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Clicks do Mês

PADRE MARCOS | Clicks do Mês retrata o orgulho e aceitação na história da jovem negra Eliclésia Silva

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Aceitação e orgulho da raça, do cabelo, das raízes, é o que hoje marca a história da jovem Eliclésia Silva Lima, 22 anos, que em homenagem ao Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, participa do projeto Clicks do Mês.

Eliclésia é da cidade de Padre Marcos, onde mora com os pais, Francinete Teresa da Silva e Eliésio Francisco de Sousa, e a irmã Eloá Silva Lima. Formada em História por uma instituição de Araripina, Pernambuco, trabalha como professora no povoado Riacho do Padre, zona rural do município.

De família humilde, mas forte e batalhadora, Eliclésia, com muita luta, conseguiu uma formação superior. “Conclui o ensino médio com 17 anos e já entrei na faculdade. Ganhei duas bolsas de estudo, uma pela Secretaria de Educação de Araripina e outra já pela faculdade mesmo. Essa primeira iniciou com 100%, depois ficou somente em 50. Aí a maior parte da minha faculdade a gente pagou com muita luta, porque sempre foi a minha mãe, minhas duas avós, tias, cada um ajudava um pouco. Morei 3 anos em Araripina. A segunda bolsa foi de 100%, a faculdade pagava meu curso e eu atuava como guia em um memorial que eles abriram” disse.

A jovem historiadora disse que foi difícil, mas com a ajuda da família conseguiu concretizar um sonho. “Conclui o curso com muita luta. No começo foi muito difícil, não tinha transporte, depois tinha, mas o prazo de inscrição já tinha acabado, tive que fazer dois vestibulares. Comecei indo no transporte e no segundo mês já custava quase 400 reais e aí não tinha como porque meus pais não tinham emprego. Aí foi que passei a morar em Araripina com uns conhecidos da minha tia. Eles me acolheram. Esse último ano de faculdade foi com a ajuda de cada um, se não fosse minha família não sei o que seria de mim” contou.

Além de ter vencido estudantil e profissionalmente, Elicésia também venceu a insegurança e tem quebrado a barreira do preconceito, desde que, corajosamente, decidiu soltar suas madeixas e usar o cabelo da forma natural.

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Na adolescência, ela usava química no cabelo e relata que ao contrário de hoje, antes não existia tanta representatividade e exemplos de mulheres que assumiam sua real identidade. “Quando eu era mais jovem a gente não tinha os exemplos que temos hoje, uma rede inteira de blogueiras, negras de cabelos cacheados, que influenciam e tem representatividade. Meu exemplo de mulher negra era minha mãe, mas na minha família sempre me disseram “você é negra, não é melhor que ninguém, nem pior”. Então eu sempre tive essa convicção de que podia fazer o que eu quisesse, independente da minha cor e situação financeira”.

Somente aos 18 anos foi que ela decidiu iniciar o processo de transição capilar para voltar a usar o cabelo natural. “Quando comecei a deixar o cabelo natural crescer foi influência da minha tia Marleide.  No começo eu não queria porque ninguém aqui usava. Aí minha tia fez texturização no cabelo da minha irmã, que nunca gostou de usar química, e quando vi decidi fazer. Ela foi uma influência muito boa para mim. Desde esse dia uso ele somente natural”.

Quando decidiu mudar, Eliclésia enfrentou o que a maioria das mulheres negras, crespas ou cacheadas, vivencia até os dias de hoje, o preconceito. “Eu fui uma das primeiras pessoas a assumir o cabelo aqui, então no começo eu usava baixinho, porque via os olhares das pessoas para mim e eu não gostava de chamar atenção, não mudei o cabelo para chamar atenção. Mas eu percebia muito os olhares das pessoas, a gente sempre percebe. Os comentário não chegavam diretamente a mim, mas via as pessoas falando quando virava as costas” contou.

Eliclésia enfrentou a temida transição capilar, processo onde os cabelos ficam com duas texturas e, muitas vezes, é difícil lidar com a situação e enfrentar os olhares tortos e comentários negativos.

A jovem conta que foi um período difícil e que só não desistiu pelo apoio da família. “Foi um tempo muito difícil, porque são muitos comentários em um momento que você está com sua autoestima lá em baixo. Pode até parecer uma coisa boba, porque a gente pensa “é só cabelo, cabelo cresce”, mas para uma mulher cabelo é muito importante, uma parte fundamental para a autoestima da mulher e naquele processo que você está com o cabelo em transição, com as pontas finas e a raiz volumosa, foi muito complicado para mim, só não desisti porque tinha muito apoio da minha mãe, minhas tias, todo mundo dentro de casa” contou.

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Os piores momentos ela enfrentou na própria cidade. Em Araripina, onde cursava História, ela foi acolhida, mas em Padre Marcos, teve que conviver durante muito tempo com o estranhamento e transformar seus dias em batalhas contra o preconceito.

Ela relatou que as pessoas julgavam muito, sem saber qual sua situação. “Lá em Araripina meus colegas gostaram muito, mas quando eu chegava aqui era tudo diferente, dava vontade de alisar o cabelo só quando eu estava aqui e lá ficar de cabelo cacheado. O pessoal encara muito, julga muito sem saber a situação que a pessoa está. Às vezes você está “lá em baixo”, aí vem uma pessoa e diz um comentário ruim que te deixa ainda pior. Mas a minha transição foi um tempo em que mudei muito” disse.

Mas, apesar de todo os obstáculos, a transição capilar foi para a jovem uma fase única de mudanças, descobertas, não apenas sobre seus cabelos, mas também de como se sentir em relação a sua autoestima.

Ela relata que mudou não só o cabelo, mas as atitudes. “Foi uma fase na minha vida que hoje agradeço muito, porque eu mudei meu pensamento, forma de vestir, minha atitude. Hoje, graças ao meu cabelo, à fase de transição, eu sou uma pessoa melhor, mais consciente da minha beleza, da beleza das outras pessoas. Quando quero alisar eu vou lá e faço, é algo que eu posso fazer por escolha, não mais por influência” destacou.

Agora, Eliclésia parece mais feliz e cheia de vida. A aceitação de suas raízes mudou não somente sua aparência, mas também seu coração. Usando o cabelo “black power”, trançado ou até mesmo escovado, ela se sente livre.

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Hoje, ela ainda enfrenta algumas situações, mas a maioria dos olhares, que antes eram de julgamento, se transformaram em olhares de admiração pela jovem que exibe com orgulho sua beleza natural e características de um povo batalhador.

Com os registros do Clicks do Mês de novembro, inspire-se:

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