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PICOS | A ressocialização como agente transformador de vidas para os privados de liberdade

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Vários livros, filmes, séries e reportagens especiais retratam de forma detalhada a vida de quem já esteve ou está com a liberdade privada. Mas, a realidade do cotidiano de uma penitenciária é difícil de ser mensurada por quem não a viveu. Principalmente quando se trata de um sistema carcerário deficiente, caracterizado pela superlotação de celas, insalubridade e ausência da garantia dos direitos básicos do ser humano como são, em grande maioria, as penitenciárias do Brasil.

Mas é através desses depoimentos, diretos ou indiretos, que é possível ter noção do que acontece por trás dos altos muros, cheios de guaritas, de um presídio. Seja ele no interior de um estado ou em uma metrópole.

E como se vê, nessas produções, há uma necessidade gritante que atende pelo nome de ressocialização. A falta de profissionais próprios, recursos e até de interesse de muitas gestões presidiárias ou dos próprios detentos, dificulta este que é um trabalho indispensável na vida de quem já não possui mais sua liberdade.

Grande parte dos presidiários, quando saem de suas penas, retornam às ruas com o intuito de continuarem seus crimes, por querer ou por falta de oportunidade. Detalhar os motivos de ambos os casos é algo que tornaria este texto demasiadamente longo e, até, poderia desviá-lo do foco, que é a Penitenciária José de Deus Barros, localizada na cidade de Picos, a 320Km de distância da capital do Piauí, Teresina.

Criado na roça, o agricultor de iniciais J.G.L, disse ter encontrado em meio ao caos da prisão, algo para aliviar sua mente, algo com que já tinha costume de lidar rotineiramente, antes de ser preso: o cultivo. Ele é quem prepara a terra, planta as sementes, cuida e depois colhe o fruto de seu esforço na mini horta da Penitenciária José de Deus Barros.

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“Esse trabalho foi ensinado por um professor da universidade que veio dar aula para a gente. Ele passou um ano nos acompanhando. Quando ele não vinha, mandava os alunos. Nós aprendemos e estamos com essa horta aqui. Eu já sabia porque sou da roça. Sempre soube manejar essas coisas da roça. Mas ele nos ensinou coisas novas e estamos continuando com esse trabalho”, comentou.

Lá são plantadas melancias, berinjelas, batata doce, beterraba, morango, cheiro verde, cebolinha, cebola, erva doce e muitas outras plantas para o consumo dos próprios detentos.

O detento relatou ainda que trata o trabalho como um passatempo, ocupando, assim, boa parte de seu dia. “É um passatempo para a gente, é bom demais para a gente se entreter. Aqui mesmo eu começo às 06h00 e termino às 10h00, e à tarde volto para aguar. É que nem em uma roça: que chova ou faça sol, a gente tem que estar dentro dessa horta”.

Segundo o diretor da penitenciária, Sinval Hipólito, um dos pontos fortes de sua gestão é a tentativa de ressocialização dos detentos, especialmente no ensino de novas profissões, para que, quando cumprirem suas penas, saiam de lá com algo a oferecer para a sociedade e que traga dignidade às suas vidas.

“Aqui nós temos uma grande preocupação com a ressocialização de cada detento dessa unidade prisional. Temos aqui 75 detentos que participam de nossa sala de aula, e isso traz um benefício muito grande para eles. Temos a leitura livre, que é outro benefício onde eles leem e fazem suas impressões pessoais sobre o que leram, gerando mais arte. Temos uma mini horta que tem ocupado a mente de nosso detento. Tivemos cursos de pastelaria, panificação e administração. Ou seja, sempre nos preocupamos com os benefícios para o apenado. Além disso, temos encontros com grupos católicos e evangélicos, que cuidam da parte espiritual daqueles que querem participar”, disse o diretor.

Sinval Hipólito, Diretor da Penitenciária Masculina de Picos

Ele relatou ainda que esteve em contato com o Ministério Público para que entrassem em acordo sobre a diminuição da pena dos detentos que participam da oficina de artesanato.

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“Recentemente tivemos um entendimento com o Ministério Público para que eles [detentos] sejam beneficiados com o artesanato que produzem. Ou seja, a pena daqueles que participam, será revista e terão uma diminuição. E isso pedimos para outros cursos que eles participam aqui dentro também”, frisou.

Todo o material produzido é revertido para os próprios detentos. “A panificadora da unidade é liderada pelos próprios detentos, com café para eles próprios, para os agentes penitenciários e policiais militares”.

Sinval Hipólito declarou que não é de seu trabalho apenas monitorar as pessoas privadas de liberdade dentro daquelas quatro paredes, mas promover ações que deem a elas autonomia para saírem da prisão e começarem a vida do zero, com dignidade, com capacitação em determinadas profissões que podem lhes dar uma nova chance de vida.

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