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CURIOSIDADES DO SERTÃO | Saiba qual importância dos anfíbios para a sociedade e quantas espécies na região de Picos

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Os anfibios desempenham um importante papel na natureza. Eles servem como bioindicadores ambientais, agentes de controle biológico de insetos e pragas e possuem também potenciais origens de medicamentos.

São mais de 8.600 espécies de anfíbios descritos no mundo. Os anfíbios são divididos em três ordens: Anura (sapos, rãs, e pererecas), Caudata (possuem cauda – são as salamandras), e Gymnophiona (as cecílias).

Leptodactylus fuscus – Rã-assobiadora – espécie comum no Nordeste do Brasil e em todo o Piauí.

No entanto, muitas espécies estão ameaçadas de extinção. Mais de 500 espécies de anfíbios em todo o mundo foram extintas por causa do fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd). Dentro dos grupos de animais mais ameaçados do mundo, os anfíbios são afetados por uma série de doenças, fungos, parasitas, predação, e principalmente pelas ações humanas – fragmentação de habitats, poluição, desmatamento, etc.

Recentemente, o pesquisador Ronildo Benício que é doutor em Ecologia pela UFSCAR e membro do Laboratório de Herpetologia e Parasitologia de Animais Silvestres da Universidade Federal do Piauí, Campus de Picos, juntamente com colaboradores, descobriram que algumas espécies de sapos da Caatinga – bioma predominante da região Nordeste do Brasil e de grande parte do Piauí – mais especificamente em Picos, também carregam este fungo, ameaçando as populações de anfíbios da região. Em Picos são cerca de 25 espécies de anfíbios.

Rhinella mirandaribeiroi. Espécie conhecida popularmente como cururuzinho que habita na Caatinga e Cerrado, no estado do Piauí.

O Laboratório de Herpetologia e Parasitologia de Animais Silvestres da UFPI de Picos é coordenado por Benício e Mariluce Gonçalves Fonseca que é doutora em Doenças Tropicais pela UNESP.

No bioma citado, os anfíbios sobreviventes nas condições climáticas são: o sapo-boi, a perereca-de-capacete-da-Caatinga, e o sapo-cururu (maior espécie de sapo encontrada no nordeste).

Os anfíbios são bioindicadores ambientais, ou seja, eles indicam a qualidade do meio ambiente. Quando não estão saudáveis em uma determinada região seja por declínio de espécies, espécies com malformações, doenças, entre outros problemas, isso pode indicar que algo não está bem naquele local e possivelmente isso também afetará o ser humano.

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Leptodactylus vastus – Espécie de rã de grande porte que pode atingir mais de 18 cm de comprimento, conhecida popularmente como rã-pimenta. Possui ampla distribuição no Nordeste do Brasil e é encontrada sempre próxima a lagoas e poças d’água.

Como exemplo, foi destacado pelo pesquisador que é muito comum anfíbios sofrerem com poluição ambiental, malformações, agrotóxicos, o que certamente também afetará posteriormente o ser humano. Além disso, eles fazem o controle biológico de muitas espécies de insetos e pragas domésticas.

No seu apontamento sobre o controle, Benício fez a seguinte reflexão: imagine a quantidade de insetos (vespas, formigas e muriçocas) se os anfíbios não existissem?

Ciência e saúde

A pele de algumas espécies de anfíbios como os sapos cururus, possui muitas propriedades químicas e biológicas que protegem estes animais de doenças e patógenos e podem servir como potenciais medicamentos para o ser humano.

Recentemente, Mariluce e colaboradores analisando o veneno de pequenos sapos cururus (espécie Rhinella granulosa) encontraram mais de 50 propriedades químicas e biológicas na pele. Entre os achados, os autores do estudo concluíram que a secreção das glândulas de veneno (paratóides) dos cururus apresentou citotoxicidade (capacidade que uma substância possui de inibir a proliferação celular ou causar danos) contra células tumorais do sistema nervoso central e próstata.

Rhinella diptycha. Conhecido como cururu. Espécie amplamente distribuída no Brasil. Os indivíduos desta espécie podem chegar até 25 cm, sendo considerada a maior espécie de anfibio do Brasil.

O veneno dos anfíbios não é perigoso para o ser humano e localiza-se dentro de glândulas da pele chamadas paratóides situada atrás do tímpano. Este e vários outros estudos têm demostrado que componentes presentes na pele dos anfíbios podem ser usados contra células tumorais humanas, na terapia clínica contra carcinomas (tumores que se originam de células da pele) de fígado, pulmão, pâncreas e bexiga.

Importância para a sociedade e comunidade científica

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Além do progresso científico que o estudo dos anfíbios tem proporcionado para a comunidade científica e para a sociedade no geral, os estudos sobre a biodiversidade também proporcionam a criação de um vínculo maior da ciência com a sociedade, incluindo uma mudança real na vida de alunos e futuros pesquisadores locais.

Dermatonotus muelleri – Também chamado de sapo-boi ou sapo-bode por causa do seu canto. É uma espécie comum na época de maior intensidade das chuvas. No período seco esta espécie passa a maior parte do ano enterrada no solo.

Atualmente, o Laboratório de Herpetologia e Parasitologia de Animais Silvestres da UFPI conta com mais de 10 alunos, grande parte deles com bolsas de iniciação científica, recentemente ajustada para o valor de R$ 700,00 reais mensais.

Outro importante grupo que tem contribuído para o crescimento e conhecimento sobre a biodiversidade da região é o Núcleo de Pesquisa em Ciências Naturais do Semiárido do Piauí (NUPECINAS). Este grupo é o responsável pelo Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade do Semiárido pela UFPI. Atualmente este grupo coordena a revista científica Biosphere direcionada à divulgação de pesquisas científicas que contribuam para o desenvolvimento das áreas de Biodiversidade, Biotecnologia, Ciências Ambientais, Direito Ambiental, Educação, Ensino, Geociências e Interdisciplinar.

A revista publica artigos em português e inglês que apresentem resultados originais de pesquisa produzidas por pesquisadores e/ou professores, alunos de graduação e pós-graduação, vinculados a instituições de pesquisa, ensino e extensão nacionais e internacionais.

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