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Enquanto cresce a extrema pobreza, uns ficam muito mais ricos

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Mergulhado numa crise sanitária sem precedentes, trazida pelo Coronavírus – uma pandemia que já matou mais de 1,5 milhão de pessoas e, só no Brasil se aproxima dos 180 mil mortos-, o mundo assiste, perturbado e sem rumo, a um aumento progressivo da extrema pobreza, essa injusta e brutal condição humana a que milhares e milhares de pessoas são submetidas, mediante privações imensas, sendo a falta de alimentos a mais cruel de suas formas.

Dentre os novos pobres do mundo, 82% vivem em países considerados de renda média. O Brasil enquadra-se exatamente entre essas nações em que o avanço da miséria se vê claramente prosperando. Por aqui, já há cinco anos, muitas famílias ficaram sem renda e imensa maioria delas viu a renda diminuída, tornando impossível sustentar-se de modo digno, com um mínimo de satisfação às suas necessidades básicas.

Essa nova realidade, contrasta com sinais positivos que vinham se verificando de maneira esperançosa entre os anos de 2012 a 2017, quando ocorreu um crescimento de 2,3% na prosperidade compartilhada. Com o fim de políticas reparadoras, destinadas a compensar as desigualdades econômicas e sociais no país, a pobreza vem se alastrando, pondo fim à possibilidade de inclusão de milhares e milhares de seres humanos numa posição de estabilidade social.

Se essa ausência de políticas compensatórias já vinha causando estragos e preocupações, o surgimento da pandemia do Covid-19 só fez ampliar o fosso da  desigualdade, em virtude de que, pelo necessário isolamento social, muitos perderam o emprego ou se viram impedidos de auferir algum rendimento com suas atividades autônomas. Com menor mobilidade das pessoas, uma realidade dramática tem sido o aumento crescente da vulnerabilidade.

O Banco Mundial aumentou a frequência de suas advertências aos governantes do mundo sobre essa grave e intolerável questão, de modo a fazê-los despertar para a dramática realidade de que  a extrema pobreza global está aumentando pela primeira vez em mais de duas décadas, colocando milhões de seres humanos a viver com menos  de US$ 1,90 por dia, que é o marco dessa condição insuportável. Prevê, assim, que até 150 milhões de pessoas caiam na pobreza extrema, um acréscimo de 1,4% da população mundial.

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De acordo com dados apontados pelo novo estudo “Pobreza e Prosperidade Compartilhada”, do Banco Mundial, a pandemia da Covid-19 não é a única responsável pelo agravamento da situação: o relatório indica os conflitos entre nações e as mudanças climáticas como fatores importantes.

Embora sem conflitos internos significativos no Brasil, observa-se, porém, que a progressiva ação predatória da natureza, como frequentemente tem-se registrado na Amazônia e no Pantanal, é fator importante na elevação da miséria, gerando a expulsão de nativos para um mundo obscuro de total ausência de oportunidades.

Reprodução/ Agência Brasil

Antes da pandemia, justamente por causa dos conflitos globais e das mudanças no clima, o progresso na redução da pobreza global já estava mais lento. Entre 1990 e 2015, por exemplo, a pobreza global caiu cerca de um ponto percentual por ano. Esse ritmo diminuiu para menos de meio ponto percentual por ano entre 2015 e 2017.

Ainda assim, se não fosse pela Covid-19, a taxa de pobreza provavelmente teria caído para 7,9% em 2020. Com a pandemia, esse percentual ficará entre 9,1% e 9,4% da população global, semelhante ao registrado em 2017.

O próprio Banco Mundial fixou como meta diminuir para 3%, até 2030, o percentual de extrema pobreza no mundo, mesmo considerando que com todo esforço necessário ainda será quase impossível eliminá-la. Mas adverte que sem ação política rápida, enérgica e significativa, essa taxa pode ser de aproximadamente 7% daqui a 10 anos.

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Enquanto se vê a pobreza extrema agigantar-se no mundo, tem-se, lastimavelmente, observado que os bilionários do mundo, na outra ponta, têm a fortuna aumentada de maneira significativa, mesmo durante a pandemia. Só entre abril e julho deste ano, de acordo com um relatório de outubro do banco suíço UBS, o aumento dessa fortuna dos mais ricos foi de 27,5%, elevando-se para US$ 10,2 trilhões, uma cifra recorde.

“Os bilionários se saíram extremamente bem durante a crise da covid-19: não apenas cavalgaram a tempestade na baixa como lucraram na retomada”, afirmou Josef Stadler, do banco UBS.

Um recente estudo da FEA-USP (Faculdade de Economia), da Universidade de São Paulo, conclui que, no caso do Brasil, a desigualdade só poderá diminuir elevando-se a carga de impostos sobre os muitos ricos, aliada à decisão de derrubar a regra do teto de gastos, que congela os investimentos públicos por 20 anos, apenas corrigindo-os pela inflação.

Espera-se que o Congresso Nacional, passada a discussão sobre quem vai governar as duas Casas, tenha a capacidade e a vontade cívica de olhar para os pobres do Brasil, criando mecanismos que interrompam essa derrocada social.

Por: José Osmando de Araújo, Mundo Cidadão

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