Chambinho do Acordeon afirma sobre o forró: “se não tiver sanfona, triângulo e zabumba, desconfie”

Ele fez o caminho inverso da maioria dos nordestinos. Chambinho do Acordeon nasceu em São Paulo e, aos oito anos, a família decidiu retornar para a pequena cidade de Jaicós, no Piauí. Morando em Fortaleza há três meses, o músico e ator se dedica a produção do segundo álbum da carreira, além de aguardar o início de uma nova produção cinematográfica, na qual irá atuar como capanga do cangaceiro Lampião.

“Na área musical estou preparando mais um trabalho independente com músicas autorais e com parceiros até de Fortaleza, como Jonas Alves. Provavelmente, o nome do CD será ‘Acredite’” . Sobre cinema, o sanfoneiro revela que em breve vai retornar às telas. “O filme tem produção de Bruno Azevedo e Paulo Goulart Filho. O homem é um showman. Estou muito feliz com esse convite. É uma trilogia. O projeto é antigo, mas esse ano a gente começa a gravar”.

Segundo Chambinho, a produção terá locações e cenas gravadas em Mossoró (RN), Serra Talhada (PE) e também em Alagoas. Os locais remontam a história de Virgulino Ferreira da Silva, o temido cangaceiro Lampião.

São João

Em pleno mês junino, o sanfoneiro tem uma agenda com mais de 20 apresentações pelo Nordeste. Ao ser indagado sobre a participação de cantores do sertanejo em eventos tradicionalmente realizados por artistas do forró, Chambinho declara que há outros estilos dentro do São João desde a década de 1990.

“Esse ano exageraram na dose. Está um pouco parecido com a festa de Peão de Barretos. Eu gosto muito e recebi convite. Tenho certeza de quando chegar lá para fazer show, cerca de 90% da programação será de música sertaneja”, avalia o sanfoneiro. Chambinho conta que, desde o ano passado, os músicos nordestinos realizam uma campanha em proteção a música regional no São João.

“Começamos esse movimento em maio. O despertar foi em 2016, por um forrozeiro chamado J. Sobrinho”. A Chambinho, ele reclamou que há 30 anos não tinha deixado de participar de nenhum evento de São João, mas em 2017 seria a primeira vez que ele ficaria os dias 23 e 24 sem tocar na sanfona.

O atual conflito musical faz o ator lembrar a situação vivenciada na novela “Velho Chico”, da Globo. “O meu personagem entrava na trama reclamando por não ter oportunidade de se apresentar. A ficção se confunde com a realidade agora”. Com uma bagagem extensa de shows, Chambinho destaca que cada região do País tem um tipo São João. “Tivemos em São Paulo um grande sanfoneiro chamado Mario Zan que animava o povo nessa época junina. No lado Sul e Sudeste também se comemora o São João de forma mais natural, modesta e funciona muito bem”, diz.

Na concepção do sanfoneiro, a luta pelo tradicionalismo musical tem o objetivo de proteger as tradições e a cultura junina. “Não podemos perder essa essência. Não tenho nada contra outros segmentos. A música que protagoniza o mês de junho e julho é o forró”, avalia. Para ele, os músicos Waldonys, Alcymar Monteiro, Chico Pessoa, Elba Ramalho e Adelson Viana são alguns dos nomes que levam o mix de novo e tradicional.

Renovação

“Precisamos renovar nossa música regional. Estou muito feliz com que estou presenciando em Fortaleza. Muitos nomes bons”, diz Chambinho sobre a nova geração de músicos. Um dos nomes que ele cita é o do jovem sanfoneiro Nonato Lima. “Precisamos de sangue novo para reaquecer esse mercado. Chego em Fortaleza para somar. Estou há três meses nessa terra e me sinto como criança brincando no quintal de casa”, comenta rindo.

Sobre o forró de Aviões, Wesley Safadão e outros cantores do estilo, Chambinho declara que o trabalho deles são voltados para o gênero pop. “Eles utilizam elementos do rock e outras vertentes puxadas até para a salsa. Na minha opinião, não é forró que Luiz Gonzaga urbanizou com triângulo, zabumba e sanfona. Não podemos desmerecer o talento dessas bandas”. Ele avalia que o nome “forró” é indevido por alguns grupos pela proximidade com o sertanejo. Apesar dos conflitos, o músico afirma ter bom relacionamento com grupos de todos os gêneros.

FONTE: Diário do Nordeste