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Fantástico mostra que pesquisas no Piauí podem definir chegada do homem na América

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Já parou para pensar como era o Brasil 10 mil anos atrás? O Fantástico vai mostrar como vivia o povo que chegou aqui milhares de anos antes do descobrimento. Esse povo chegou muito antes até do que os índios. Os repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero visitaram os lugares que contam essa história. Uma história que tem rosto e tem nome: Luzia, a primeira brasileira.

Cavernas, água e vento mudam essas formas lentamente. Trazem a terra que cobre e preserva milhares de anos de uma história aos poucos descoberta. A chegada ao continente americano da espécie que conquistou o planeta: o Homo sapiens.

Como a humanidade chegou até o local, a milhares de quilômetros de onde a espécie surgiu, na África? Caminhando, sem rumo definido, seguia animais de caça, buscava frutas, raízes. Fugia da seca ou do frio. E como não tinha cidades e nem lavouras, uma vez que avançava também não tinha motivos para voltar para trás. Assim chegou até a América do Sul. A última fronteira da humanidade na incrível jornada da vida.

A nossa espécie surgiu na Etiópia. Há dois milhões de anos, o Homo erectus já estava deixando a África. Fósseis desse nosso ancestral foram encontrados na Ásia e em toda a Europa. Há 80 mil anos o Homo sapiens, a nossa espécie, começou a se espalhar pela África e o resto do planeta. Foram muitas levas de migrações. Ele ocupou a Ásia, chegou à Austrália e Polinésia. Na última Era do Gelo, Ásia e América ainda eram ligadas por terra, o Homo sapiens atravessou o Estreito de Bering e se espalhou pelo continente.

Há 13 mil anos, já ocupava cavernas em Lagoa Santa, Minas Gerais. Uma das maiores concentrações de fósseis humanos das Américas.

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“A gente realmente está conseguindo ver as crianças, os jovens, os adultos, mulheres, homens, e ter uma noção de como esses grupos se comportavam como uma população”, diz o arqueólogo da UPS André Strauss.

Um povo que tinha rituais. A maior prova está nos sepultamentos, revelados sob a poeira milenar.

“Nós temos dois esqueletos, numa sepultura aparentemente dupla, em que há um indivíduo onde a cabeça estaria sob esse bloco de pedra, as costelas. As costas dele fazem essa curva. Aqui estaria a bacia”, mostra um bioantropólogo.

Por que eles foram enterrados assim? Uma passagem para a vida após a morte? Ou uma homenagem dos vivos à vida que se foi? A região está cheia de mensagens deixadas por eles. Cenas de caça, da incrível variedade de animais que andava pelo local.

O primeiro a registrar essas mensagens do passado foi um dinamarquês, Peter Lund, ainda na primeira metade do século XIX. Lund fez muitas descobertas reveladoras. A principal neste lugar: o sumidouro – onde na época da seca o riacho some para dentro de uma caverna subterrânea, que na estação das chuvas transborda, formando um lago.

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No local, Peter Lund encontrou fósseis humanos junto com os de animais da chamada megafauna.
Bichos imensos que foram extintos há 10 mil anos. Como a preguiça gigante, o tigre-dente-de-sabre e o xenorrinotério, um parente do cavalo com nariz estranho.

Um século e meio depois, nos anos 70, o professor André Prous era um jovem pesquisador da missão francesa que foi estudar a região.

“Quando estávamos escavamos na parte de cima, ou seja há menos de 7 mil anos, nós encontramos várias pinturas enterradas. Foi o primeiro caso, acho que na América Latina, em todo caso no Brasil, que permitiu a gente ter uma comprovação de que pinturas, aquelas que a gente chama de rupestre, já tinham vários milênios de existência”, conta o arqueólogo.

Foram anos seguidos de pesquisa, até juntar as provas de vida humana por lá há mais de 10 mil anos. Em uma fenda, eles encontraram ossos humanos espalhados. Primeiro, partes do corpo. No ano seguinte, o crânio.

Ainda foi preciso um tempo para eles entenderem que pertenciam todos a um mesmo indivíduo, uma mulher que morreu ou foi enterrada no local há 13 mil anos. Essa mulher ficou conhecida como Luzia: a primeira brasileira.

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Só 20 anos depois Luzia ganhou fama. O pesquisador Walter Neves, da USP, estudou o fóssil.

“Ela faz parte da primeira população humana que entrou no continente americano”, diz o pesquisador.

Analisando o formato do crânio, as cavidades dos olhos, os dentes, Walter viu que Luzia era negroide, muito parecida com os aborígenes australianos. E muito diferente dos índios que a gente conhece.

“Nós propusemos, então, no final dos anos 80, de que a América teria sido ocupada por duas populações distintas”, diz o pesquisador,

Segundo essa teoria, a população mais antiga, o povo de Luzia, teria atravessado o Estreito de Bering, há 14 mil anos. E, pelo Alasca, foi descendo até chegar ao Brasil. Há 11 mil anos, veio outra leva, a dos ancestrais dos índios atuais.

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A reconstrução artística deu um rosto para os primeiros brasileiros. O vídeo mostra são os traços de Luzia. Não sabemos que cor ele tinha ou qual o tipo de cabelo. Mas podemos, com ajuda da computação gráfica, imaginar.

E não é só o rosto. A cada vez que os pesquisadores encontram um fóssil, uma ferramenta, restos de fogueiras, é como se abrissem uma janela para o passado que nos permite ver e reconstruir a vida que levava o povo de Luzia. Uma vida dura. Poucos passavam dos 35 anos.

Eles não moravam em cavernas. Eram nômades. Caçavam, colhiam frutas, muitas raízes. Nas cavernas eles passavam alguns dias, se abrigavam e seguiam em frente. O povo de Luzia era exatamente igual a nós. Tinham todas as mesmas habilidades, a mesma inteligência que nós. Éramos nós, antes das cidades, do desenvolvimento, da agricultura. Iguais a nós, num mundo muito diferente e perigoso.

O mundo da megafauna, tigres-dente-de-sabre, preguiças gigantes.

“Chegavam com uma zarabatana, um arquinho igual aos que o meu filho brinca, diante de um mastodonte. Diante de uma preguiça gigante que tinha pelo menos 70 centímetros de garra. Era o primeiro astronauta brasileiro. Só papo que ia receber e entrava na órbita”, afirma o paleontólogo Castor Cartelle.

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“O maior terror do povo de Luzia deveria ser correr de um tigre dente-de-sabre. Por razões que nós não conseguimos explicar, eles não caçavam essa megafauna”, diz o pesquisador Walter Neves.

Mas entre as 70 mil peças do Museu de Ciências Naturais de Belo Horizonte, o professor Cartelli tem provas de que eles não desperdiçavam a carne se encontrassem o bicho morto. Um osso de preguiça gigante.

“Este osso equivale a este aqui. E houve nitidamente o trabalho de arrancar. Aqui esses cortes, neste sentido, a natureza não pode fazer isso”, destaca o professor.

O que aconteceu com o povo de Luzia quando os outros chegaram? Em alguns pontos do Brasil, há indícios de que sobreviveu até o século XIX.

“Em alguns locais eles foram completamente substituídos, como por exemplo na costa brasileira, você não tem vestígios dessas populações e em algumas regiões houve cruzamento entre essas duas levas”, diz o pesquisador Walter Neves.

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ESTUDOS NO PIAUÍ
Mas seriam mesmo esses os primeiros brasileiros? Serra da Capivara, Piauí. Região arqueológica declarada pela Unesco Patrimônio da Humanidade. Na paisagem deslumbrante da caatinga, galerias de arte a céu aberto, deixadas por povos que viveram no local.

Um registro rico da fauna da região quando havia uma floresta úmida. Cenas de uma sociedade que valorizava a interação social. Danças, festas.

Um parto. Feito por um xamã, para falar da vida? Ou por um homem que acabou de descobrir a emoção de ser pai? Os tracinhos são uma espécie de contabilidade? Um calendário?

“Isso é a primeira escrita, eram povos que tinham tradições, que tinham crenças. Nós escrevemos tudo que nós sentimos. Eles gravavam, então, dessa maneira. Só que tinha um código e esse código se perdeu com esses povos”, diz a arqueóloga Niéde Guidon

Ninguém conhece este lugar como a pesquisadora Niéde Guidon. Os estudos liderados por ela tentam mostrar que a chegada às américas se deu muito antes do povo de Luzia.

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“As datas são as mais antigas que nós temos, são de 90 mil anos, temos datações de carbono 14 de 58 mil e uma grande quantidade de 30, 20 mil. Tudo indica que vieram da África”, diz a pesquisadora.

A teoria dela é de que há mais de 80 mil anos, os primeiros humanos vieram para cá direto da África, cruzando o atlântico, em balsas, empurrados por fortes correntes marinhas.

No bem montado Museu do Homem Americano, em São Raimundo Donato, é possível ver os fósseis humanos encontrados na região. Os esqueletos são mais recentes do que o povo de Luzia.

Mas as provas de que o homem estava no local há mais de 80 mil anos, são as ferramentas de pedra lascada. A datação foi feita com base em carvão encontrado junto com elas. Mas parte da comunidade científica acha que essas pedras não foram moldadas por humanos.

“Eu era ferrenho opositor das pesquisas da Niéde lá na Serra da Capivara, mas há alguns anos ela me convidou para visitá-la e eu analisei essas ferramentas. Eu saí dessa visita, digamos que 99% convencido de que ela está correta”, diz o pesquisador Walter Neves.

O elo perdido, que vai revelar quando de fato os primeiros brasileiros chegaram, está enterrado em algum ponto do Brasil, esperando para vir à luz.

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“Se você estudar as populações humanas no velho mundo até 10 mil anos atrás, todos tinham cara de africanos”, diz o Walter Neves.

Dez mil anos. Um piscar de olhos na história da evolução humana. Éramos todos iguais. Foi o ambiente onde os humanos se estabeleceram que mudou traços, cores. Criou a diversidade humana. Mas não mudou a espécie, que continua única. Igual.

Fonte: Globo.com/Fantastico

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