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Agrotóxico está presente no leite materno das piauienses, diz pesquisa

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O leite materno é a mais importante – e única – fonte de nutrição de uma criança recém-nascida em seus primeiros meses de vida. Uma alimentação, em tese, extremamente saudável. Em tese porque o estilo de vida moderna e a influência de produtos, como os agrotóxicos, interferem em vários níveis a saúde da população, literalmente, desde os primeiros momentos de vida.

É o que comprova uma pesquisa feita em municípios do interior do Piauí, que identificou, em 83% do leite materno de puérperas analisado, a presença de um tipo de agrotóxico. O estudo é do pesquisador Inácio Pereira Lima que, em sua dissertação de mestrado, se debruçou sobre a contaminação do leite materno pelo agrotóxico glifosato em puérperas atendidas em maternidades públicas do Piauí.

O glifosato é um dos agrotóxicos mais utilizados na agricultura em todo o Brasil, realidade não diferente no Piauí e, por isso, a sua escolha. Foi atestada nas amostras de leite materno colhidas em mulheres dos municípios de Uruçuí e Oeiras, no Sul do Estado, a presença do glifosato em 83% e 45%, respectivamente, das amostras analisadas.

“Escolhemos estas duas áreas porque elas têm particularidades bem definidas. Uruçuí se constitui como a região de maior demanda de agrotóxico, no Piauí, por ser uma área produtiva; e Oeiras, por ouro lado, não é identificada como tal. O que vemos é a alta presença desse produto no leite materno, altíssima em uma zona de território cultivado, como é o caso de Uruçuí, e também preocupante em um lugar que, em tese, sofreria menos com sua utilização”, explica Inácio Lima.

O glifosato é utilizado, sobretudo, na agricultura para matar plantas denominadas de invasoras, além de ser usado como dessecante. A pesquisa, pelo alto custo de realização, não conseguiu traçar a quantidade deste herbicida disperso em cada amostra; mas apenas sua presença, como ressalta o pesquisador, já é agravante para a saúde humana.

“O glifosato é liberado pela Anvisa e órgãos do setor por não indicar risco cancerígeno para o ser humano, no entanto, pesquisas recentes já demostram o contrário. Em alguns países, ele já começa a ser barrado. É preciso fazer o alerta quanto a esse uso indiscriminado”, ressalta. Inácio ainda destaca a associação do uso de agrotóxico à incidência de doenças como câncer, malformação genética e autismo. Realizada nos anos de 2016 e 2017, a pesquisa mostra um cenário alarmante em um período que o país se volta a uma nova proposta de projeto de lei que flexibiliza as regras para fiscalização e utilização de agrotóxicos no País.

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Projeto de Lei quer flexibilizar lei dos agrotóxicos

A ação que jogou luz ao debate sobre a utilização dos agrotóxicos em todo o país veio da Câmara dos Deputados. Isto porque uma comissão especial da Câmara aprovou, no fim de junho, uma proposta que flexibiliza a lei dos agrotóxicos. A proposta revoga a lei de 1989 e altera as regras de produção, comercialização e distribuição de agrotóxicos.

No entanto, o texto ainda passará pelo plenário da Câmara dos Deputados, o que certamente não ocorrerá antes das eleições em outubro. Entre os muitos pontos, o projeto de lei pretende mudar a palavra agrotóxico, que inclusive está na Constituição brasileira, para “defensivos agrícolas” e “produtos fitossanitários”.

Agrotóxico é um termo claro e avisa aos usuários diretos – produtores e trabalhadores rurais – e aos consumidores que o produto é venenoso e apresenta perigo. Também está previsto que a área da Saúde, representada pela Anvisa, e a área de Meio Ambiente, representada pelo Ibama, ficariam de fora de qualquer avaliação e parecer sobre os agrotóxicos, deixando tudo a cargo do Ministério da Agricultura.

 É criado um registro e autorização temporários para produtos que já sejam registrados em outros três países que sejam membros da Organização para Coorperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e adotem o código da FAO. O prazo será de 1 ano de análise e, então, o registro será liberado temporariamente.

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Embates 

Do lado contrário ao projeto estão ONGs da área do meio ambiente, a Anvisa, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (Ministério da Saúde), o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e o Ibama. O argumento favorável à mudança parte de setores ligados ao agronegócio, que dizem ser necessária uma maior flexibilização no que tange ao setor agroindustrial.

FONTE: Jornal O Dia | Foto: reprodução

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