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GERAL

Empresas que investem em inovação veem perdas com cortes em universidades

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Foto: Letícia Santos/Cidadeverde.com

Entidades que representam empresas inovadoras veem risco de perda de competitividade com os cortes no orçamento das universidades federais e os congelamentos de bolsas de estudo anunciados pelo governo.

Na avaliação das empresas, a relação entre a pesquisa acadêmica e o mercado estava aquém do esperado, porém vinha em evolução, o que pode ser perdido caso as atividades das universidades seja comprometida.

O Ministério da Educação afirma que o tema continua sendo prioridade para o governo e que o contingenciamento pode ser revertido após a aprovação da reforma da Previdência.

Também promete discutir com reitores um programa para atrair recursos para as universidades a partir de parcerias com empresas no apoio a pesquisas inovadoras.

Luiz Eugênio Melo, vice-presidente da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras), diz que as universidades públicas são decisivas para tornar o Brasil um país competitivo na economia global.

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A associação reúne 124 empresas, entre elas Totvs, Natura, 3M, Petrobras e Vale.

O papel das universidades na inovação é fundamental, na visão de Melo, por elas assumirem a pesquisa em nível mais básico, quando ainda não há clareza sobre qual será a aplicação do objeto de estudo no mercado.

Nesse momento, a pesquisa envolve maiores riscos e necessidade de investimentos, de um lado, e grande potencial de ganhos, de outro.

Melo também destaca que as universidades públicas são as instituições que mais patenteiam no Brasil.

Segundo dados do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), das 20 organizações com sede no Brasil que mais depositam patentes, 18 são universidades públicas, 16 delas federais.

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A que mais apresentou pedidos para proteger seus projetos em 2017 (último dado disponível) foi a Unicamp, com 77 depósitos de patentes. Ela é seguida pelas federais de Campina Grande (PB) e Minas Gerais, com 70 e 69 pedidos, respectivamente.

José Rizzo, presidente da ABII (Associação Brasileira de Internet Industrial), diz que o corte de recursos para educação é má notícia para o país.

“Da maneira como o mundo funciona hoje, educação e desenvolvimento tecnológico e científico são os dois grandes motores para o desenvolvimento e a prosperidade”, afirma ele, que também preside a Pollux, empresa que fornece robôs para industriais.

Por outro lado, Rizzo pondera que, dada a falta de recursos do governo, cortes como esse são inevitáveis e só serão superadas quadno a situação econômica melhorar, o que demandaria maior celeridade na aprovação de reformas como a da Previdência.

Rodrigo Afonso, presidente do Dinamo, grupo que reúne startups e investidores desse mercado, afirma que a maior parte das descobertas que podem ser aproveitadas pelo mercado, no Brasil, surgem da universidade pública. Por isso, eventuais cortes preocupam.

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“O corte prejudica os novos cientistas que, no futuro, virariam os próximos criadores de startup.”

Segundo ele, o relacionamento entre a pesquisa acadêmica e o mercado ainda é incipiente no Brasil, mas vinha ganhando força desde 2016, quando foi sancionado o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, que deu mais segurança jurídica para parcerias entre academia e empresas.

Universidades e pesquisadores ouvidos pela reportagem afirmam que produzir conhecimento e inovação ficará mais difícil com menos recursos.

Gilberto Medeiros, diretor do núcleo de inovação da UFMG, diz que, para que uma pesquisa da universidade chegue ao mercado, são necessárias várias patentes, pois apenas uma pequena fração delas terá sucesso.

Por outro lado, diz ele, as restrições nos recursos podem dificultar o funcionamento da agência, responsável por apoiar pesquisadores na avaliação do potencial de seus projetos e na elaboração dos documentos necessários para patenteá-los.

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Medeiros diz que a transferência de tecnologias desenvolvidas na faculdade para o mercado é um processo de longo prazo e que exige continuidade, o que seria prejudicado com restrições financeiras.

“Está se falando em eliminar despesas, mas não está se levando em conta o quanto você deixa de ganhar em razão daquilo que você está eliminando.”

LONGO PRAZO

No caso de Robson Santos, 67, professor emérito da UFMG, foram 25 anos de estudo das propriedades de um peptídio (cadeia de aminoácidos, parte constituinte de proteínas) até a criação de um produto e seu licenciamento.

Junto a empresa Yeva, ele lançou um tônico capilar baseado em nanotecnologia em julho do ano passado.

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Santos diz que também seria possível aplicar desdobramentos de sua pesquisa para a produção de remédios para controlar a pressão arterial. Porém a falta de recursos para terminar os testes clínicos o fez adiar o plano.

Ele conta que, ao iniciar sua pesquisa, não tinha clareza de que chegaria a um produto. A intenção era fazer pesquisa básica. Percebeu o potencial de seus estudos para o mercado há cerca de oito anos.

“Você precisa juntar pequenas peças até chegar a um produto. A criação da startup é só o final da linha na inovação.”

José Carlos Pinto, diretor do parque tecnológico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que os contingenciamentos em discussão, caso se concretizem, dificultam a continuidade de mais de 1.000 projetos realizados pela Fundação Coppetec (que apoia projetos de desenvolvimento tecnológico da universidade), a maior parte feitos em parceria entre pesquisadores e empresas.

Segundo ele, como não é permitido por lei que a receita desses projetos pague o custeio dos laboratórios da universidade, haverá dificuldade para manter a infraestrutura mínima para que essas atividades continuem.

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“Se a universidade se vê sem recursos, ela para, param os laboratórios, para a cooperação”, diz.

Fonte: Cidadeverde.com

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