Connect with us

Clicks do Mês

JAICÓS | Com uma história de amor, luta e dedicação, Dona Catô e Otávio Veloso são os personagens do Clicks do Mês de setembro

Publicado

em

Após uma pausa de 5 meses, devido a pandemia do Novo Coronavírus, o portal Cidades na Net está retomando o projeto fotográfico e social, Clicks do Mês. Belas histórias e registros especiais voltarão a estampar a página principal do site e também a emocionar e cativar os leitores.

Neste mês de setembro, Catarina de Lima Sousa e Otávio José Veloso Neto são os personagens da vez. Mãe e filho, moradores da cidade de Jaicós, eles têm uma longa história de luta, amor e dedicação. Contá-la detalhadamente é quase uma missão impossível, mas neste texto, o projeto Clicks do Mês, traz um pouco do que eles vivenciaram.

Catarina de Lima Sousa, que completa hoje, 84 anos de idade, nasceu na Gameleira, zona rural de Jaicós. Filha de Vicente Ferreira de Sousa e Josefa de Sousa Lima, dona Catô, como é mais conhecida, lembra que devido ao trabalho na roça, a família nunca chegou a enfrentar a fome.

“Todo mundo naquele tempo passava necessidade, só que fome nós nunca passamos, porque papai tinha 13 filhos e todos trabalhavam na roça. Feijão, milho e mandioca sempre tinha. Quando acabava o feijão a gente comia carne feito pirão, porque naquele tempo pobre não comia arroz, só na semana santa ou então quando adoecia. Meu pai era pobre e tinha esse “monte” de filhos, mas graças a Deus nós não passávamos fome” contou ela.

Aos 33 anos, Catarina casou-se com Rosendo Otávio de Sousa, que tinha 9 filhos. Com ela, ele teve mais dois, Otávio José Veloso Neto, hoje com 50 anos de idade, e Hermenegildo, que faleceu com apenas 11 meses de vida.

Publicidade

Dona Catô conta que sempre foi respeitada por todos eles. “Minha vida foi muita boa, graças a Deus. Ele tinha 9 filhos, mas eu fui respeitada até quando ele morreu. Eu ajudei a criar os filhos dele. Otávio também nunca teve discórdia nenhuma com os filhos dele. Os dois mais velhos foram embora cedo para Rondônia, mas os que ficaram, sempre foi na paz”.

Assim como viviam seus pais, dona Catô, ao formar sua família, também passou a viver do trabalho na roça. “A gente trabalhava da roça. Pra fazer a farinhada tinha vez que ele pegava até dinheiro emprestado, mas tinha farinha a vida inteira e a roça em todo tempo era que sustentava nós. Ele passava a semana todinha na roça, só vinha no fim de semana. A gente vivia da roça e eu também costurava de dia e de noite. Desde o tempo de meu pai que comecei a trabalhar, mas minha vida sempre foi boa”.

Sobre o filho que perdeu, dona Catô conta que ele nasceu com problemas, após uma queda que ela sofreu já no último mês de gestação. “Quando eu estava gravida de Hermenegildo eu gostava de colocar Otávio para dormir balançando. Aí eu deitei numa rede mais ele, a rede rasgou e eu cai com as costas no chão. Aí quando o menino nasceu foi sem ânimo, ele não ficava nem em pé. Após 11 meses ele morreu”.

Segundo dona Catô, a família não tinha condições para buscar um tratamento. “Nesses 11 meses que ele viveu ele nunca comeu comida, não urinava, nem ‘obrava’ sem tomar remédio. Era todo tempo tomando remédio e a gente era pobre não podia nem levar no médico. O povo era só falando para levar em Teresina, mas a gente não podia. Eu não sei se tinha jeito, porque ele já nasceu assim, mas como a gente não tinha condição, nunca levamos ao médico”.

Os filhos do casal nasceram com um ano de diferença. Em 69, primeiro ano de casamento, veio Otávio. No ano seguinte, chegou Hermenegildo, que logo teve que partir. “Otávio nasceu em outubro de 69, quando foi em 70 eu tive o segundo. Otávio era do dia 16 e ele do dia 18 de outubro do outro ano. Depois ei fui tendo umas percas e não tive mais. Pode-se dizer que de 6 em 6 meses eu tinha um (engravidava), mas perdia. Quando perdi Hermenegildo foi difícil, mas com a casa cheia de gente, as preocupações, logo tive que superar” disse Catô.

Publicidade

26 anos depois, em 1995, Catô sofreu mais uma perda. Agora, partia seu companheiro, a pessoa com quem ela dividiu tristezas e alegrias. “Ele deu derrame 3 vezes. No último eu levei ele para o hospital, passou 18 dias, aí ele morreu” lembrou. Após a morte de Rosendo, dona Catô seguiu morando com os filhos dele.

No ano de 2008, Catarina começou a travar mais uma luta, após sofrer uma queda e quebrar a perna. “Eu criava gatos. Aí no dia que eu completava ano, fui bem cedo nos frigoríficos pegar pele para os gatos. Aí eu fui ferventar, acendi o fogo, coloquei a panela, aí quando fui pegar água do outro lado muro eu caí. Aí chamei Alan para me ajudar, ele disse que não podia comigo, aí chamou Otávio e os dois me colocaram na cadeira. Elguinha estava na feira das criações, aí quando ele voltou ligou para Dr. Benedito e ele disse para me levar para a clínica”.

Ao chegar a clínica, o médico disse que seria necessário um procedimento cirúrgico. “Quando chegou lá e Dr. Benedito me viu ele disse “quebrou a perna, vai logo para Picos”. Eu disse que não tinha como ir, ele disse que tinha que ir, aí Elguinha foi comigo. Quando chegou lá o doutor disse que tinha que operar. Eu perguntei quanto era e ele disse que era 7 mil. E eu pensei “onde é que vou achar 7 mil de uma vez assim’. E ele disse que ainda tinha que vir a peça do Crato, Fortaleza ou Teresina. Eu disse que não tinha como trazer, mas Elguinha ligou para Bené e ele mandou trazer a peça. Passamos uns dias esperando. Otávio quase todo dia ligava para saber se já tinha chegado, até que no dia 23 a peça chegou. Aí quando a moça ligou dizendo que podia ir eu fui e operei. Caminhei de bengala por uns 2 anos, que quebrei até um braço. Aí a peça saiu de novo”.

Com o problema se repetindo, Catarina teria que fazer uma segunda operação, com o custo ainda maior. “Fui de novo para o doutor aqui, fui para Teresina para fazer outra operação. Quando cheguei lá perguntei ao doutor quanto era e ele disse que era 13 mil. Aí eu disse “como é que eu vou gastar 20 mil só com uma perna, aí quando precisar de outra coisa, vou gastar o que”. O médico disse “a senhora é quem sabe”, aí eu voltei para a pensão e vim para cá. Nesse dia eu fui para Teresina com Ozanam, aí ele disse para não me preocupar, que depois do carnaval ia me levar para operar. Ele me levou mesmo e eu operei”.

Em uma sina que parecia não ter fim, Dona Catô, após 2 anos, por mais uma vez enfrentou a mesma situação. “Quando foi com 2 anos de novo a peça soltou. Fui para o doutor e ele disse que tinha que ir para Teresina e eu disse que não ia de jeito nenhum. Aí mandei chamar Dr. Benedito e disse para ele “Benedito o doutor disse isso, mas não vou para Teresina porque eu não tenho esse dinheiro. E eu já fiz duas vezes, se não segura essa platina é porque os ossos não prestam”, contou ela.

Publicidade

Já tendo enfrentado o desafio de duas cirurgias e percebendo que o problema persistiria, ela decidiu não realizar mais procedimentos. “Quando eu fiz a segunda eu pensava que não escapava. Passei não sei quantas horas na cama para recuperar e poder ir para o quarto. Eu só faltei morrer nessa e pensei “o que que eu vou fazer mais lá”. Aí eu não fui. E estou aqui dando trabalho, mas é melhor do que ir sofrer nas mãos dos médicos” disse ela. No ano de 2014, Dona Catô passou a viver apenas com Otávio, a mais importante herança que Rosendo lhe deixou. O filho que Deus permitiu que permanecesse com dona Catô, se tornou seu porto seguro. “Eu agradeço a Deus por ter me dado Otávio, porque se eu não tivesse ele eu já tinha ido ou vivia por aí sozinha” diz dona Catarina.

Hoje, os dois protagonizam uma relação admirável. Juntos, eles seguem compartilhando batalhas, alegrias e principalmente, o amor, que se manifesta no cuidado, atenção e companheirismo diários.

Otávio, ao compartilhar suas lembranças, disse que após o acidente da mãe, sua rotina mudou totalmente. “Na época que mãe caiu, no dia do aniversário dela, eu fazia faculdade em Picos e foi bem complicado, porque ela ficou bastante tempo na cama, imobilizada. Eu tinha uma vida social normal, mas partir daí tive que mudar totalmente a minha rotina. Eu até saia, mas com hora para voltar porque não podia deixar ela só. Eu saio para trabalhar também, mas nunca posso me estender. E desde 2008 é assim”.

Demonstrando gratidão, ele falou que conta com a ajuda de muitos amigos. “Mas sempre conto com a pessoa que nos ajuda aqui e tenho a sorte de contar com a ajuda da vizinhança, de amigos, como Arudá, que às vezes quando vou a um aniversário, fica aqui com mãe para fazer companhia. E tenho sorte também de ter conseguido adaptar minha profissão para trabalhar em casa. Hoje em dia eu tenho três profissões, jornalista, fotografo e cuidador. E sou dono de casa, porque a responsabilidade da casa é toda é minha”.

Sempre preocupado e adaptando sua vida ao cuidado com a mãe, ele disse que alguns não entendem sua realidade, mas, mesmo assim, ele segue tendo dona Catô como sua prioridade. “E as pessoas as vezes não entendem minha cobrança por pontualidade, meu cansaço. As vezes levo nome de acomodado, que não tenho gana para correr atrás das coisas, mas é porque a minha realidade é diferente. Minha prioridade hoje é minha mãe, independente da minha vida, do meu trabalho ou de qualquer outra coisa. Porque somos só nós dois, ela conta comigo e eu conto com ela”.

Publicidade

Ele disse que tudo que faz pela mãe é por amor. “Mas Deus tem ajudado até aqui e a vida segue. E eu não faço nada por obrigação, mas porque ela é minha mãe. Ela é minha família, sou filho único dela e ela tem só a mim. Mas não é pelo fato de ser o único filho que faço isso. Ela fez tudo por mim a vida toda e eu agora faço por ela. Não é forçado, faço porque ela é a pessoa mais especial no mundo para mim”.

Otávio ainda falou que conta com a mãe para tudo, e que ela sempre foi uma amiga. “A gente adquiriu o habito de ser amigo, é com ela que conto para desabafar, para tudo. A vida toda ela sempre foi mais que mãe, foi sempre uma amiga. Ela é amiga dos meus amigos também e a prova é que eles sempre estão aqui, porque ela sempre foi amiga deles. Com a gente não tem essa história de “ah não deixa tua mãe ver isso, não fala essas coisas para ela”, porque a gente fala sobre tudo. Eu só agradeço a Deus pela mãe que eu tenho”.

Por fim, Otávio também falou do pai, e disse que dele, só guarda boas lembranças. “Meu pai era muito fechado, mas tenho uma boa lembrança dele. Nunca na vida eu vi pai levantar a voz com mãe, eles tinham um relacionamento muito legal. Ele era duro com a gente, mas com mãe não. E eu vou guardar isso para sempre e para mim é isso que vale, a lembrança boa dele” finalizou.

Confira o ensaio do Clicks do Mês de setembro: 

Publicidade

Facebook

MAIS ACESSADAS