidade Cacimba Velha, na zona rural de Teresina. Ela percorreu quase 2h de ônibus para chegar ao Sine na terça (16).

“Eu pego um ônibus que vem de lá e outro na estação da Av. Miguel Rosa. Hoje cheguei atrasada porque ele quebrou no meio do caminho e tive que pegar outro”, diz ao OitoMeia.

Ela imagina um futuro e confirma esperançosa que não se atrasará caso consiga um emprego, bem como uma vaga na universidade. “É só acordar às 5h da manhã, então chego lá pelas 7h em Teresina”, contou.

Maria, 40 anos, busca trabalhar com vendas. Sonha em aprender a produzir os materiais que vende (Foto: Paula Sampaio/OitoMeia)

MARIA É SUOR E LUTA

“É uma situação de fracasso”, afirmou Maria, 40 anos, ao argumentar que Teresina ficou entre as capitais com maior índice de desemprego no país. Os dados, que ela teve acesso, foram divulgados pelo IBGE. Em 2018, os índices desemprego na capital piauiense foi de 13,6%, enquanto a média nacional foi de 12,3%.

Com um semblante sério e um olhar fixo a tudo o que acontece, ela procura um emprego na área de vendas. Maria conta que sempre foi apaixonada pelo setor e já vendeu consórcios, jóias e roupas. Quando ficou desempregada, a mulher virou dona de casa e, depois, optou por atuar como sacoleira.

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Ela lembra uma personagem do filme de Charlie Chaplin ao criticar a “situação de fracasso” no Piauí em relação ao desemprego. Ela defende que o estado deveria ter mais indústrias, pois elas gerariam mais empregos.

“Eu já vendi essa quantidade de coisas, mas não sei industrializar nada disso. Eu vejo isso, mas nunca fiz. Não sei como se faz. Hoje, se pode industrializar todo tipo de coisa, até detergentes, mas eu não aprendi a fazer isso, infelizmente. Não sei se faltam empregos ou capacitação para as pessoas, mas alguma coisa há”, questionou ao OitoMeia.

Catarina Isa Silva, 22 anos, está há dois anos sem emprego. Sonha em ser enfermeira (Foto: Paula Sampaio/OitoMeia)

CATARINA SONHA COM O PRIMEIRO EMPREGO

O maior valor que Catarina Isa Silva, 22 anos, recebeu em um trabalho informal foi R$ 250. Ela trabalhava como babá, em uma jornada de 7h, três vezes por semana. Na terça, ela estava entre os diversos candidatos a uma vaga de emprego com carteira assinada. Caso consiga, será o primeiro emprego formal que terá na vida.

“O que aparecer, de vendedora à serviços gerais. Eu estou precisando muito. Eu preciso pagar a minha faculdade”, afirmou. O sonho de Catarina Isa é ser enfermeira, pois quer ajudar as pessoas. “Eu quero enfermagem, pois quero ajudar as outras pessoas e acho que é uma profissão muito bonita, que se encaixa no meu perfil”, afirmou ao OitoMeia.

TEMOS VAGAS, MAS VOCÊ TEM O PERFIL?

Diretor do Sine, Neiva Silva (Paula Sampaio/ OitoMeia)

Segundo o diretor do Sine, Neiva Silva, ao OitoMeia, 98 das 138 vagas disponíveis na terça-feira (16) foram preenchidas por candidatos até o fim do expediente, às 13h30. Ele revela que o Piauí alcança bons índices no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em relação aos demais estados.

Apesar das estatísticas positivas, muitos desempregados ainda voltam para casa sem um perspectiva de um novo emprego. O motivo é a pouca qualificação para o mercado de trabalho. Neiva destaca que muitas pessoas estão em busca de um emprego, mas não estão qualificadas para aquela vaga que o empresário disponibilizou no Sine.

“No Piauí, o Sine não fica atrás de outras capitais, em relação aos números de vagas de empregos. Algumas dessas vagas não são preenchidas por questão da qualificação do candidato. Nós não podemos mandar pessoas que não estão no perfil da empresa”, destacou ao OitoMeia.

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ECONOMISTA AVALIA CAUSAS E SOLUÇÕES PARA O DESEMPREGO NO PIAUÍ

Do profissional pós-graduado ao trabalhador que não completou o ensino médio, está todo mundo no mesmo barco. Segundo Fernando Galvão, vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Piauí (Corecon-PI), as razões para a intensa procura de empregos tem um pé na economia que anda a passos lentos, sem sinais de grande recuperação.

O economista pontuou que os elevados índices de desemprego ainda estão ligados à crise financeira de 2015 e 2016, que devastou a atividade produtiva do país.

“O desemprego derruba a renda do trabalhador, isso faz com que o consumo seja reduzido também. Assim as atividades de empresas são diminuem, bem como as contratações. Nesse contexto, as pessoas tem comprometida também a capacidade de crédito”, explicou ao OitoMeia.

Nesse cenário, o Piauí é prejudicado diretamente pela pouca capacidade de investimento próprio do Estado. Entre as medidas tomadas para mudar esse cenário, estão as Parcerias Público Privadas (PPP’s) e a captação de operações de crédito.

O economista aconselha que os recursos captados sejam direcionadas para áreas específicas com potencial de geração de empregos como turismo, energia renováveis, mineração e infraestrutura.

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Fonte: Oito Meia

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