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HONESTIDADE | Jovem encontra carteira cheia de dinheiro, anuncia no Facebook e devolve ao dono

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Em tempos que a honestidade é tida como qualidade em desuso, ainda encontra-se pessoas do bem que, com suas atitudes, provam que ela existe e é crescente. O analista de sistemas teresinense Janiel de Santos Freitas, 24 anos, está aí para provar. Ele faz parte do grupo da honestidade em forma de pessoa. Ou ainda do grupo dos anônimos nossos de cada dia.

No final da manhã desta terça-feira (28 de julho) Janiel Freitas encontrou na zona Sul de Teresina uma carteira cheia de dinheiro. Mesmo precisando, conta que não pensou em ficar com o dinheiro. Acessou a internet e através de várias redes sociais procurou o dono do dinheiro. Alguns espertalhões ainda tentaram dizer que o dinheiro era deles. Duas horas depois, graças à divulgação do inusitado achado, voltou às mãos do verdadeiro dono, que usaria esse valor para um tratamento de saúde.

Quem é esse rapaz? Por que ele fez isso? Em que ele atua? O que pensa sobre honestidade e sobre a importância da honestidade hoje em nossa sociedade? Conheça mais um pouco da história de Janiel Freitas: a honestidade em pessoa. Ele é mais um entre os tantos honestos anônimos que povoam a tão desacreditada sociedade.

CARTEIRA ENCONTRADA EM FRENTE A LOJA DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO

Era aproximadamente 11h desta terça-feira. Mais um entre os tantos dias quentes da abafadíssima Teresina. Janiel Freitas e sua mãe tinham ido à loja de material de construção Engecopi, na avenida Miguel Rosa, bairro Redenção, zona Sul de Teresina. Era mais um dia de peregrinação para compras de utensílios para sua nova casa. Isso tem consumido o orçamento do rapaz. “Estava meio liso”.

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Janiel Freitas conta que sua mãe pisou em algo próximo ao veículo deles. Era uma carteira. Mas que a pressa de ver alguns produtos de construção era grande que nem prestaram muita atenção. Quando voltaram é que notaram que havia uma carteira recheada de dinheiro a seus pés.

Dentro constava R$ 407 em cédulas, algumas moedas, muitos cartões de crédito e documentos, entre eles carteira de motorista e carteira de identidade. Todo o material pertencia a um homem, até então total desconhecido do analista de sistemas. “Ele poderia estar precisando. Me coloquei no lugar dele”.

Janiel Freitas conta que ainda procurou alguém que estivesse a busca da carteira, mas não encontrou nenhuma pessoa. “Parece que já fazia algum tempo que tinham perdido”. Terminou seguindo para a residência dos pais, no bairro Pio IX, também na zona Sul de Teresina, e fotografou o achado e seus detalhes. “Não tinha noção de como encontrar o dono. A internet era um caminho”, relatou.

A PROCURA PELO DONO

A decisão de colocar a fotografia do dinheiro achado no Instagram e no Facebook foi bem rápida. Como entendedor de computação sabe do poder atual das redes sociais.

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Uma das postagens no Facebook. Procura pelo dono da carteira, documentos e dinheiro. Foto: Reprodução Facebook

A tática usada foi compartilhar a postagem  do achado no máximo de grupos de Teresina. “Galera achei essa carteira na (avenida) Miguel Rosa pertencente à Ramiro Benício da Silva. Consta documentos, cartão de crédito e R$ 407 e algumas moedas. Entrar em contato comigo para devolução”: essa foi a mensagem deixada. Uma fotografia bem nítida mostrava a carteira (preta e desgastes em roxo), uma cédula de identidade bem velha e uma carteira de motorista, além de 12 cédulas (sete de R$ 50, duas de R$ 20, e cada uma de R$ 10, R$ 5 e R$ 2).

Em menos de duas horas o namorado de um parente do dono da carteira viu a mensagem no Facebook, avisou o proprietário e eles contatou o analista de sistemas. Três horas depois a carteira já tinha sido entregue. “O dono já tinha feito boletim de ocorrência”, relatou Janiel Freitas.

Até então a mensagem já tinha sido compartilhada por mais de 500 pessoas e mais de outras 3 mil parabenizavam virtualmente a atitude do analista de sistemas. No Facebook cada vez mais usado para intolerâncias e problemas pessoais, o ato de honestidade era um dos assuntos mais comentados do dia em Teresina.

Os documentos e o dinheiro pertencem ao ex-vereador do município de Jerumenha (a 323 quilômetros de Teresina) Ramiro Benício da Silva.

APROVEITADORES USARAM MOMENTO DE SOLIDARIEDADE PARA TENTAR ENGANAR RAPAZ QUE ACHOU A CARTEIRA

Janiel conta como se livrou dos aproveitadores da situação. Foto: João Brito Jr./O Olho

Um dos pontos relatados por Janiel Freitas é que em muitos momentos alguns aproveitadores entraram em contato com ele, fingindo-se donos do dinheiro.

“Algumas pessoas entraram em contato comigo, pediram mais informações. Mas não diziam nada com nada. Sem nenhum dado da pessoa que tinha perdido. Era nítido que queriam me enganar”, revelou.

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Essa foi a terceira vez que Janiel Freitas encontrou algum objeto de valor e devolveu. Antes da carteira recheada de dinheiro achada nesta terça-feira o rapaz relata que tinha encontrado um iPhone (smartphone de última geração) na lanchonete McDonalds do cruzamento das avenidas Dom Severino e Nossa Senhora de Fátima, na zona Leste de Teresina.

“Entreguei o telefone para a atendente e deixei meus contatos. Horas depois apareceu a dona. Ela agradeceu muito”, disse, bem sorridente. Janiel Freitas também já tinha encontrado outro aparelho telefônico antes. O celular teve o mesmo destino: devolução ao dono.

O analista de sistemas diz que algumas pessoas o criticaram por não ter ficado com o dinheiro. “Em momento algum passou por minha cabeça de ficar. Fui criado para não pegar o que é do outro”, contou em uma tranquilidade quase franciscana, mesmo estando em um calor de quase rachar a cuca.

ADVENTISTA, FLAMENGUISTA, RECÉM CASADO E QUE QUER CONTINUAR TRABALHANDO COM COMPUTADORES

Janiel Freitas é teresinense. Também é membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. “Nasci na igreja”, conta. Frequenta o templo do bairro São Pedro, na zona Sul de Teresina. Diz se inspirar muito na Bíblia e que, apesar de estar lendo menos do que antes, não tem uma passagem preferida, mas o livro sagrado todo o inspira.

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Perguntado o que é honestidade ele disse que é ter caráter e amor ao ser humano.

Maior sonho? A realização profissional, na área de informática. Janiel Freitas é analista de sistemas recém-formado pela Associação de Ensino Superior do Piauí (AESPI). Ele trabalha na empresa de seu pai, que tem atuação no município de Picos (a 311 quilômetros de Teresina) e em atividades de sistemas para empresas da capital do Piauí.

A tão sonhada casa própria. Inauguração menos de 24 horas depois de ter achado a carteira. Foto: João Brito Jr./O Olho

Futebolisticamente adora o Flamengo. Mas seu tempo livre têm sido de ansiedade para receber sua casa, no bairro Planalto Boa Esperança, em Timon (MA – zona metropolitana de Teresina). O analista de sistemas casou no dia 19 de julho com a estudante de Farmácia Keyliane Freitas, 20 anos. Filhos? “Agora não”.

Prometeram entregar a residência do casal nesta quarta-feira, menos de 24 depois dele se tornar famoso por ser exemplo de honestidade. É a sua primeira casa. A casa própria. Mas os pedreiros, enquanto a reportagem de O Olho estava na residência nova do analista de sistema, mais prestavam atenção e se admiravam pelo ato do patrão do que propriamente dito trabalhavam.

Uma das últimas perguntas a ele foi se vale a pena ser honesto. “Sim, mais que vale, principalmente quando se é criado desde pequeno para se fazer isso. Meus pais sempre me ensinaram o que é certo”, reconheceu. “A honestidade é importante. Se 50% do mundo fosse honesto tudo seria bem diferente”, destacou.

Sobre política diz que espera que os políticos sejam mais honestos também. “Alguns desviam recursos públicos. Não estou satisfeito com a situação política do país”, analisou, dizendo que no ano passado votou para presidente no primeiro turno e no segundo turno votou em branco. “Fiquei desacreditado deles”.

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Em breve voltará a ser anônimo, mas o bairro, a igreja, os ambientes profissionais e a família de Janiel Freitas saberão que ali mora ou frequenta alguém que ajuda na construção de um mundo melhor e alguém que não atrapalha a honestidade no mundo, mas contribui e mostra que vale a pena ser honesto.

Fonte: O Olho, por Orlando Berti

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