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Frigoríficos e desmatamento podem gerar o próximo coronavírus no Brasil

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Entre 2016 e 2020, 26 novos abatedouros de gado foram registrados na Amazônia Legal, elevando para 183 o número de frigoríficos instalados na região. É uma notícia preocupante, considerando que a pecuária é a maior responsável pelo desmatamento na região, grande emissora de gases de efeito estufa e responsável por um terço de todos os casos de trabalho análogo à escravidão no Brasil.

Pesquisadores do Imazon, que monitoram o setor desde os anos 1990 relataram ao O Eco, que trazem uma preocupação extra quando 50% da humanidade chegou a ser isolada para evitar a proliferação do novo coronavírus: a próxima pandemia pode estar sendo gestada ali.

“É como se estivéssemos dormindo sobre um terreno minado e, de repente levantássemos e começássemos a caminhar aleatoriamente. É um comportamento que pode fazer com que a bomba exploda a qualquer minuto. Os frigoríficos vão ter que passar por uma reestruturação sanitária, porque são bombas relógio e focos de proliferação da Covid-19 e de outras doenças”, alerta Ana Lúcia Tourinho, doutora em Ecologia e pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

A refrigeração necessária para conservar a carne e as aglomerações nas linhas de produção tornam os frigoríficos locais favoráveis à proliferação do novo coronavírus.

No Brasil, o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu uma investigação para apurar a contaminação de trabalhadores em 61 processadoras de carne em 11 estados brasileiros.

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Os abatedouros também são locais ideias para o surgimento de novos vírus ou bactérias devido à proximidade entre humanos e animais – e ao contato de um com sangue e vísceras do outro.

“Se eu fosse instalar um mecanismo de vigilância sanitária para detectar novos vírus, com certeza seria nos frigoríficos”, sugere Carlos Abrahão, médico veterinário especialista em espécies invasoras e Saúde Única – área do conhecimento que relaciona saúde ambiental, humana e animal.

A ciência já sabe que 60% das  novas doenças infecciosas têm origem nos animais. Os coronavírus são uma categoria especialmente perigosa porque já há evidências de que o SARS-CoV-2 (nome do micro-organismo que provoca a atual pandemia) se especializou em infectar seres humanos. Ao que tudo indica, a contaminação teve origem em algum morcego ou cobra vendidos no mercado de Wuhan, a cidade chinesa onde surgiu a doença.

O principal fator para que esse salto entre as espécies aconteça é o desmatamento dos habitats onde a fauna antes vivia protegida.

Segundo um estudo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), precisamente 31% dos casos de espalhamento de doenças provenientes de animais entre os seres humanos ocorreram como consequência da invasão e destruição de ambientes naturais.

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A Amazônia, que registrou um recorde nas taxas de desmatamento no primeiro trimestre de 2020 (uma área maior que a cidade de Goiânia veio abaixo entre janeiro e março) é detentora da maior biodiversidade do planeta. Já foram identificadas 160 espécies de morcegos por lá, um mamífero no qual pesquisadores localizaram 3.204 tipos diferentes de coronavírus nas populações que vivem em todo o Brasil.

Manter a floresta em pé é fundamental porque a vegetação funciona como uma barreira à dispersão desses micro-organismos.

“Quanto mais diversa uma região, mais segura ela é em termos epidemiológicos. Na Amazônia o normal é haver poucos indivíduos de uma espécie restritos a uma região. Isso dificulta que um vírus ou parasita salte de uma população para a outra, porque elas estão isoladas”, explica Abrahão. O problema é quando alguém desmata aquela área e introduz centenas de indivíduos de uma mesma espécie, como bois, por exemplo.

A gripe suína na China, a guerra comercial com os EUA e a autorização de novos frigoríficos brasileiros para exportarem para o país asiático já vinham impulsionando as vendas de carne brasileira para exterior. Entre janeiro e abril de 2020, a exportações para a China dobraram na comparação com o mesmo período no ano passado. Após uma queda das vendas em fevereiro – em função da pandemia – a China reaqueceu os motores e voltou com tudo às compras em março.

“No médio e longo prazo creio que a tendência é que se fortaleça o setor de exportação de carne no Brasil”, explica José Clavijo, analista do setor de commodities agrícolas na Refinitiv, que produz dados e relatórios para orientar investimentos.

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Se um novo vírus surgir nestes frigoríficos, ele pode rapidamente se alastrar pelo Brasil e por outros países, prejudicando não apenas o setor da carne, mas a economia como um todo. O mercado ainda não tomou conhecimento do perigo sanitário da atividade.

“Isso ainda está muito longe do radar dos investidores. Falta compreensão de como estes vírus novos surgem e se propagam. Empresários e dirigentes do Brasil e dos Estados Unidos têm um discurso uniforme, de que esta crise é rápida, passageira. É uma desconexão com a realidade”, critica a economista Mônica De Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos.

Fonte: O Eco | Edição: Cidades Na Net


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