GERAL
Plantas nativas são alternativas para alimentar o gado na Caatinga sem desmatá-la
Único bioma exclusivamente brasileiro, com uma área de 844.453 km² totalmente dentro do território nacional, a Caatinga é conhecida pelo seu clima semiárido, com poucas chuvas e secas prolongadas. Não é o que se poderia chamar de área ideal para pecuária, principalmente a extensiva. Por isso, a solução que parecia mais óbvia para a criação de gado na região – principalmente cabras e ovelhas – era desmatar as plantas nativas e substituí-las por pastagens artificiais. Um estudo da Embrapa Caprinos e Ovinos, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, mostrou, no entanto, que a melhor alternativa é deixar os animais se alimentarem da rica vegetação local.
Os pesquisadores recomendam a adoção do manejo sustentável da rica biodiversidade florística local, por meio de três técnicas: raleamento, rebaixamento e enriquecimento. O raleamento consiste no corte seletivo de vegetações de menor importância para que outras, de maior valor forrageiro e madeireiro, possam se expandir. O rebaixamento, por sua vez, é o corte da copa de árvores e arbustos mais altos para que fiquem acessíveis ao pastejo de rebanhos de pequeno porte (cabras e ovelhas). Já o enriquecimento baseia-se na introdução de espécies perenes na região, sempre precedida de estudos cautelosos.
Comida não vai faltar. “São mais de três mil espécies vegetais, nativas ou exóticas, que se combinam e formam a flora da Caatinga e podem servir de alimento para os animais”, diz a coordenadora da pesquisa, Ana Clara Rodrigues Cavalcante, pesquisadora da Área de Manejo Sustentável de Pastagens, da Embrapa Caprinos e Ovinos, localizada em Sobral (CE).
“Continentes como a Europa, por exemplo, não possuem uma diversidade tão grande como a deste bioma”, destacou.
Essas plantas vêm sendo identificadas e estudadas pelo Projeto Forrageiras para o Semiárido, uma parceria entre a Embrapa e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por meio do seu Instituto CNA (ICNA).
O ponto de partida para a pesquisa foi a constatação de que, durante os longos períodos de seca, a perda de rebanho era muito maior em regiões mexidas pelo homem do que em locais pouco alterados.
O trabalho serviu para confirmar cientificamente o saber popular: existem, no semiárido, muitas plantas indicadas para o consumo animal, dentre as quais se destacam as de gosto agradável aos rebanhos, fácil digestão e alto valor nutricional. As mais comuns incluem gramíneas (capins buffel, mimoso, massai e outros) e leguminosas (leucena, gliricídia, catingueira, moringa), além de outras vegetações como milho, sorgo e capim-elefante.
No projeto, são estudados vários tipos de forrageiras: anuais, perenes, lenhosas e cactáceas, em condição solteira (sem outras espécies por perto) e consorciada. De acordo com Ana Clara, essa estratégia é uma forma de garantir um suporte alimentar adicional e fundamental para a sustentabilidade da caatinga. Além disso, a presença de pequenas áreas de produção intensiva de plantas desse tipo, que servem de reserva estratégica para o período seco, garante o uso mais racional da comida nativa evitando a degradação do bioma.
O aproveitamento dessas espécies para alimentação do gado deve ser feito de maneira sustentável, no entanto, evitando a destruição de espécies da Caatinga e a sua degradação.
“O projeto tem como princípio a manutenção da biodiversidade da região, para que não faltem os alimentos necessários para os animais. A partir disso, como consequência espera-se que diminuam o desmatamento e as queimadas. Um primeiro passo é reconhecer o valor da biodiversidade para os sistemas pecuários e desse modo se possa produzir e gerar riquezas a partir do bioma”, diz Ana Clara.
Segundo a pesquisadora, o acréscimo de outras fontes alimentares – como sorgo e milho, por exemplo – para suplementar o que falta na Caatinga também contribui para o uso sustentável dos recursos naturais da região. “A presença de rebanhos de ruminantes faz parte do viver no semiárido. As pessoas dependem do seu gado e da Caatinga. Harmonizar as necessidades humanas ao ambiente é fundamental. O que buscamos com as pesquisas que temos conduzido são maneiras de favorecer as estratégias de resiliência da Caatinga, considerando as necessidades dos animais e das pessoas como parte do ecossistema”, disse Ana Clara.
Isso, segundo ela, sem esquecer a conservação do ambiente, evitando sua destruição.
Para desenvolver o projeto, existem 13 Unidades de Referência Tecnológicas (URTs), distribuídas em vários pontos do semiárido brasileiro, desde o norte de Minas Gerais, passando por todo o nordeste até o estado do Maranhão.
“Neste momento, o projeto encontra-se na fase de desenvolvimento, em que as coletas de dados estão intensificadas”, conta a engenheira agrônoma Ana Carolina Mera, assessora técnica do ICNA. “Paralelamente a isso, a Embrapa já vem analisando alguns dados preliminares obtidos durante o primeiro ano.”
De acordo com ela, o Projeto Forrageiras para o Semiárido busca contribuir para que os proprietários que criam gado nessa região tenham alternativas não apenas para conviver com a seca, mas para que sua atividade seja produtiva e sustentável.
“O nosso trabalho mostra que é possível o uso de espécies da caatinga como alimento para os animais, desde que seja feito o uso racional e sustentável deste recurso alimentar”, diz acrescentando que o manejo correto da Caatinga possibilita usá-la como comida para as criações e, paralelamente a isso, garantir a sua preservação.
Fonte: O Eco
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