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Médico alerta que tratamento precoce só atrapalha

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Em entrevista ao Jornal Meio Norte, o médico pneumologista Alexandre Kawassaki, doutor na área pela Universidade de São Paulo e que atua em diversos hospitais de São Paulo, como Hospital 9 de Julho, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital AC Camargo e Hospital das Clínicas, faz um alerta ao povo brasileiro: é preciso esquecer o negacionismo e o tratamento precoce para um combate efetivo contra o novo coronavírus.

O médico acredita que o caos na saúde brasileira tende a diminuir em algumas dolorosas semanas, mas que é possível que o país enfrente uma terceira onda em seguida. “Houve e ainda vai haver muitas mortes, muitas delas evitáveis. Deveríamos ter investido em saúde nas épocas mais prósperas, assim como encarado essa doença de frente, sem negacionismo, nos dias atuais. O problema é que, se não tomarmos as devidas medidas com urgência, possivelmente viveremos esse caos novamente em uma terceira onda da doença”, considera o profissional da linha de frente.

Cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D. Esqueça o ‘kit Covid-19’ se quiser salvar a própria vida. “O tão falado ‘tratamento precoce’ tem se mostrado ineficaz nos diversos estudos científicos, tanto para prevenção quanto para doença instalada. A única medicação estudada até agora que mostrou redução tanto dos quadros graves quanto da mortalidade foi a dexametasona, um corticoide, quando utilizado em pacientes dependentes de oxigênio. A medicação com melhor resultado é o corticoide, que deve ser usado sempre após o 7º dia de doença e prescrito pelo médico de confiança”, alerta o pneumologista.

Kawassaki reforça que a ciência tem sido a maior aliada da humanidade na guerra contra o vírus. “Nunca se estudou tanto e tão rápido uma mesma doença na história da humanidade, mas ainda assim sabemos muito pouco sobre ela. O vírus é de RNA, o que confere uma capacidade de mutação elevada, com alta transmissibilidade e níveis de letalidade elevados quando se compara com outros vírus causadores de resfriado comum. E esse é o grande diferencial em relação a outras viroses: quadros clínicos indistinguíveis de uma gripe ou resfriado, com desfechos que podem variar desde resolução espontânea sem maiores problemas até quadro respiratório grave com morte do paciente. Hoje conseguimos definir melhor a forma de transmissão, principalmente através de secreções respiratórias durante contato com pessoas doentes”, acrescenta.

O médico explica que o principal meio de profilaxia é o uso adequado da máscara. “A transmissão através de fômites [objetos contaminados] pode acontecer, mas é muito mais rara. O uso de máscaras, especialmente as cirúrgicas ou N95/PFF2, confere proteção importante ao portador, muitas vezes eliminando o risco de contaminação, mesmo durante o contato com portadores de Covid”, aponta.

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O futuro está em biomedicamentos, que reforçam o sistema imunológico contra a doença. A tecnologia ainda não está disponível para os brasileiros. “Medicamentos biológicos que imitam anticorpos contra o coronavírus parecem reduzir a chance de quadros graves quando utilizados no início da doença em pacientes de alto risco, mas infelizmente essas drogas não existem no Brasil. Há outras medicações promissoras em estudo, como soro de convalescente, anti-inflamatórios potentes e antivirais, todos ainda precisando de mais estudos para definir sua real eficácia”, considera o médico pneumologista Alexandre Kawassaki.

As vacinas também são muito importantes nesse processo. “Já há várias vacinas aprovadas na prevenção da doença, mas dispomos no Brasil de apenas duas: Covishield, da AstraZeneca com a Universidade de Oxford e Fiocruz, além da Coronavac, da Sinovac com o Butantan. Já há publicações científicas com a Covishield mostrando benefício na redução da COVID e, principalmente, dos quadros graves. Os imunizantes aparentemente mais promissores são as vacinas de RNA, da Pfizer e da Moderna. Em Israel, onde a vacinação está muito acelerada com a vacina da Pfizer, houve uma redução importante do número de casos de COVID, mostrando uma eficácia realmente boa”, revela o médico.

O médico pneumologista Alexandre Kawassaki explica que os cuidados com o paciente são mais importantes que as drogas utilizadas no tratamento. “Esses pacientes devem ser tratados em regime hospitalar devido o risco de deterioração rápida do quadro clínico. Suporte com oxigênio, fisioterapia, tratamento com corticoide e anticoagulante compõem a base do tratamento. Os quadros graves devem ser tratados em UTI, com suporte de oxigênio, modos respiratórios avançados, corticóide em altas doses, anticoagulantes e, em casos bem selecionados, uma medicação antiinflamatória mais potente, contra uma substância do nosso corpo chamada interleucina-6. O suporte de vida é algo essencial, assim como a expertise da equipe multiprofissional em cuidar de casos tão graves. Muitas vezes os cuidados com o paciente são mais importantes que as medicações em si”, considera.

O distanciamento social e uso de máscara reduziram também outras doenças respiratórias infecciosas. Mas as pneumonias cresceram entre os doentes com Covid-19. “Na verdade, o distanciamento social, uso de máscara e higienização frequente das mãos previne contra gripes e pneumonias, de forma que houve uma redução de outras infecções respiratórias como um todo. O que temos visto é uma alta frequência de pneumonia nos pacientes que têm Covid grave, pois há uma redução da imunidade tanto pela doença quanto pelo tratamento, que predispõe ao surgimento de uma nova infecção pulmonar além da Covid. Em geral infecções virais predispõem o surgimento de infecções bacterianas, mas a Covid grave em especial parece predispor mais ainda a proliferação de bactérias no pulmão”, aponta Kawassaki.

Vacinação é o mais importante

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No entanto, independente da fabricante, todos devem ser vacinados assim que forem convocados pelo Ministério da Saúde. “Devido à gravidade da Covid ser maior que a gripe, devemos priorizar a vacinação contra a Covid no momento atual, muito embora a vacina contra gripe vai ajudar a reduzir a demanda por avaliações médicas e internações por problemas respiratórios no Brasil”, considera o médico do Hospital Albert Einstein.

O médico já tomou a vacina, mas lembra que mesmo após a imunização os cuidados são os mesmos. “Eu já me vacinei, mas mesmo assim continuo tomando todas as medidas para me proteger desta doença tão terrível. Acho que se todos agirem dessa forma, mesmo depois de vacinados, vamos conseguir reduzir o número de quadros graves e mortes por essa doença”, finaliza.

Fonte: Meio Norte

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