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Sem internet nas escolas, tablets ficam sem utilidade no Piauí

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O governo do Estado do Piauí ainda na gestão do ex-governador Wilson Martins (PSB), de fato investiu muito na educação dos piauienses. Uma das bandeiras mais defendidas e onde mais se investiu foi na melhoria do ensino público. Foram milhões de reais, parcerias com governo federal, programas criados e executados pelo próprio governo estadual, além de ter sido uma das gestões que deu início ao processo de inclusão digital nas escolas.

Alvo de diversas campanhas publicitárias, além de conseguir espaço quase que diariamente na programação da TV local, o governador junto com o até então secretário estadual de Educação, Átila Lira (PSB), hoje deputado federal, realizaram uma despesa milionária para a aquisição de milhares de tabletes a serem distribuídos para professores e alunos.

Martins foi reverenciado à época. Mas um detalhe foi esquecido. Como alunos e professores de baixa renda, lá do município de Cristalândia do Piauí, na fronteira com a Bahia iriam usar o eletroeletrônico se as escolas não possuem acesso à internet?

Professores reclamam do pouco tempo de vida dos eletroeletrônicos. Peças para reparo não são mais produzidas (Foto: enviada por professor via WhatsApp)

A licitação feita pelo governo incluía a compra de milhares de tablets, um total que ultrapassava os 10 mil. Todos da marca “Positivo”, uma das melhores. O valor da compra não foi informado, nem mesmo a atual gestão da Secretaria Estadual de Educação soube informar. Eles alegam que existe uma burocracia para que sejam encontrados os contratos da gestão passada, e que isso iria demorar. O certo é que o valor exato não foi informado à reportagem do O Olho.

A data da compra é do ano de 2014. Os aparelhos custaram cerca de R$ 460 a unidade, um preço considerado baixo para um tablet de 10.1 polegadas com processador  RockChip dualcore de 1.5GHz (máximo) com 1Gb de RAM, e resolução de 1024 x 600 pixels, com Wi-Fi e 16 GB de armazenamento. Um dos pontos negativos está no sistema de carga da bateria. Só é possível recarregar a bateria com a fonte DC, ou seja, não dá para carregar usando a USB como na ampla maioria dos tabletes chineses. Em outras palavras, ao invés do professor levar apenas um cabo mini USB para recarregar o tablet durante a aula é necessário levar a fonte, um incômodo tamanho para quem já anda com provas e material para ser aplicado na sala de aula.

Problema sempre ocorre na entrada do carregador (Foto: enviada por professor via WhatsApp)

Em julho de 2014, o governo realizou a distribuição de cinco mil desses aparelhos para as 10 melhores escolas da rede pública estadual, de acordo com o ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A lista não inclui sequer uma escola do interior do Piauí, o que revela a defasagem do ensino fora de Teresina, apesar do “grande” investimento.

Mas a principal reclamação por parte dos professores não está na qualidade nem na quantidade dos aparelhos, mas sim, no pouco tempo de vida que os mesmos possuem. Vários dos profissionais que foram procurados pela reportagem do O Olho afirmaram que o tablet suporta no máximo três meses, e logo apresenta problemas, geralmente na entrada do carregador. Nenhum dos professores quis ser identificado com medo de sofrer retaliações.

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O detalhe é que as peças para reparar o aparelho já não são mais produzidas em larga escala, o que dificulta o concerto. Em Teresina, a reportagem foi em duas das maiores assistências técnica para aparelhos eletroeletrônicos e a resposta foi a mesma: “Desde o final do ano passado nós não estamos mais realizando o reparo”, disse a atendente do Teresina Cell, localizado na avenida Miguel Rosa, na altura do bairro Piçarra, zona Sul de Teresina.

Com poucas peças no estoque, o técnico Franklin Vital, dono da assistência técnica Vital Cell, localizada no bairro Dirceu, na zona Sudeste de Teresina, afirma que já recebeu várias demandas de professores e alunos. “Sim, já recebemos alguns aparelhos. São aqueles tablets amarelo, que a Seduc distribuiu”, disse. Ele completa informando que faz o reparo, mas dependendo do problema o preço varia. “Geralmente todos que veem aqui apresentam problemas na entrada do carregador. Aí o reparo varia, cobro até R$ 70. Se o problema for constatado na trilha aí cada uma eu cobro R$ 20”, revela.

ALMOXARIFADO DA SEDUC AINDA GUARDA MAIS DE 2 MIL TABLETES

Assim que assumiu o governo, o governador Wellington Dias (PT) fez uma visita ao almoxarifado da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), pasta que será gerida pela esposa e deputada federal Rejane Dias (PT). No local, uma grande quantidade de dinheiro público jogada fora. Além de livros velhos, alimentos com prazo de validade vencida, veículos escolares sem uso e mais de 2.091 tablets ainda da licitação feita no início do ano sem uso.

 

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Governador Wellington Dias (PT) durante visita ao almoxarifado da Seduc (Foto: Thiago Amaral/OOlho)

Em contato com a assessoria de comunicação da Seduc, a assessoria de imprensa informou que os aparelhos serão distribuídos ainda nesta semana. Do total, 170 serão distribuídos para professores. Esses ainda são tabletes fornecidos pelo MEC.

O restante que deverá continuar guardado e sem uso, ainda não tem previsão para serem distribuídos. A assessoria informou ainda que todos serão encaminhados para escolas da rede pública estadual que participarão do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (PISA).

Perguntado sobre o critério levado em consideração nas escolas para se está apto a receber o aparelho, ele disse que ainda não há, pois no Piauí 17 escolas participarão do PISA, e a escolha se dará através de sorteio. Isso significa que a mesma escola lá de Cristalândia, sem acesso a internet e com péssima cobertura das operadoras de telefonia poderá ser uma das participantes. Mas qual seria a serventia de um tablet para alunos e professores nesse município? O mínimo que se poderia considerar como critério, seria incluir no sorteio apenas escolas públicas que possuem cobertura de internet. Assim os aparelhos poderiam gerar algum resultado.

Professores da rede pública estadual recebem das mãos so ex-secretário Átila Lira (Foto: Ccom Piauí)

“Alguns aparelhos estão sim defasados. Eles poderão ir tanto para escolas de Teresina como também do interior, já que o governo não rejeita nenhuma”, afirmou.

A reportagem entrou em contato com a professora e a coordenadora de Tecnologia da Secretaria de Estado da educação e Cultura (Seduc) Alzira Coelho Lopes Filha. Ela informou que a maioria das escolas possui sim acesso a internet, mas não wi-fi, e sim nos laboratórios de informática.

“O maior problema hoje é a cobertura das operadoras que não é boa no interior do Estado, a potência precisa ser maior e, além disso, temos problemas com energia, o que acarreta na lentidão da conexão. Mas, mesmo com isso não podemos descriminar nenhuma escola, todas poderão receber os tablets”, ressalta.

Os professores que recebem os tablets teoricamente passam a organizar suas aulas a partir deles. Dependendo da demanda e da finalidade, as salas de informática poderão ser utilizadas durante as aulas para que os alunos possam utilizar os tabletes que ficam disponíveis na escola.

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“Na maioria das vezes eles utilizam para uso pessoal, porque alguns não se sentem bem, se sente desconfortáveis e não os utilizam dentro da sala de aula”, destaca.

PROFESSORES SEQUER SABEM MANUSEAR OS TABLETES

Além de toda a problemática constatada, o pior ainda acontece. Centenas de professores sequer sabem manusear os tablets. A Seduc confirmou a informação, mas disse que oferece cursos de capacitação para que possam utilizar pelo menos as funções básicas.

Aparelhos ficam inutilizáveis nas escolas do interior do Piauí. Quase nenhuma possui internet de qualidade (Foto: MEC)

“Ofertamos cursos para os professores, mas nem todos querem realizar os cursos, ou não podem, por conta do horário. De fato alguns não são qualificados, mas não podemos discriminar ninguém, mas assim como aprendem a usar um aparelho celular, eles podem aprender a usar os tabletes também”, finaliza.

O Olho então foi a campo para confirmar as afirmativas da Seduc. Na Unidade Escolar João Clímaco de Almeida, localizada no Centro de Teresina, 20 tabletes foram encaminhados no final do ano passado, mas até o momento sequer saíram das caixas. A coordenadora de ensino, Lídia Maria Marques, informou que os alunos da escola nunca receberam tablets, e os que foram destinados para a escola deverão ser distribuídos apenas para professores. Desses, todos só poderão ser utilizados dentro do laboratório de informática, que se encontra fechado há dois anos, desde que se iniciou a reforma na estrutura da escola.

“Todos que estão aqui ainda não foram utilizados porque não temos internet no laboratório. Desde que iniciaram as reformas estamos com ele fechado. Para que os alunos possam ter acesso será necessário os professores organizarem um cronograma, ou seja, só utilizarão a partir de um planejamento prévio feito pelos professores”, afirma.

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Mas como esses tablets poderão auxiliar no aprendizado dos alunos da Unidade Escolar João Clímaco de Almeida, caso os mesmos sejam listados entre as 17 escolas do Estado que participarão do PISA?

Falta internet na escola, falta capacitação aos professores e acima de tudo, falta um planejamento por parte do governo para gerir com eficiência os recursos que resistiram à passagem do ex-governador Zé Filho (PMDB) no comando do Estado. Se em Teresina a situação é essa, quem dirá em Cristalândia. Com a palavra o governador Wellington Dias e a secretária estadual de Educação Rejane Dias.

 

 

Fonte: O Olho

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