Esse grupo conseguiu, através da Lei Estadual nº 6.623 em 2014, que o Governo garantisse o tratamento adequado para a doença. Porém, essa realidade está longe acontecer como ficou registrada em papel. A Farmácia do Povo, em Teresina, está há mais de trinta dias sem doses da “insulina Lantus“, é o que denuncia o diabético, Artur Vasconcelos, em uma postagem que fez nas redes sociais na última quinta-feira (21/11).
“Sem a insulina, o portador desta condição simplesmente pode entrar em cetoacidose diabética e morrer. Diante desta omissão, a médio e longo prazo, a grande maioria vai certamente desenvolver as temidas complicações que debilitam, matam e oneram ainda mais os cofres públicos […] Ontem, por exemplo, muitas pessoas acordaram na esperança de receber suas insulinas e não receberam. Este foi mais um prazo fictício que mobilizou a Adip e milhares de pessoas”, escreveu o jovem.
O OitoMeia conversou com a fundadora da Adip, Jeane Melo, que confirmou as afirmações à reportagem: durante um mês inteiro, os diabétides do estado estiveram sem devida medicação fornecida pelo Governo. Em nota, a Sesapi respondeu à reportagem, que já está em posse de novas doses, e que irá começar a distribuição para pacientes agendados para o mês de novembro justamente neste sábado (23/11).
“PROBLEMAS BUROCRÁTICOS”
“Já tivemos vários problemas com falta de medicamento esse ano. Eles adquiriram a medicação, mas sabemos que não irá durar um mês”, reclama Jeane Melo. Ela é fundadora da Adip e também, mãe de um adolescente de 14 anos portador da diabetes. Para ela, o maior problema está na inconstância com a qual as doses são distribuídas aos portadores da doença. Segundo Jeane, a Sesapi alega ter problemas burocráticos, com licitações e fornecedores, por exemplo, e os pacientes nunca sabem se poderão contar com o medicamento ou não.
A presidente da associação explicou que a Farmácia do Povo tem medicamentos suficientes para atender a população diabética do Piauí até janeiro. Os conflitos com os fornecedores e licitações não permitiram a compra da medicação. Então, as doses, supostamente, foram conseguidas por meio de empréstimos com estados vizinhos. Após esse período o grupo ainda está sem respostas se passarão uma nova temporada apenas a sonhar com as canetas de insulina.
“Esse desespero acontece, inicialmente, por ter medo de não ter dinheiro par comprar a dose de insulina. Mas também é desespero de você depender de um sistema que não atende suas necessidades. Ele se coloca como parceiro, mas essa gestão não trabalha com organização, não prioriza a saúde de cada um”, conta Jeane ao justificar o sentimento que tem em ralação a falta nas doses de insulina.
A ainda através de nota, a Sesapi garantiu que o estoque de insulinas é suficiente para os próximos meses e que a entrega continua regularmente a partir da segunda-feira (25/11).
INCERTEZA
“As complicações para quem convive com a diabetes são trágicas e drásticas”, narrou a portadora, Antônia Norma. Portadores da doença crônicas, a maior parte dos diabéticos não sabe como ela se desenvolverá no corpo de cada um. O mau controle da diabetes pode levar à insuficiência renal e necessidade de diálise e transplante de rins, ou à retinopatia diabética, que pode levar a um comprometimento da visão e cegueira. Além delas, há o risco de neuropatia periférica, que é uma complicação associada a dores e dormência em membros inferiores.
“Já passei por todas as fases da doença, e já tive consequências, que podem se agravar nesse momento devido a falta das insulinas, porque tomo dois tipos. Eu preciso delas para viver. As consequências são trágicas e drásticas na minha vida. Estamos fazendo um apelo ao poder pública, porque queremos um posicionamento sobre o que está acontecendo”, relata.
Além da incerteza sobre o próprio estado de saúde, os pacientes também relatam sofrer com a falta de respostas da Sesapi sobre a disponibilidade de doses de insulina.
“O que tem que acontecer para que alguém faça alguma coisa? Eu ligo todos os dias para a Farmácia e ninguém me dá nenhuma posição. Já estamos há mais de 32 dias sem insulina, comprando sem poder, mas somos obrigadas a comprar”, diz Regina Telma, mãe de um criança diabética.
Sem conseguir insulina por meio dos hospitais públicos, muitos diabéticos tem optado por comprar insulina por um menor preço – com uma qualidade menor também. Em uma rápida busca na internet, o preço pode variar de R$ 27 à R$ 60. Segundo o site Nexo Jornal, o gasto anual com a doença chega próximo aos R$ 100 bilhões.
Fonte: Oito Meia