ENTRETENIMENTO

Máscaras e isolamento: fotógrafo do Piauí faz releitura de obras famosas no contexto da pandemia

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Galhos de árvores, flores, carvão e caixas de sapato. Em meio à pandemia da Covid-19, o fotógrafo João Henrique Guimarães, de Teresina, utilizou materiais comuns e a criatividade para compor imagens que expressem os sentimentos provocados pelo isolamento social.

Para celebrar o Dia Mundial da Fotografia, nesta quinta-feira (19), o G1 conversou com o profissional. Segundo ele, a ideia surgiu ao observar a mudança repentina no cotidiano das pessoas, que causou estranhamento e abriu espaço para uma série de emoções.

Acostumado a fotografar outras pessoas, registrar cerimônias de casamentos e até mesmo partos, João precisou buscar alternativas para driblar as dificuldades causadas pelo agravamento da pandemia do coronavírus, ainda no início de 2020.

João Guimarães produz autorretratos para expressar sentimentos na pandemia — Foto: João Guimarães

Surgiu, então, a ideia de produzir autorretratos e releituras de famosas obras como “Narciso”, do pintor italiano Caravaggio, e “Os Amantes”, do belga René Magritte.

“Ficar isolado em casa me deu o tempo que eu precisava para conseguir gritar tudo que eu tinha pra gritar. Eu pude dar atenção às minhas criações mais autorais, tive tempo para refletir, elaborar e executar narrativas muito íntimas. Eu tentava despejar a ansiedade, o ócio em materiais que eu conseguia assistir, estudar… Mas não conseguia passar mais um dia sem fotografar”, contou.

Para criar os autorretratos, João adotou dois papéis, os de fotógrafo e modelo. Segundo ele, a tarefa é cansativa, no entanto, além de sentimentos, as fotos carregam um objetivo.

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Releitura de obra “Narciso”, do pintor italiano Caravaggio, — Foto: João Guimarães

“O autorretrato tem me dado um poder de autoconhecimento, de procurar coisas que estão dentro de mim, que sinto uma necessidade muito grande de falar, mas não consigo falar da forma tradicional. Queria que essas fotos causassem reflexão, questionamento”, disse João.

Paixão por fotografia

Na vida do artista, desde muito cedo, a fotografia esteve presente, ainda que de forma despretensiosa, como uma brincadeira de criança. A paixão só surgiu de fato na adolescência, a partir do contato com o teatro e a música.

“Lembro de mexer nas câmeras velhas das minhas tias, eu vivia folheando os álbuns de fotografia de casa, era sempre a criança que nos eventos de família queria segurar a câmera e fazer algumas fotos, mas sou de família humilde e meus pais nunca fomentaram nenhum comportamento que tivesse alguma ligação com arte. Depois os laços foram sendo fortalecidos” , relembrou.

Ensaio fotográfico — Foto: João Guimarães

A ideia de investir na fotografia como uma profissão surgiu quando João trabalhava como segurança em uma empresa privada. Insatisfeito com o emprego, após meses de salários atrasados, em 2016, o artista pediu demissão do local e, com o dinheiro da rescisão do contrato de trabalho, comprou sua primeira câmera fotográfica.

“Eu trabalhava como segurança, aqueles caras armados e mal-encarados que ficam nos lugares. Tal dia, nos momentos de ócio que vez ou outra apareciam no trabalho, comecei a ver vídeos de fotografia no YouTube, lembro de um senhor que falava sobre como funcionavam as câmeras, passei horas e horas maratonando o canal dele”, relatou, rindo.

Hoje, aos 30 anos, João Guimarães é ganhador de diversos prêmios. Ainda em 2016, o fotógrafo conquistou o quarto lugar do concurso Olhares Inspiradores, da Canon Brasil.

Em 2019, foi vencedor do Click Awards Brasil e, em 2020, ficou entre os 10 primeiros colocados na Copa Mundial de Fotografia. Este ano, o profissional adquiriu também o título Inspiration Portrait Award.

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Foto vencedora do concurso “Inspiration Portrait Award”, por João Guimarães — Foto: João Guimarães

De acordo com o fotógrafo, as dores e alegrias presentes no dia a dia servem como inspiração para seus registros, desde livros e filmes à tradições do ambiente em que vive.

“Eu acredito muito que qualquer artista tem jeitos de criar suas obras de uma forma diferente, mas acho que todo mundo usa do mesmo mecanismo de criação, que é uma habilidade de conceber sua vivência de uma forma holística e indissociável. Eu acredito que tudo que sai de mim é resultado das minhas experiências como ser humano”, afirmou.

João Guimarães produz autorretratos para expressar sentimentos na pandemia — Foto: João Guimarães

Nas redes sociais, o fotógrafo compartilha os bastidores do trabalho, técnicas de registros e cativa o público com suas obras.

“Eu acho incrível ter o reconhecimento e admiração pelo meu trabalho, das pessoas que vem sempre de forma muito afável e doce. Mas faltam políticas públicas que tratem arte e artistas com decência, e promovam condições necessárias para que a produção artística seja valorizada”, afirmou João.

Por não ter um nicho especifico na fotografia, o fotógrafo garante que não têm uma imagem favorita.

“Mas tem algo que quando eu lembro até hoje me emociona, ter fotografado um parto, eu nunca vou esquecer a emoção de ter visto uma mulher colocar uma criança no mundo”, completou João Guimarães.

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João Guimarães produz autorretratos para expressar sentimentos na pandemia — Foto: João Guimarães

Dia Mundial da Fotografia

O Dia Mundial da Fotografia é comemorado no dia 19 de agosto, data em que o cenógrafo francês Louis Daguerre anunciou, no ano de 1835, a invenção do daguerreótipo, primeiro equipamento capaz de captar uma imagem.

Fonte: G1 PI

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