CONSEQUÊNCIAS DO B R O BRÓ | Não é só a ursa Marsha que está sofrendo…

Feche os olhos! Agora imagine-se usando um casaco de pele, daqueles bem grosso, em plena avenida Frei Serafim no horário de 13h neste calorzão do B R Bró quase insuportável…

Pois bem. É esta a situação que vive, hoje, a ursa Marsha, que vive uma situação talvez ainda pior, pois encontra-se numa jaula, esperando por água, comida e vez por outra pela visitação das pessoas que acham isso tudo uma maravilha.

A ursa Marsha está “acomodada” (a palavra está entre aspas porque talvez não seja a mais adequada) em um dos box do Parque Zoobotânico de Teresina, localizado na avenida Kennedy, zona Leste de Teresina.

E assim como a ursa Marsha, vários outros animais passam pela mesma situação no único zoológico do estado, mantido pelo Governo do Piaui através da secretaria estadual de Meio Ambiente. A reportagem do OitoMeia foi acompanhar de perto o que passam aqueles animais.

Renato Uchôa, gerente do Parque Zoobotânico, disse ao OitoMeia que neste período realmente os animais precisam de um maior cuidado sobretudo no que diz respeito à hidratação. Segundo ele são vários os cuidados tomados pela administração do local com os animais, um deles é a utilização dos aspersores, um sistema de irrigação d’água para ajudar a manter o ambiente dos bichos úmido.

Ele explica que o Zoobotânico é um parque estadual com uma área de preservação ambiental de aproximadamente 137 hectares. Hoje há em torno de 700 animais, incluindo os que são reintegrados à natureza. “Os cuidados são os mais variados, um deles é com a alimentação. Como a quantidade de animais é elevada, cada espécie recebe uma quantidade variada”, afirmou.

Garantiu ainda que cada espécie tem um tipo de alimentação diferente: “Por exemplo, os filhotes de felinos são alimentados todos os dias, já os adultos comem dia sim e dia. As aves todos os dias também são alimentadas, por conta da dieta que cada um deve ter. Nós temos uma tabela de alimentação a qual seguimos”.

O gerente do parque levou a equipe de reportagem para acompanhar o atendimento técnico dos funcionários feito à um dos animais mais apreciados no parque, que é a onça pintada macho, Tupã. Tem um ano e dois meses e é um dos xodós do parque. O animal chegou no parque ainda filhote e fez parte do programa de reabitação, onde recebeu o carinho de seus tratadores.”Quando o animal chega ferido ou filhote, quando é tirado da mãe a gente tem todo o cuidado de dar carinho para esse animal, não só físico mas sentimental também”, explicou Uchôa.

Segundo o funcionário José, conhecido como Zé do Galo, na jaula o animal recebe água através dos aspersores, uma espécie de ducha que ventila água para o animal e refresca. Segundo ele, isso é feito rotineiramente. José trabalha há 20 anos no parque e é um dos tratadores que tem toda uma relação com a onça Tupã: “A gente tem o cuidado para que eles se refresquem, seja manualmente com as mangueiras ou com os dutos de água”. Assista:

A URSA MARSHA E SEUS CUIDADOS
Retornando ao animal que tem causado toda uma polêmica de uns dias para cá, o gerente levou a equipe de reportagem novamente para o local onde fica a ursa Marsha. É um dos animais mais visitados do Zoobotânico. Marsha tem 35 anos. Geralmente esse tipo de urso, que é o pardo, em cativeiro, pode chegar até os 45 anos. Ela foi resgatada em uma operação de resgate junto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) do Pará. Vinha de um circo e sofria com maus tratos.

Transferida para o Zoobotânico, Marsha demonstra sinais de cansaço. E um dos principais motivos é o forte calor.  A ursa Marsha é sem dúvida um dos animais que mais sofre com a temperatura. “Todos nós sofremos com o calor. E com os animais não seria diferente. Então nesse período, de setembro a dezembro, nós aumentamos as prioridades. A ursa, por exemplo, tem duas piscinas cheias d’água para se refrescar”, afirmou Uchôa, que garante que não há falta de cuidado com a ursa. Seu tratador chama-se Raimundo Rodrigues, de 37 anos. Ele realmente demonstra todo um carinho com Marsha. “Agora por exemplo (era por volta de 11h da manhã), ela costuma ficar dentro da piscina. Depois ela sai e anda pelo seu ambiente. E quando está fora ela recebe água pelos aspersores”. Assista e conheça um pouco de como é o tratamento com a Marsha:

PETIÇÃO PEDE SAÍDA DA URSA DE ZOOLÓGICO

A polêmica relacionada à ursa diz respeito a um grupo de ativistas que fizeram uma petição pela saída de Marsha do Zoo. O jornalista e ativista defensor da causa Willian Tito explicou ao OitoMeia porque é contra a permanência de Marsha no zoológico. Segundo ele as condições que a ursa se encontra não são das melhores. “Trata-se de um urso pardo, que vem do Canadá, ou seja, de onde ela vem as temperaturas são muito baixas. É inadmissível que um animal como esse tenha sido trazido para um clima tropical. Seria muito inteligente da parte do zoobotânico que  aceitasse a remoção da ursa para um santuário, onde ela deve ficar”, explicou.

Willian informou ainda que ele juntamente com outros ativistas da Federação das Associações, Organizações não Governamentais, Sociedades Protetoras dos Animais e Sindicatos de Profissionais da Proteção Animal do Estado do Piauí (Faos- PI) entraram em contato com o zoobotânico em fevereiro deste ano, mas que o zoo não aceitou em decorrência desse fato, uma ação judicial corre em Brasília para tratar do assunto. No momento a petição está com 8.318 assinaturas de pessoas do mundo todo, depois do Brasil, as principais são dos Estados Unidos e Portugal.

 A autora da petição é Carolina Mourão, piauiense que atualmente mora em Brasília onde é presidente da Confederação Brasileira de Proteção Animal (CBPA). Ao OitoMeia, ela declarou que a ursa não deveria ter sido transferida para o parque. “A direção do parque insiste em dizer que que há modos de amenizar o calor como os aspersores, mas eles não resolvem o problema de nem longe, ela está sob um domínio de um zoológico ilegal”, frisou. Segundo ela, o zoológico não tem registro e por isso ela o denomina de “cativeiro”. “Estamos articulando com celeridade para resolver esse problema. Não basta trabalhar com boa vontade, tem que estar na regularidade”, explicou.

Carolina Mourão critica o Zoobotânico (Foto: Divulgação)

ZOO POSSUI APOIO DO IBAMA, DIZ GERENTE
O gerente, Renato Uchôa rebate as acusações. Ele disse que o parque não mede esforços para tentar diminuir o calor que sofrem os animais. “A questão é o que a gente faz para melhorar essas altas temperaturas, que é o banho, o uso dos aspersores, que jorra a água criando uma temperatura artificial o dia todo reduzindo a sensação térmica e o animal quando está com calor precisa desses cuidados. Se ele tem água disponível, isso ajuda bastante”, explicou. Renato disse ainda que as informações de que a ursa vem sendo maltratada pelo parque e que come ração de cachorro são infundadas.

“A Marsha passou anos em um circo, ou seja, em condições climáticas muito quentes. Dizer que o zoológico é ilegal por não fazer parte da Associação dos Zoológicos é uma mentira. Isso é uma opção. Nós sempre participamos de congressos. Acho um absurdo esse tipo de acusação que ela (Carolina Mourão) está fazendo. A ursa tem uma alimentação com base em mel, e outras apropriadas. A ração é uma delas, já que ela comia esse alimento no circo e aos poucos fomos mudando a alimentação. Mas não tiramos por completo. Quem trouxe a ursa para o nosso zoológico foi o IBAMA. Eles jamais a liberariam sem fazer um estudo antes. Por isso que insistimos que fazemos o que é o mais correto.

VOCÊ VOTARIA A FAVOR DO FIM DO ZOOBOTÂNICO?
Nesta quinta-feira a editora-chefe do OitoMeia, jornalista Sávia Barreto, publicou um vídeo que lança a proposta de levar as pessoas a serem a favor do fim do Parque Zoobotânico.

“O fato de existir um espaço para os animais ficarem confinados somente para o deleite de seres humanos é uma imoralidade. No Piauí temos uma ursa, a Marsha, que é obrigada a ficar num espaço minúsculo e num calor infernal. E as pessoas vão lá ver a ursa morrendo de calor, triste, infeliz. Realmente é essa a mensagem que você quer passar para os seus filhos? No vídeo, falo sobre o que o Governo pode fazer para transformar o sofrimento dos animais numa causa importante a ser abraçada”, escreveu a jornalista. Assista. Dê a sua opinião!