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TERESINA | Elotrochoque, memórias, traumas: o legado conturbado do sanatório Meduna – Mistério

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Quem fundou o Meduna? Que tipo de equipamentos eram usados lá? Por que este nome? É assombrado? Perguntas como estas ainda causam muitas dúvidas na população sobre um dos mais famosos sanatórios de Teresina, capital piauiense. Localizado no bairro Cabral, zona Norte, o local é envolto em mistério tanto para os mais velhos como para as novas gerações.

Meduna/ Foto:  Müller- Arquivo do IBGE

Completando 70 anos desde a sua fundação, o Meduna foi inaugurado em 21 de abril de 1954 e encerrou suas atividades após uma crise financeira em maio de 2010. O casarão foi construído durante dez anos, com a sua arquitetura inspirada nas fazendas espanholas. Ele contava com oito pavilhões, dois pátios, um edifício com dois andares e 120 leitos. No entanto, atualmente possui apenas parte da construção. 

Natural de Miguel Alves, a 118,2 km de Teresina, Clidenor de Freitas Santos (1913–2000) possuia um sonho de mudar a perspectiva da psiquiatria piauiense. Formado em medicina em Recife em 1936, especializou-se na área no Hospital do Juqueri, em São Paulo. Ao voltar para a capital piauiense, em 1940, ele assume a direção do Asilo de Alienados, renomeando-o como Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu. 

De acordo com o artigo História da Psiquiatria no Piauí: uma história em dois períodos, na Revista de Psiquiatria – Psychiatry on line Brazi, durante o período em que esteve no comando, Clidenor fez mudanças importantes no hospital como, por exemplo, a retirada das correntes que prendiam as pernas dos pacientes. Em 1941, durante um discurso na Associação Piauiense de Medicina, da qual era sócio-fundador, destacou a necessidade de novas terapias e melhorias estruturais na psiquiatria. 

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Ladislau Von Meduna, médico húngaro que descobriu os efeitos do choque cardiozólico nas psicoses endógenas, foi o motivo por trás do nome do sanatório. O que poucos sabem é que com a grande repercussão da inauguração do local, o Dr. Meduna escreveu uma carta dos Estados Unidos agradecendo pela homenagem. 

O médico ainda lamentou não ter presenciado o evento. “Não consigo expressar adequadamente minha grande surpresa quando vi seu lindo hospital, a maravilhosa instalação e todo o Sanatório que leva meu nome. Esta surpresa é tanto maior porque quanto sei que, com exceção de Paris, França, apenas em Piauí, Brasil, podem ser vistos vestígios permanentes do meu nome. Seu hospital garante me que mesmo que meu trabalho seja esquecido, meu nome sobreviverá por muito tempo”, disse em um trecho da carta.

Carta de Ladislas Meduna endereçada de Chicago em 1954. Foto: Artigo “História da Psiquiatria no Piauí”. Carta de Ladislas Meduna endereçada de Chicago para Clidenor Freitas em 1954.

No Asilo dos Alienados, Clidenor introduziu métodos considerados inovadores para a época, como a malarioterapia e o eletrochoque, que também foram implementados no Meduna. A malarioterapia, que consistia na injeção de sangue malárico em pacientes com sífilis cerebral, era vista como uma forma de combater a doença através da febre alta induzida pela malária. 

Já o eletrochoque, apesar de hoje ser considerado um método controverso e antiético, representava um avanço tecnológico na época, pois o primeiro aparelho do Brasil foi construído por Clidenor, em conjunto com o técnico piauiense Benedito Almeida. Neste método, o cérebro é estimulado por meio de eletrodos inseridos nas têmporas, causando convulsões, sendo considerado um método de também de tortura.

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Recentemente foi anunciado o documentário  “Meduna- Quem Sabe Onde Está a Loucura?”, que traz a história completa do sanatório, além de assuntos importantes como o destino do acervo do sanatório, da estátua de Dom Quixote, inspiração do fundador, e até da tela do pintor Cândido Portinari, doada ao Meduna.

“Isso faz parte da minha carreira jornalista de cutucar feridas, né? Então, o Meduna é uma ferida, é um assunto que causa incômodo” afirmou a jornalista Cinthia Lages, que idealizou o projeto e dirigiu a produção.

Um retrato a óleo de Ladislas Meduna, encomendado por Clidenor Freitas ao Pintor Cândido Portinari.| Parte do Jornal Última Hora do Rio de Janeiro- Edição de 1955.O documentário ainda não foi lançado, porém, é possível acompanhar mais detalhes sobre a sua produção e quando será colocado nas plataformas através do Instagram: @medunafilme. 

Fonte: Meio News

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