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Várzea Queimada: Filme sobre povoado que criou linguagem própria tem estreia nacional no Recife

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Como se estivéssemos assistindo a um vídeo educativo, uma nova língua é ensinada por 18 surdos e mudos através de gestos e expressões faciais. Eles representam os 40 deficientes auditivos de Várzea Queimada, um povoado de 900 habitantes em Jaicós, Sertão do Piauí, que precisou desenvolver um sistema próprio de linguagem para se comunicar. Diante do alto índice de surdos-mudos em sua população, dificuldades no acesso à água e escassez de investimentos públicos, não tiveram acesso à aprendizagem da Libras oficial.

A narrativa é apresentada no filme Jogos dirigidos, do alagoano Jonathas de Andrade, produzido pela pernambucana Vanessa Barbosa e comissionado pelo Museu de Arte Contemporânea de Chicago. O longa foi exibido pela primeira vez no Brasil nesta quarta (6), no Cinema São Luiz. A sessão integra a programação da 12ª Janela Internacional de Cinema, que será realizada até o domingo no São Luiz e também na Fundaj/Derby, no recém-inaugurado Cinema da UFPE e no estreante Cinema do Porto Digital.

A exibição teve trilha sonora tocada ao vivo pelos músicos Thiago Duarte, João Carlos, Juliano Holanda e Homero Basílio, que assina a produção musical do filme. “Eu percebi que era uma comunidade sólida de surdos que tinha uma comunicação particular, cheia de vitalidade, energias positivas e viviam problemas clássicos do Sertão nordestino”, conta o diretor Jonathas, que reúne trabalhos nas artes visuais, fotografias e exposições em galerias e museus.

Foto: Reprodução/Jogos dirigidos

Jogos dirigidos é uma experiência de linguagem permeada por depoimentos improvisados de um elenco de não atores realizados em cenários da comunidade onde moram. As mensagens passadas pelos personagens não são, em sua maioria, traduzidas. Há, em alguns momentos, uma sistematização do léxico da Várzea Queimada apresentado a partir do gesto acompanhado da palavra que representa.

“A minha proposta é apresentar a narrativa através da visão dos atores, construída a partir da linguagem deles”, completa. O filme foi concebido por Jonathas após visitar Várzea Queimada há dois anos, a convite de Marcelo Rosenbaum, que desenvolve trabalhos há dez anos no Instituto A Gente Transforma, que dá assistência a projetos das trançadeiras da palha e agroflorestas.

Com auxílio da intérprete local, Marcilene Barbosa, o diretor lançou a proposta aos moradores, que toparam de imediato. Meses depois, retornou à cidade e gravou tudo em três dias, com o auxílio dos fotógrafos Ivo Lopes e Camila Freitas. Aproveitando o convite que o Museum de Chicago havia feito para ele realizar uma produção individual, Jonathas direcionou o invest imento do equipamento ao longa, que foi exibido pela primeira vez lá.

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O título do filme surgiu para Jonathas a partir de um livro didático homônimo encontrado na biblioteca de sua mãe. “Acabou sendo meu ponto de partida para sentimento de comunidade. Quando mergulhei no livro, eu vi que tinha muita relação com linguagem, então eu vi que era superradical a adaptação social com a particularidade de não escutar, a dificuldade com a adequação dos jogos e a necessidade de interatividade”, pontua.

De acordo com o diretor, a experiência com os atores foi surpreendente. “Eles abraçaram com todo carinho e espontaneidade, estavam entregues. E tudo fica comprovado na transparência dos relatos.”

Fonte: Diário de Pernambuco

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