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Carvoarias clandestinas destroem mata e árvores ameaçadas de extinção no semiárido

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Carvoarias clandestinas destroem mata e árvores ameaçadas de extinção no semiárido De São Raimundo Nonato e Várzea Branca

Carvoarias clandestinas instaladas por empresas de outros Estados estão destruindo a caatinga, mata e árvores ameaçadas de extinção no semiárido do Piauí.

Nos povoados Altamira, na zona rural do município de Várzea Branca (579 km de Teresina) e Lagoa das Flores no município de Fartura (534 km de Teresina) empresas de Minas Gerais estão erguendo clandestinamente carvoarias para a produção de carvão para mineradoras destruindo a mata da caatinga e árvores como aroeira e angico branco, ameaçadas de extinção.

Em Lagoa das Flores, foram erguidos 32 fornos de carvoaria clandestina e cinco ainda estão em construção. Em redor dos fornos da carvoaria só se tem destruição da mata nativa, de grandes árvores que foram transformadas em carvão e são abertas grandes clareiras na mata.

“Estão derrubando e destruindo emburana, angico, aroeira. Para eles, isso tudo vira carvão, mas quando derrubam essas árvores os nossos bodes ficam com fome, as abelhas não têm mais as flores para produzir o mel, que é uma fonte de renda. É uma coisa horrível que está acontecendo em nossa região”, afirma José Vasconcelos, presidente da Associação do Território de Lagoa.

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Em torno da carvoarias, os desmatadores fazem um espécie de um campo quadrado com as árvores derrubadas, que ficam secando e que mais tarde podem ser usadas para fazer o carvão. Sem fiscalização dos órgãos ambientais é possível localizar no povoado Altamira de Várzea Branca uma placa anunciando que é o local para a entrada e saída de caminhões com madeira ao lado de outra placa anunciando ser uma área autorizada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar) , em uma área de manejo de 1.844 hectares, de uma área total de 2.345 hectares. Mas a própria placa denuncia que o “Manejo Florestal Sustentável” autorizado pela Semar não é para o município de Várzea Branca, onde está sendo feita a operação, mas para a Fazenda Baixa do São Vitor, em outro município, em São Raimundo Nonato.

A placa também denuncia que a autorização para a exploração e manejo era para ser iniciado em 19 de julho de 2013 e com prazo de validade até o dia 19 de junho de 2014. A placa mostra que mesmo estando em local não autorizado, o plano de manejo e a extração da madeira já está com o prazo vencido. Um dos fornos da carvoaria já estava produzindo carvão na tarde de sexta-feira. O carvão já estava produzido e ainda quente dentro de um dos 32 fornos. O desmatamento na região é de grandes proporções.

O produtor rural Edno Santana de Jesus, do povoado Altamira, de 59 anos, de Várzea Branca, afirmou que comprou dez hectares de terras para produzir hortaliças que está vendo em São Raimundo Nonato e Várzea Branca há dez anos, depois de trabalhar em São Paulo e Brasília.

“O pessoal de Minas Gerais que instalou uma carvoaria disse que ainda estava esperando a autorização do órgão ambiental, mas estava ontem por aqui e derrubaram muitas árvores. Suspenderam agora porque disseram que estavam fazendo denúncias contra eles”, afirmou Edno Santana de Jesus, que se mudou de Brasília para Várzea Branca quando ficou viúvo.

 

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As carvoarias e as mineradoras estão tirando o sono dos habitantes tradicionais do semiárido. Pequenos fazendeiros, agricultores familiares, descendentes de indígenas, com os do município de Queimada Nova, comunidades quilombolas, formadas por descendentes de escravos. Eles estão indo de encontro, com protestos e caminhadas, contra um modelo econômico que quer explorar minérios e transformar a mata nativa em carvão porque acreditam, que vão os expulsar de suas casas e terras para morar na periferia das zonas urbanas de seus municípios destruindo sua cultura e modo de vida, baseado na agricultura familiar, na apicultura, na caprinocultura e na preservação do meio ambiente.

Um dos momentos dessa resistência às novas atividades econômicas que querem se implantar no semiárido do Piauí foi o Grito do Semiárido, realizado na sexta-feira, em São Raimundo Nonato (529 km de Teresina), por entidades ligadas à Igreja Católica como a Comissão Pastoral da Terra (CPI), Caritas, Sindicato de Trabalhadores Rurais, Associações de Pequenos Produtores Rurais, Movimento de Mulheres e estudantes.

A manifestação de sexta-feira reuniu mais de 2 mil pessoas nas ruas de São Raimundo Nonato contra o avanço das mineradoras e carvoarias na caatinga. “A reação é porque a mineração é uma alternativa que está sendo pensada e discutida para o semiárido do Piauí e isso vem trazer consequências para as políticas públicas que estão sendo desenvolvidas nesse mesmo território. Se tem projetos de mineração isso vai obrigar as famílias saírem de suas áreas e, em consequência, as políticas públicas não virão para essa área”, afirmou o coordenador da CPT no Piauí, Antônio Euzébio de Sousa.

Segundo ele, a mineração e a produção de carvão produzem impactos tão fortes que as famílias do semiárido terão que sair de suas comunidades e se estabelecerem em outras comunidades na periferia das cidades.

“É por isso que a mineração vai atingir as populações locais de forma impactante tanto ambientais como sociais. A mineração é desenvolvida de forma muito degradadora e impactante e não é possível conciliar com a preservação do meio ambiente e da forma como vivem hoje os agricultores familiares”, falou Antônio Euzébio de Souza.

Quase cego, fazendeiro recebe proposta de venda de suas terras para mineradora, que comprou 100 hactares por R$ 350 mil De São Raimundo Nonato Aos 80 anos, quase cego e precisando de dinheiro para poder ficar 15 dias em Teresina para conseguir finalmente um transplante de córnea, já adiada por três vezes mesmo tendo doadores porque não tinha como pagar a hospedagem em um hotel na capital, o fazendeiro Manoel Estevão, pais de 18 filhos que criou trabalhando como agricultor, diz que vem sendo assediado pela mineradora São Camilo para vender seus 100 hectares de terras que possui no povoado Percato, na zona rural de São Raimundo Nonato, que fica no corredor ecológico entre os Parque Nacionais Serra da Capivara e Serra das Confusões. Ele, porém, não viu vantagem no pagamento de R$ 350 mil que a mineradora São Camilo pagou em cem hectares do fazendeiro Raimundo Café, que já morreu e tinha poucos filhos para cuidar da fazenda.

“Eles (representantes da mineradora São Camilo) disseram que queriam comprar a beirada da Serra do Mel porque têm interesse na terra. Eu disse. Eu não sei porque estou morando aqui e se vocês acham que têm que me tirar daqui, têm que me pagar. Eu não vou sair daqui sem nada. Eles perguntaram: ‘seu Manoel, o senhor ia pedir quanto?’. Eu disse que não ia dizer quanto porque se eles querem comprar é que têm que dizer”, falou Manoel Estevão, acrescentando que sua fazenda é sua morada e que enfrentou muitas dificuldades por causa das sucessivas secas, mas agora o problema da estiagem foi atenuado porque ganhou da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva duas cisternas que garantem a água.

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Manoel Estevão afirmou que os representantes da mineradora São Camilo informaram que querem explorar ferro na Serra do Mel, “Já tem muitos poços perfurados. Até em cima do morro tem”, declarou Manoel Estevão.. Na Serra do Mel, onde fica o corredor ecológico entre os Parque Nacionais Serra da Capivara e Serra das Confusões. No corredor é por onde passam os animais silvestres de um parque para o outro.

Na região onde as mineradoras estão começando a comprar terras e fazer perfurações existem 119 comunidades quilombolas onde moram 1.500 famílias. A região atingida engloba os municípios de São Raimundo Nonato, São Lourenço, Dirceu Arcoverde, Fartura, Várzea Branca, Bonfim do Piauí, João Costa, São Francisco do Piauí, Currais e Simões.

“Nós estamos chamando a atenção das autoridades para o que está acontecendo em nossa região. Queremos buscar políticas públicas e para ter políticas públicas se precisar ter a existência do povo na terra. Do jeito que está com a região sendo ocupada pelas empresas, o povo vai deixar suas terras. Onde se instalam empresas de mineração, o futuro do povo é sair da região. Se não muda de Estado, muda sua vida inteira. Nós queremos ficar nos nossos municípios, em nossas terras”, declarou o presidente da Associação Territorial do Quilombo Lagoas, Cláudio Téofilo Marques.

Advogado vai entrar com ação contra instalação de mineradoras no corredor ecológico entre os Parques Nacionais Serra da Capivara e Serra das Confusões De São Raimundo Nonato O advogado Ciro Monteiro, do Coletivo Antônia Afonso de Assessoria em Direito, anunciou que vai impetrar na Justiça ação contra as mineradoras que estão fazendo perfurações na Serra do Mel, em São Raimundo Nonato, onde fica o corredor ecológico entre os Parques Nacionais Serra da Capivara e Serra das Confusões e em áreas de comunidades quilombolas.

“A mineradora que está atuando na Serra do Mel já está ilegal pelo fato de se tratar de um corredor ecológico e de uma área em que vivem quilombolas porque o órgão público não pode conceder uma licença para pesquisa e lavra de minérios sem antes promover uma audiência pública. Qualquer atividade econômica em áreas tradicionais, como a dos quilombolas, tem que ser precedida de uma consulta prévias às comunidades e isso não vem acontecendo. A União e o Governo Estadual têm se omitido na aplicação das normas”, afirmou Ciro Monteiro.
Segundo ele, as carvoarias também estão se instalando na região sem consulta às comunidades tradicionais e sem apresentação de seus projetos à Fundação Palmares, órgão federal que auxilia as comunidades.

“Para a instalação de carvoarias as comunidades têm que ser consultadas e na presença da Fundação Palmares”, declarou Ciro Monteiro.

O promotor regional ambiental de São Raimundo Nonato, Vando da Silva Marques, afirmou que após o Grito do Semiárido será elaborado um relatório sobre as atividades de mineração e de produção de carvão e tomando conhecimento desses fatos a Promotoria Regional Ambiental vai instaurar investigação sobre as supostas irregularidades.

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“A Promotoria Regional Ambiental vai instaurar investigação até para conseguir intermediar essas ações com os interesses das comunidades locais e tomar as medidas cabíveis”, falou Vando da Silva Marques.

 

Fonte: Meio Norte

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