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Alfabetizadora celebra o garoto de 5 anos que aprendeu a ler, mesmo pela internet e na pandemia

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Filha de mãe analfabeta, a professora Christiane Barbosa já ensinou a ler ao menos 300 estudantes nos últimos dez anos na zona rural de Teresina, Piauí. Ela é um dos 2,2 milhões de professores da educação básica brasileira, que vai até o ensino médio. Desse total, 27% – como Christiane – se dedicam à educação infantil.

Neste 15 de outubro, o G1 mostra 5 histórias sobre a vida de professor no Brasil. Confira as outras ao longo desse texto.

O Centro Municipal Santa Teresinha, onde dá aulas, foi premiado em março deste ano por conseguir alfabetizar 100% dos alunos. A prefeitura de Teresina paga um bônus de R$ 9 mil aos melhores resultados.

“É muita responsabilidade. Você está lidando com vidas, interferindo diretamente na história da criança. Essa interferência se dá pela leitura, pelo incentivo. Uma palavra que você diz pode motivar ou desmotivar o aluno”, afirma a professora de 43 anos.

Ela é a única da família que concluiu a graduação – os seis irmãos e irmãs terminaram o ensino fundamental ou o médio, mas não fizeram faculdade. Christiane começou a dar aulas ainda adolescente, ajudando os vizinhos com aulas extras sobre assuntos que tinham dificuldade.

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Formou-se em pedagogia na Universidade Federal do Piauí. “A educação é tudo. Ela vai definir como será o ser humano na sociedade. Sem educação, o país não tem como crescer”, afirma.

No quarto período da faculdade (2º ano), ela já estava dentro da escola, em uma turma de 5ª ano do ensino fundamental. “Nunca pensei em fazer outra coisa da vida.”

O que significa alfabetizar?

Ao todo, 11 milhões de brasileiros com mais de 15 anos ainda não sabem ler e escrever, número que equivale à população do Rio Grande do Sul ou do Paraná, por exemplo.

No Brasil são quase 600 mil docentes que, todos os dias, encaram o desafio de tornar compreensível a união de letras, sílabas, palavras, frases. O sucesso nesta etapa de ensino é a base da educação, porque ajudará o estudante a evoluir, cada vez, mais nas fases seguintes.

Antes da pandemia, Christiane percorria 40 quilômetros todos os dias para chegar à escola Santa Terezinha, na zona rural de Teresina, para dar aulas. Parte do percurso, 6 km, é feito em chão de terra.

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Ela diz ter orgulho de ser professora, mas considera a profissão pouco valorizada no país. “Está na hora de parar de ter como protagonista somente o aluno, a infraestrutura, a comida, o assistencialismo, e a gente olhar com carinho maior para os professores.”

A professora Christiane Barbosa segura um cheque simbólico com o valor da premiação pelo trabalho desenvolvido na CMEI Santa Teresinha, em Teresina (PI), pelos resultados obtidos em alfabetização. — Foto: Divulgação/Semec Teresina

A professora Christiane Barbosa segura um cheque simbólico com o valor da premiação pelo trabalho desenvolvido na CMEI Santa Teresinha, em Teresina (PI), pelos resultados obtidos em alfabetização. — Foto: Divulgação/Semec Teresina

Para ela, o contato diário de pais e responsáveis com a aprendizagem dos filhos durante as aulas remotas na pandemia não melhoraram totalmente a visão da sociedade sobre a profissão.

“Tem gente dizendo que o professor ganha sem trabalhar na pandemia. Mas estamos trabalhando bem mais do que na sala de aula porque o trabalho dobrou. Tem a questão dos vídeos, tem que editar, elaborar atividades, corrigir, tirar dúvida”, elenca.

Alfabetizado na pandemia

Gabriel Soares, de 5 anos, aprendeu a ler durante as aulas a distância na pandemia.

A professora investiu em atividades lúdicas pela internet e mais acolhimento. A evolução de Gabriel ocorreu em três meses, depois que ele saiu de uma escola particular, em Teresina e foi para a rede pública municipal, em julho.

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“Aprendi o fa, fe, fi, fo, fam!”, fala Gabriel, sorrindo, animado com os passos dados. “Acho ela o máximo, muito carinhosa comigo, aprendi um monte de coisa que não sabia”, comemora.

“Agora, em setembro, ele foi fazer uma leitura da letra V e fez certinho, todos ficaram impressionados. Ele ficou todo empolgado”, conta Carla Soares, mãe de Gabriel.

Gabriel Soares, de 5 anos, aprendeu a ler durante as aulas a distância na pandemia com a professora Chistiane Barbosa. — Foto: Arquivo Pessoal

Gabriel Soares, de 5 anos, aprendeu a ler durante as aulas a distância na pandemia com a professora Chistiane Barbosa. — Foto: Arquivo Pessoal

“No passado a cartilha tinha frases prontas. ‘O boi bebe’. Bebe o quê? Eram frases sem sentido. Só para trabalhar a letra B. Agora, a gente usa relacionado com aquela temática do dia a dia da criança. Podemos trabalhar os brinquedos que começam com a letra B: boneca, bola.”

Christiane precisou vencer a timidez para dar aulas remotas. Cada gravação de vídeo era, para ela, uma dificuldade. “Antes, não gravava nem mensagem de voz. Com a pandemia, tive que aprender na prática, aos trancos e barrancos”, brinca.

A pesquisa “Trabalho Docente em Tempos de Pandemia”, feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) aponta que quase 90% dos professores não tinham treinamento para dar aulas remotas antes da pandemia. Na educação infantil, somente 9% dos docentes disseram ter preparação para as aulas virtuais.

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“Agora aprendi a usar alguns aplicativos que ajudam a tornar a aula mais dinâmica, como por exemplo, os que ajudam a editar imagem, colocar plano de fundo. Com isso, a atividade fica mais lúdica para a criança”, afirma.

O volume de trabalho também mudou. Além de corrigir atividades e preparar a aula, agora é preciso gravar e editar vídeos, interagir com os pais, e ajudá-los a acompanhar as crianças.

“Quando estou ensinando, eu me dedico ao máximo. Mesmo se estiver com algum problema, quando entro na sala de aula, esqueço todos eles e faço meu trabalho da melhor forma possível. A gente ensina, mas também aprende muito com as crianças”, relata.

A desvalorização – tanto salarial quanto de imagem na sociedade brasileira – é um ponto de incômodo.

“Quando vejo a fala de alguém dizendo que os professores estão todos em casa, vejo a questão da desvalorização do professor. Você não vai chegar na sala de aula, virtual ou não, sem saber o que fazer”, diz.

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O Plano Nacional de Educação (PNE) tem entre suas metas igualar o salário médio dos professores da educação básica à renda de outros profissionais com a mesma escolaridade até 2020. Diferença só diminui porque as outras funções sofreram desvalorização salarial no último ano.

Salário do professor da Educação Básica é menor do que outros profissionais de mesma formação. — Foto: Infografia/G1

Salário do professor da Educação Básica é menor do que outros profissionais de mesma formação. — Foto: Infografia/G1

Futuro da profissão

Para a educadora, a pandemia poderá mudar a rotina da profissão, acrescentando ferramentas que antes não eram difundidas.

Mas isso não vai substituir o professor que, para ela segue sendo essencial.

“A gente fala com colegas de profissão sobre a falta que faz o [ensino] presencial, o contato com o aluno. Nós poderemos adaptar, acrescentar uma ferramenta a mais, mas a tecnologia nunca irá nos substituir”, afirma.

Fonte: G1 PI

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