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“Mamães coragem” em tempos de Covid-19

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Para o piauiense Torquato Neto e o parceiro de música Caetano Veloso em interpretação de Gal Costa, “ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos”. A bela canção, registrada no épico álbum colaborativo “Tropicália ou Panis et Circencis”, marco do Tropicalismo em 1968, retrata a relação maternal em tempos de dificuldade e do distanciamento provocado por mudanças na relação entre mãe e filho.

Hoje, a música poderia traduzir bem um distanciamento lúgubre que acabamos vivendo por conta do novo coronavírus. O distanciamento que obriga as mães a ficarem em casa com os filhos pequenos, lutando contra o ócio diário daqueles que são cheios de energia. A propósito, o maior número de habitantes de Teresina é formado por crianças.

Neste paralelo, no Dia das Mães, não adianta meramente “pegar os panos para lavar e ler um romance”. As mães terminam se desdobrando, além das fibras do coração, para dar conta da vida profissional, das tarefas domésticas e dos filhos inquietos, trancados dentro de casa por conta da pandemia que veio da China e hoje abraça o mundo inteiro. “Braços de ouro [de mãe] valem 10 milhões. Tenho corações fora do peito… Mamãe, não chore, não tem jeito”.

A mamãe Renata Costa, por exemplo, tem a sorte de ter um quintal grande para os filhos correrem e gastarem a energia juvenil. No entanto, ainda assim há dificuldades por conta do isolamento social. Ela é mãe da Maria Fernanda, de 9 anos, e do Italo Alves da Costa, de 8. “Eles ficam ansiosos, querendo sair e a gente tem que ficar todo tempo olhando e tomando cuidado para que não desobedeçam. Também tem que tomar cuidado com a higiene por causa do vírus”, explica.

Renata é mãe da Maria Fernanda, de 9 anos, e do Italo Alves da Costa, de 8 | FOTO: LUCRÉCIO ARRAIS

Com as tarefas de casa em dia, encaminhadas via internet pela escola que os meninos estudam, sobra tempo para brincar. “A escola mandou umas tarefas, a gente está fazendo devagarinho, cada uma por dia. Eles também mandaram livros, que a gente baixa e coloca para eles lerem. Aí depois é só brincar no quintal mesmo”, conta Renata.

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Exemplos até na hora da higiene

A preocupação de Renata com os filhos em relação à higiene por causa do vírus é a mesma de milhares de mães. Para a psicóloga clínica Denisdéia Sotero, cultivar hábitos de higiene com as crianças depende do exemplo que é dado pelas mães e, claro, pelos pais também. “É possível, sim, cultivar bons hábitos de higiene em crianças pequenas. Uma maneira fácil de fazer isso é realizando essas atividades de maneira prazerosa, de modo que a criança goste de realizar a atividade. É manter a rotina de higiene, enfatizando a importância disso, lavando as mãos junto com eles. Além disso, é importante realizar o procedimento na frente deles, dando o exemplo”, explica.

A psicóloga defende um diálogo franco com as crianças no que diz respeito à gravidade da doença. “As crianças são muito antenadas. Elas sabem o que está acontecendo, mesmo que ninguém fale ou elas perguntem. Houve uma grande mudança na rotina. Elas estão em casa, as escolas pararam, precisam usar máscara. A TV e as redes sociais só falam em coronavírus”, reflete.

A melhor forma de abordar o assunto é ir direto ao ponto, em rodeios.  “No entanto, deve haver uma conversa de pais para filhos, de forma simples, lúdica e direta. Sem mentiras. Muitos pais camuflam muito, coisa que aumenta o medo. É preciso explicar que o cuidado evita que as pessoas fiquem doentes. A conversa com a criança diminui os medos e conflitos”, acrescenta Denisdéia Sotero.

Com filhos pequenos, desafios aumentam

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A advogada Záira Amorim é mãe de primeira viagem e precisou aprender muito para enfrentar a pandemia com a filha, a pequena Heloísa de apenas um ano. “Ser mãe de primeira viagem é um misto de alegria e insegurança. Você planeja tudo, mas sabe que não está no controle de nada. A cada dia é uma descoberta nova. São alegrias, muitas responsabilidades, mas a certeza de que está fazendo o melhor para educar e dar amor”, conta.

Nesse período de Covid-19 os desafios são muitos. “O pior de todos é o distanciamento familiar.  Ter que evitar o contato físico com quem mais amamos é muito difícil. Mas a tecnologia tem ajudado as famílias a manter o contato por vídeo. Tenho certeza que sairemos desse período mais fortalecidos de amor”, considera.

Záira Amorim fala em misto de alegria e insegurança

A advogada conta que o Dia das Mãe sempre foi especial. “É sempre uma felicidade celebrar com aquela que nos deu a vida e muito amor. Agora sendo mãe essa comemoração é em dobro!”, exclama.

Outra mamãe de primeira viagem que sempre valorizou a data é Nara Monteiro, mãe da Heloísa, que acabou de nascer. “Neste ano mais ainda já que com a quarentena estou passando essa fase de puerpério com ajuda, principalmente, da minha mãe, me ensinando que antes de ser avó ela é mãe. Ao mesmo tempo que me ajuda com a minha filha, cuida de mim nesse momento tão delicado e difícil”, relata.

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Nara, mãe da recém-nascida Heloísa, vive turbilhão de emoções

Enfrentar a pandemia em família é um desafio. “É algo novo, minha vida mudou completamente, acompanhando novos medos, dúvidas e aprendizados. Não é fácil mas vale a pena. Muitos planos que foram e estão sendo mudados, como não poder fazer chá de fraldas, mudar o parto para cesárea para evitar os contratempos, e considerar um privilégio por poder prevenir a falta de profissionais, equipamentos e até leitos no caso de um parto normal e ela ainda não ter conhecido o pai que vinha do Rio Grande do Sul para conhecê-la e teve o vôo cancelado sem ter previsão de uma nova data. Ainda não sei como ficará o registro dela também. Não poder receber visitas e apoio próximo da família e dos amigos. Além disso é provável atrasar os planos de nos mudarmos pra ficar perto do pai dela”, explica.

Futuras mães vivem dilemas neste período 

Rebeca Dias é farmacêutica, tem 27 anos e muitos sonhos pela frente. Um deles é o nascimento da filha, a pequena Sarah Morais Dias, que vem aí coberta de muito amor. “A pandemia e o isolamento social tem sido um desafio para todo mundo. Em outros países as pessoas estão habituadas a passar por problemas como terremotos, tsunamis, guerras, aqui no Brasil na nossa história recente não tivemos que passar por nada parecido, o que aumenta o pânico, dificulta nossa forma de lidar com essa situação, que por si só já é complicada. A gravidez é um período que exige muitos cuidados com a mulher, exige muitas idas aos laboratórios para fazer exames, exige muitas idas ao médico e hoje esses locais são enormes fontes de contaminação, o que nos leva em alguns momentos a negligenciar os cuidados da gravidez em prol de evitar problemas maiores de uma doença desconhecida, com efeitos que não se pode mensurar em gestantes. Não somente eu, mas outras amigas gestantes estão evitando tomar as vacinas, ir pras consultas e fazer exames para evitar exposição”, explica.

Apesar das dificuldades, Rebeca conta que este é um momento que ela sempre esperou. “Sempre sonhei com o meu primeiro dia das mães grávida, em um almoço, com muito amor, muita alegria e muita comida. Fico triste por pensar que tudo tem sido diferente do que planejei, que possivelmente terei que passar sozinha, mas momentos assim servem para nos ajudar a ressignificar as datas, os momentos. Acredito que depois que tudo isso passar iremos festejar as datas comemorativas com mais afetividade”, considera.

A Covid-19 levou Receba a optar pela cesárea, assim como fez a mamãe Nara. “Sempre imaginei meu parto normal humanizado, acredito que seja o melhor para a mãe e para o bebê. Quero muito que seja através de parto normal, mas se não for possível mais uma vez, como em tudo durante esse momento, irei tentar fazer da melhor forma para que ao final tudo fique bem. (L.A.)

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Fonte: Meio Norte / Blog do Lucrécio Arrais

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