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Série Orgulho do Meu Piauí: Professor Giuliano, exemplo da força de vontade piauiense

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A quarta reportagem da série “Orgulho do Meu Piauí”, do OitoMeia, fala de algo que muito orgulha qualquer piauiense: aqui tem muita gente trabalhadora, honesta e dedicada. Somos muito conhecidos por ter um povo que faz a diferença.

Pergunte a qualquer empresário, de Norte a Sul do Brasil: quando se contrata um piauiense para trabalhar na sua empresa, é certeza de um cidadão trabalhador. E entre muitas histórias incríveis que comprovam esse comprometimento do piauiense com o seu trabalho, uma delas se destaca sobretudo pela sua força de vontade.

É a do professor Giuliano Martins Ramos, treinador do time de handebol, Caic Balduíno. Você pode até ainda não ter ouvido falar dele. Mas da sua história com certeza você já viu em algum portal, jornal ou programa de TV ou rádio…. é um apaixonado treinador que tem transformado a realidade de muitos jovens em zonas de risco em campeões com representação nacional.

Professor Giuliano Ramos (Foto: Ricardo Morais/OitoMeia)

QUEM É O PROFESSOR GIULIANO
Aos 40 anos de idade, Giuliano Martins Ramos já carrega consigo uma série de vitórias que vão muito além das conquistadas nas quadras de handebol. A maior delas, sem dúvida, foi tirar do mundo da criminalidade e das ruas crianças e adolescentes que por muito tempo foram negligenciados em zonas periféricas de Teresina.

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Natural da cidade de Floriano, a 247 km de Teresina, o caçula de uma família humilde de oito irmãos, desde os 12 anos pratica handebol. Começou, assim como seus alunos, disputando campeonatos escolares, conquistando medalhas e se destacando no esporte. Hoje Giuliano disputa como treinador, posição que ocupa há mais de 12 anos.

Ele chegou a Teresina quando tinha 8 anos. Até hoje mora no mesmo lugar, no bairro São João. Desde a adolescência, garante ele, tinha um sonho: ajudar crianças e jovens carentes através do esporte. Especificamente com o handebol, sua grande paixão. Giuliano não mediu esforços para conseguir realizar o projeto que tanto sonhava. Ele se planejou para que o trabalho social que tem realizado na capital piauiense. Tirou do próprio bolso e investiu. Deu resultados!

Técnico considera alunos como filhos (Foto: Ricardo Morais/OitoMeia)

“TER DINHEIRO PARA INVESTIR NO HANDEBOL”
Queria cursar Educação Física, mas quis o destino que concluísse o curso de Direito, focando exclusivamente para realização de concursos. Objetivo maior: ter condições financeiras para realizar o trabalho com crianças.“Eu pratico handebol desde os 12 anos. Foi paixão a primeira vista. Por isso eu sempre quis fazer Educação Física. Mas via com os meus professores que o trabalho de um professor de Educação Física não tinha uma remuneração digna, sabia que o dinheiro que eu iria ganhar não seria o suficiente para manter um projeto como eu sonhava. Então resolvi fazer o curso de Direito, na UFPI, com o objetivo de passar em um concurso, ter um bom salário para manter um projeto no handebol. Esse sempre foi meu objetivo”, contou Giuliano ao OitoMeia.

Assim que concluiu o curso de Direito, logo em seguida ele passou em um concurso para auditor fiscal da receita municipal de Teresina. Já dava para investir alguma coisa em seu sonho. Durante todo esse período, vale ressaltar, ele nunca deixou de praticar o handebol. Viajava como atleta universitário e chegou a comandar a equipe universitária da Universidade Federal do Piauí. E o curso de Educação Física?! Fez logo em seguida. Depois que fez Direito e passou em um concurso, se preparou e concluiu o curso de Educação Física para se tornar professor da rede pública do Piauí. Foi a partir de então que começou a concretizar seu sonho.

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Cheguei a vender o próprio apartamento para conseguir equipar e melhorar a estrutura do ginásio do Centro de Treinamentos

CAIC BALDUÍNO: UM SONHO CONCRETIZADO
Giuliano começou a trabalhar com os meninos da Escola Caic Professor Balduíno Barbosa de Deus, no bairro Vale Quem Tem, através de convite do atual presidente da Federação de Handebol do Estado do Piauí (FHEPI), Edmílson Oliveira. Assumiu um dos núcleos de um projeto local chamado “Bola na mão, gol cidadão”. Hoje em dia Giuliano comanda a Associação Beneficente Giuliano Esporte Clube, na região do Alto da Ressurreição, zona Sudeste da capital, onde os atletas do Caic e também da região e de outras escolas podem treinar.

Dedicado ao projeto, o professor revela: “Cheguei a vender o próprio apartamento para conseguir equipar e melhorar a estrutura do ginásio do Centro de Treinamentos”. Centro este que atualmente atende mais de 200 crianças e adolescentes da comunidade. O objetivo, inicialmente, era tirar as crianças e jovens do mundo das drogas e da violência através do esporte. Mas com o tempo o time foi tendo excelentes resultados nas competições e hoje é a grande promessa do esporte piauiense. Aliás, é a única equipe hoje no Piauí, coletivamente, comparando com todos os outros esportes, que chega a competir nacionalmente e traz títulos.

Equipe já conquistou vários campeonatos, hoje em dia são tetracampeões nacionais (Foto: Reprodução Seduc)

VENDEU O APARTAMENTO E CONTINUA INVESTINDO…
“Passar no concurso me possibilitou a montar esse grande projeto que temos hoje, que é a Associação Beneficente Giuliano Esporte Clube, onde nós atendemos desde 2004 crianças carentes através do handebol. Passei quase seis anos como amigo da escola do Caic Balduino, e depois me tornei professor efetivo da escola, sempre mantendo esse projeto. Em 2010 comprei o terreno que hoje é a sede da associação, com recursos próprios. Em 2011 eu tive que vender o meu apartamento para poder construir o ginásio onde os meninos treinam, e desde então a gente vem construindo as coisas devagar, cada ano algo é feito. Hoje nós temos seis salas de aula, um ginásio e um restaurante para dar continuidade ao trabalho”, lembrou ele.

O treinador orgulhoso relembra o primeiro título nacional que a equipe conquistou. “Em 2007 foi o nosso primeiro título nacional em jogos escolares. O projeto estava crescendo muito e a quadra do Caic ficou muito pequena para a demanda de crianças que aparecia. E então tivemos que criar esse espaço que temos hoje, e não é algo apenas do professor Giuliano, temos muitas pessoas que tem nos ajudado. No total da associação são mais de 200 crianças, eu treino cerca de 80 a 100. A última conquista foi recentemente onde os atletas conquistaram pela quarta vez seguida ser campeão brasileiro de handebol dos jogos escolares e irão representar o país internacionalmente em fevereiro de 2018”, contou.

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Giuliano é levantado após medalha de ouro (Foto: Washington Alves/Exemplus/COB)

 

 

COMO UM PAI

Filhos biológicos, Giuliano ainda não tem, mas filhos do coração são muitos. E quem confirma isso são os próprios alunos. O atleta do Caic Balduino há quatro anos, Natan Micael, 16, veio de Pernambuco especialmente para treinar e estudar com o time da escola. Para ele o professor Giuliano é mais que um treinador, é um segundo pai.

“Ele é rígido no treino, quer o nosso melhor, mas é como um paizão para todos aqui. Ele se preocupa com a gente fora da quadra. Se preocupa com os nossos estudos, como estamos na escola, nos incentiva a estar sempre bem com a família. Nosso time é uma grande família todo mundo se ajuda”, afirmou o armador direito.

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Wallisson Cordeiro, 14 anos, está a pouco tempo na equipe, mas destaca o compromisso do técnico com os alunos.

“Ele vê em nós grandes potenciais e isso é muito bom. Ele nos incentiva muito, na quadra é muito rígido, mas nunca deixa de se preocupar com a gente. Nos ensina que devemos respeitar os nossos pais, tirar boas notas, fazer as coisas corretas”, falou atleta.

Rígido dentro de quadra e atento a tudo o que acontece durante o treino, Giuliano concede a entrevista ao OitoMeia na própria quadra junto com os atletas treinando para não perder nenhum passe e corrigi-los assim que necessário, afinal como ele mesmo disse: “É preciso foco para ganhar”.

“Meus atletas são meus filhos. Acredito que para eles eu sou amigo, pai, primo, psicólogo, tio, fora de quadra e um professor altamente exigente dentro de quadra, determinado, trabalhador, e dedicado que sabe muito bem o que quer. Dentro da quadra sou muito rígido porque se não for a gente não ganha”, ressaltou ele.

Rígido dentro de quadra, Giuliano conseguiu levar o time do Caic Balduino título nacional pela quarta vez (Foto: Ricardo Morais/OitoMeia)

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LUTA DIÁRIA CONTRA DROGAS E CRIMINALIDADE
Apesar dos esforços e dedicação, Giuliano enfrentou e ainda enfrenta muitos desafios. O principal, além da questão financeira da associação que até hoje é mantida com recursos próprios, o professor destaca a luta diária que tem para tirar algumas crianças das drogas e violências das ruas. Ele conta que para fazer parte da equipe, os atletas precisam ter bons desempenhos nas salas de aulas, além de um bom relacionamento com a família.

“Os maiores desafios continuam sendo a melhora dos meninos nas escolas. Infelizmente a gente ainda perde alunos por conta de drogas e violências, é uma luta constante que a gente tem que vencer dia após dia. Com acompanhamentos de perto com cada um e suas famílias”, disse o professor.

Infelizmente a gente ainda perde alunos por conta de drogas e violências, é uma luta constante

“MINHA VIDA É O HANDEBOL; POR ISSO SOU SOLTEIRO”
Giuliano é um homem religioso e que sem vaidades esquece até de fazer a barba e namorar para dar conta do handebol e dos alunos do projeto. Ele trabalha na prefeitura no turno da manhã e o restante do dia dedica exclusivamente ao esporte. O time do Caic treina de segunda a sexta-feira e em época de competição treinam até aos domingos.

O professor chegou a brincar que o motivo pelo qual ainda continua solteiro é a falta de tempo já que o esporte consome muito do seu tempo.  “Handebol é a minha vida, ele consome muito do meu tempo, então por isso eu sou solteiro (risos). Infelizmente ainda não tenho filhos, mas tenho o sonho e pretendo ter um dia”, confessou.

Professor afirma que o handebol é sua vida, o que lhe faz feliz (Foto: Ricardo Morias/OitoMeia)

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“AGRADEÇO A DEUS PELAS CONQUISTAS”
Ele admite que espera que seus alunos um dia possam ajudá-lo com o trabalho. O sonho do treinador piauiense é abranger o projeto desenvolvido na comunidade e alcançar mais crianças, além de tornar o Centro de Treinamento GHC seja referencia no Brasil.

“Sempre que eu posso nos fins de semana vou à missa e agradeço a Deus pelas conquistas, pelos meninos também. Preciso que eles se formem e me ajudem para continuar o trabalho. Quero dar continuidade e tentar abranger o número de crianças e jovens dentro do projeto e principalmente ser feliz, a vida é curta para desperdiçar sem ser feliz. Meu sonho manter nossas conquistas e o handebol de qualidade no Piauí como os melhores do Brasil”, admitiu.

São várias histórias de alunos que vinham participar do time só por causa do lanche porque não tinham o que comer em casa

MARCAS QUE CARREGA COM O PROJETO
Giuliano revela que através do trabalho na associação, muitas marcas ficam em sua mente. Algo inevitável para quem realiza projetos sociais em comunidades carentes. O treinador recorda de crianças que aproveitavam a associação para se alimentar.

“São várias histórias de alunos que vinham participar do time só por causa do lanche porque não tinham o que comer em casa isso sempre nos marca. É muito difícil ver a realidade de tantas crianças nessa mesma situação”, disse.

Atletas do Caic Balduíno comemora vitória do tetra brasileiro escolar de handebol (Foto: Reprodução Fecade)

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TÍTULOS NACIONAIS CONQUISTADOS: PALMAS PARA GIULIANO
Outra marca que o profissional lembra é a primeira conquista nacional. “A primeira vez que fomos campeões brasileiros contra escolas com estruturas e bem equipadas, em 2017 foi incrível. Nós revelamos talentos e isso não tem preço”, continuou.

Giuliano contou que a associação sempre tenta estar próximo das famílias dos alunos. Ele ressaltou que apesar de muitas dificuldades o esporte no estado tem crescido com o apoio do Governo.

“A gente tenta fazer uma reunião por semestre com os pais para sempre melhorar a vida deles, temos confraternizações. Ainda hoje para manter o centro de treinamento eu que arco com as despesas, mas graças a Deus o Governo tem nos ajudado com passagens e ajudas de custo, diárias e alimentação que tem nos ajudado muito a crescer. Falta estrutura para o esporte alavancar aqui, mas temos feito nossa parte do jeito que podemos”, concluiu o professor, que sem dúvida é mais que um motivo de orgulho para o piauiense. Após conferir a história deste exemplo, só nos resta aplaudir.

Fonte: Oito meia

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