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Campo Grande do PI

Do interior de Campo Grande do PI, o Clicks do Mês traz a história da bondosa e de grande coração, Dona Geni; Veja!

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Um lugar bonito, tranquilo e acolhedor. A paisagem é formada por um grande casa, que há anos, abriga gerações, amor e histórias de dificuldades, mas também alegrias. Em frente ao casarão, uma singela capela, construída em 1972, por moradores da própria comunidade.

Quem chega à Caiçara, localizada na zona rural de Campo Grande do Piauí, é recepcionado carinhosamente e tomado por uma sensação de aconchego, de lar. E foi nesse local, que o portal Cidades na Net, através do projeto Clicks do Mês, que completou um ano neste mês de fevereiro, encontrou mais uma bela história que merece ser compartilhada.

Eugeniana Leal Bezerra, nascida em 19 de janeiro de 1931, na cidade de Pio IX, filha de Ulisses Bezerra e Ana Leal, é a protagonista principal do Clicks de fevereiro. Aos 89 anos, a matriarca de uma grande família, é exemplo por sua bondade e grande coração.

 

A história da mãe de Tarsila Bezerra da Luz, Ulisses Bezerra Neto, Cirilo Bezerra Luz e Jorge Bezerra da Luz, confirma sua força, coragem e benignidade. Ainda na infância, ela enfrentou a dor de perder o pai. “Nasci e me criei em Pio IX, aí quando eu tinha 7 anos fiquei sem meu pai. Foi um dia de horror. Ele adoeceu, nesse tempo era difícil médico, aí levaram ele para Simplício Mendes e quando chegou foi a história da morte e a bagagem que ele levou. Se foi deixando 6 filhos, 4 homens e uma mulher” relembrou.

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Após a perda, a mãe tornou-se o principal porto seguro da família. “E aí minha mãe foi quem ficou com nós, criou a gente. Meu pai trabalhava na roça e de sapateiro e minha mãe costurava. Ela trabalhava de noite, alumiada por lamparina. Depois que pai faleceu foi que ela “arrochou” a costurar mais na máquina e meus irmãos ficaram trabalhando”.

Ela lembra que eram tempos difíceis e que aos 20 anos casou-se. “E naquele tempo não tinha ajuda de nada, era só do jeito que Deus queria. A bondade que tinha é que podia plantar algodão. Para comprar a feira tinha que pedir para um vizinho comprar em São Julião. Era muita dificuldade, ruim demais. Quando tinha 20 anos casei com um primo meu e vim para cá (Caiçara). Ela ficou com os outros filhos no interior chamado Jurema. Depois dois irmãos casaram também, mas levantaram casa perto”.

Em 1951 ele chegou à comunidade e passou a morar com o marido, Antônio, na casa do sogro. “Eu vim para cá querendo uma casa para morar com o marido (risos), mas vim para a casa do meu sogro. Minha avó morava aqui com a neta, que era casada. A gente queria levantar uma casa, aí ele cortou madeira e tudo, ele ia carregar madeira e eu ia com ele para “tanger” os bois. Aí o marido da neta que morava aqui com minha avó morreu e queriam que eu viesse para cá, mas eu queria minha casa. Mas disseram que não, todos disseram que era para eu ficar aqui, então me conformei e vim. Depois a neta criou os filhos, casou de novo e foi embora, aí quem ficou aqui fui eu, de 51 até os dias de hoje”.

Após três anos de casamento, seu Antônio e dona Geni tiveram o primeiro filho. “Meu marido trabalhava na roça e foi vaqueiro por muitos anos. Eu cuidava do labor de casa, costurava. Quando foi em 53, quando completou 3 anos de casamento, chegou Tarsila, a primeira filha. Ficamos aqui na luta para criar, eu e Antônio era quem trabalhava por todos aqui. Em 54 nasceu Ulisses, em 57 nasceu Cirilo e em 62 veio o Jorge” disse.

Após 22 anos de casados, Antônio faleceu e dona Geni perdeu também a avó. “O Antônio adoeceu, foi a Picos, não teve melhora, foi a Jaicós e ficou internado lá, e a memória dele estava falhando. Ele levou uma queda e criou um coagulo na cabeça. Cuidei dele, ele ficou por aí, foi amolecendo, até que faleceu. Mas ele era duro, foi uma pessoa que sofreu muito, posso dizer que mais que eu, só Deus mesmo para dar coragem. Mas, nossos filhos estão aí hoje todos criados, amparados, do jeito que Deus quis. Foi em 1973 que Antônio morreu e depois minha avó faleceu também e a gente ficou dono da casa. Meus filhos casaram e ficaram morando aqui por um bom tempo” disse.

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Como na casa e no coração de dona Geni nunca faltou espaço, aos 6 anos de idade, chegou Moisés, o filho de criação, que até hoje vive na mesma casa que ela. “Criei também um menino, ele chegou aqui com a idade de 6 anos e foi minha felicidade, porque os meninos foram casando e saindo e ele ficou aqui comigo, o Moisés. Ele casou-se, teve duas filhas, que hoje já estão criadas. Mas o Moisés até hoje mora por aqui” destacou.

O que também chama atenção na história de Eugeniana, é que ela, com suas mãos de amor, cuidou de muitos. “Cuidei de mamãe, da minha avó, uma irmã, de uma tia e do padre David, meu tio. Mamãe morava na Jurema e era doente direto, então pedi para trazer para cá pra mim cuidar. Ela ainda caminhava, comia com a mão dela”.

Ela lembra com detalhes o dia em perdeu a mãe. “Quando foi na festa de setembro, Dr. Luiz, que é primo meu veio aqui e queria levar ela para o festejo, e eu não queria, mas ele insistiu então eu disse para levar, mas que queria que ela voltasse para minha companhia logo. Nós fomos para a festa, ela fraquinha, mas ainda assistiu à missa. Vinhemos embora e eles ficaram lá com ela. Depois quando chegou foi o recado dizendo que ela não estava bem, aí eu fiquei “doidinha”. Depois eles chegaram aqui a noite. O outro dia ela passou todo caminhando dentro casa. Quando foi depois do almoço ela disse que queria ir para a varanda, aí nós levamos. Quando foi 6 horas “ela se acabou” contou.

Depois da avó, dona Geni cuidou de uma irmã, que havia ficado viúva e do Padre David Ângelo Leal, seu tio. “Cuidei de minha irmã Dosa, ela ficou viúva, não tinha filhos, aí veio para cá. Depois passei uns 7 anos cuidando do Padre David. Quando ele tinha piora chamava o médico, a Tarsila é enfermeira e cuidava dele e vinha um médico de Jaicós fazer fisioterapia. Ele foi indo até que aos poucos foi fracassando, faltando o ar, foi muito penoso. Padres vinham visitar ele aqui”.

Dona Geni contou que apesar das dificuldades, Pe. David nunca reclamou. “A gente se apega demais, antes eu sentava de tardezinha na calçada, mas depois isso acabou porque essa era a hora que a gente estava ajeitando ele. Ele nunca reclamou de nada. O Moisés dava banho nele, remédio, dormia lá mais ele. Foi um tempo difícil, até que Deus chamou ele, mas deu o conforto a nós. Deus me deu coragem e cuidei de todos eles com amor” disse.

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Há 4 anos, dona Geni também passou por problemas de saúde, chegando a sofrer três infartos. “Os médicos disseram que foram 3 infartos. Foi um dia de segunda-feira, quando o pessoal chegou da feira eu já tinha sentido umas coisas. Estava ruim, aí quando foi de tardezinha falei para eles, aí fomos para Jaicós ainda de noite, depois para Picos e Teresina. Fui com uma neta, uma nora e quem me levou foi Danilo”.

Apesar de ter sido um momento angustiante para a família, a forte Eugeniana conseguiu vencer. “Quando chegamos lá ‘era todo mundo aperreado’, preocupado. Fiz uma operação e fiquei ruim, mas ainda consegui dormir e quando foi no dia seguinte foi a outra operação. No primeiro dia ainda fui na UTI, passei a tarde lá, mas escutava e via tudo. No segundo dia de tarde fiquei internada, estava “me vendo com a dor” e sentia muita sede, aí a enfermeira me deu água e aplicou uma injeção no soro, aí dormi a noite toda. No outro dia de manhã voltamos. De lá para cá, graças a Deus não sofri mais assim. Mas um tempo depois tive uma anemia, ainda tomei sangue. Mas ‘tô’ com aqui com 89 anos”.

A idosa também possui uma grande fé. Sobre a capela, ela lembra que foi bonito ver todos juntos construindo. “Essa capela foi levantada em 72, a comunidade se juntou, ai saia um rapaz com uma lista pedindo ajuda na vizinhança. Em setembro sempre tinha o leilão, juntava muita coisa e a gente ia arrecadando, até quando deu pra fazer. Meu marido trabalhou aqui na construção, Ulisses também. Foi muito bonito no tempo dessa construção”.

Em 2018, um incêndio destruiu parte da capela, que havia sido construída com tanto esforço. Mas dona Geni, dizendo que Deus não desampara ninguém, contou que a capela foi reconstruída. “Quando foi no ano ‘trasado’, a gente rezou a novena, aí ficou uma vela acesa aqui de noite e quando a gente foi ver no outro dia tinha incendiado. Queimou a mesa, o altar, foi uma coisa triste e eu fiquei sem saber o que a gente ia fazer. Mas Deus não desampara ninguém. Meu primo, Dr. Vicente lançou um livro e deu dois mil desses livros para reconstruir a capela” lembrou.

Por fim, Eugeniana, confirmando o amor que tem pela Caiçara, disse que de lá não pretende sair. “Se Deus quiser, enquanto tiver um pé de pessoa para olhar por mim aqui dentro de casa, não tenho plano de sair daqui. E eu vivo satisfeita, porque não vivo desprezada, sou bem acolhida por minha família, que é minha riqueza. Os que moram de São Paulo pra cá, de Fortaleza, toda vez que ligam perguntam por mim. E eu rezo por todos, todos os dias” finalizou.

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Nos Clicks de Dona Geni, retratamos a sua simplicidade, doçura e fé.

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