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Betânia do Piauí

Famílias afetadas por obras de mineração e Transnordestina se mobilizam; Curral Novo do PI e mais 6 cidades receberão equipe do Governo

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Com o intuito de unir forças e buscar soluções para as dificuldades enfrentadas por famílias de comunidades dos municípios de Curral Novo do Piauí, Paulistana e Betânia, que tem sido afetadas pela atividade de exploração do minério na região, moradores, representantes da Diocese de Picos e do Governo do Estado, participaram de uma reunião nesta quinta-feira (28).

A reunião foi realizada na capela de São José, na comunidade Baixio dos Belos, em Curral Novo do Piauí. O encontro foi idealizado pela Cáritas Diocesana de Picos, juntamente com o bispo diocesano de Picos, Dom Plínio José, que tem somado força junto ao povo em uma luta que já dura cerca de 4 anos.

O Bispo Dom Plínio, em entrevista ao Cidades na Net, disse que vários passos já foram dados. “Aqui está tudo encaminhado para implantar uma mineração e já causou grande impacto no povo. No período do teste eles entravam nas comunidades, fizeram pressão para as pessoas venderem a propriedades. Acompanhamos já a luta há anos, a primeira reunião aconteceu quando o povo estava desesperado, sem nenhum apoio e de lá para cá tem acontecido vários passos” disse.

Dom Plínio disse que tem sido cobrada uma resposta por parte do Governo e ações em benefício das famílias. “Depois que realizamos a 14º Romaria da Terra e da Água foram feitas diversas cobranças ao Governo do Estado para manter presença, porque eles nunca vieram aqui, nunca visitaram ou vieram falar para o povo o porquê da implantação desses projetos de mineração, ferrovia, energia eólica. Mandamos proposições ao governo de ações que possam favorecer esse povo que mora nessa região que sofre muito as consequências desses projetos implantados, que não deixam de ser evolução, mas também tem causado sofrimento ao povo” falou.

Sandecleia Modesto de Macedo, professora no município de Betânia e agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que acompanha as famílias afetadas, disse que os projetos são implantados sem discussão. “Acompanhamos essas famílias e nos reunimos de dois em dois meses para discutir nossa caminhada e lutar pelos nossos direitos. Esses projetos nos são colocados de cima para baixo, vem prontos para serem implantados nas nossas comunidades sem discussão alguma, não opinamos em nada, chegam prontos e tem que ser instalados porque é capitalismo e tem que gera renda” disse.

A professora disse que os projetos trazem atraso para o que já enfrentam dificuldades. “Esses projetos trazem desenvolvimento para quem já é desenvolvido e atraso para aqueles que já vivem na miséria, como é o caso da Serra do Inácio, que tem gente passando fome ao lado de um parque eólico, que gera milhões de reais” falou.

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A partir as reivindicações feitas, o governo criou o grupo denominado de GT da Romaria da Terra e da Água no Piauí, que visitará entre os dias 11 e 17 de março de 2019, as cidades de Pio IX, Caldeirão Grande, Marcolândia, Simões, Curral Novo do Piauí, Betânia e Paulistana, para avaliar os impactos causados às famílias pelas obras dos projetos de energia solar e eólica, mineração e ferrovia Transnordestina.

A equipe visitará as comunidades, as residências, ouvir os relatos das famílias afetadas e participar de uma reunião com os moradores. A comissão é formada por membros da Secretaria do Planejamento do Estado do Piauí (SEPLAN), Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), CÁRITAS REGIONAL DO PIAUÍ, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Instituto de Terras do Piauí (INTERPI), Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB – 02).

Sandecleia Modesto disse que a vinda do GT foi uma grande conquista. “Esse momento para a gente é uma conquista de anos de luta. Conseguimos o grupo de trabalho com representantes do Governo para vir de encontro com todas as denúncias que temos feito ao longo dessa caminhada. Temos nos articulado para receber o GT e que ele trabalhe a favor das comunidades não como favor, mas é direito nosso. Não vamos deixar virem do ar condicionado em Teresina com projetos prontos para serem executados aqui porque quem sabe das nossas necessidades somos nós e eles tem que garantir nossos direitos conforme a nossa necessidade” falou.

O idoso Francisco Manoel, de 76 anos, disse que o governo precisa controlar a situação. “Essa terra tem dado muito “quebra cabeça”, já andou pessoas lá para tomar a terra. Eles querem comprar por fora do valor. Agora o governo vai vir para falar com nós então eles tem que controlar, saber como vai ficar isso, pois o negócio não é fácil, o caba já trabalhou, já está no fim da vida, tem que ter a indenização forte, não pode ficar sem ter onde morar, no meio do tempo, sem ter como viver” disse.

Durante a reunião, os participantes compartilharam suas experiências e opiniões.

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Mineração

O empreendimento de mineração que tem afetado as comunidades dos municípios citados é o Planalto Piauí. O minério encontrado no Piauí é o ferro, identificado como de alto padrão. A jazida já é considerada uma das maiores reservas do minério no país.

A área do empreendimento é de aproximadamente 43km² e corresponde as cavas, instalações de beneficiamento do minério, estruturas de apoio, barragem de rejeitos, pilhas de estéril e estações de tratamento de efluentes.

O empreendimento é da empresa Bemisa (Brasil exploração mineral AS), que pertence ao grupo Oportunity e está desde 2008 na região, estudando as potencialidades do local a fim de explorar, por meio de uma concessão da União.

Em 2009 foram feitas oito perfurações no solo, de 1040 metros de profundidade. Atualmente são 329 furos, numa extensão de 8 km, onde pode se encontrar minérios como magnetita, quartzo e bório. Segundo dados, de 1 bilhão de toneladas de minério, 252 milhões são aproveitáveis para fins comerciais. No caso do Piauí, o que chama atenção é o alto teor de ferro presente nos minerais

Transnordestina

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Os trilhos que deveriam gerar desenvolvimento e benefícios, se transformaram em sinônimo de sofrimento e perdas. Já se passaram doze anos desde que foi iniciada a obra da Ferrovia Transnordestina, que está parada desde 2017 por conta de indícios de irregularidades apontadas pelo TCU.

A obra ferroviária possui mais de 1.700 km, que pretende ligar Eliseu Martins, no Piauí, aos portos Pecém, na região metropolitana de Fortaleza, e de Suape, em Pernambuco. Mais de 6 bilhões já foram gastos.

A empresa privada Transnordestina Logística S.A., é a responsável pela construção e operação da ferrovia, que passará por 81 municípios do Piauí, Ceará e de Pernambuco. A obra foi parada devido a problemas de governança, qualidade, falta de estudos e desconhecimento de valores.

.A obra foi parada devido a problemas de governança, qualidade, falta de estudos e desconhecimento de valores. A obra ferroviária possui mais de 1.700 km, que pretende ligar Eliseu Martins, no Piauí, aos portos de Pecém, na região metropolitana de Fortaleza, e de Suape, em Pernambuco. Mais de R$ 6 bilhões já foram gastos.

Quando ainda estava em operação, a obra causou diversos prejuízos a comunidades do entorno, como destruição de favelas, deslocamento forçado dos animais, restrição à movimentação dos animais, fechamento de passagens, apicultura prejudicada, perda de terras, interferência nas manifestações culturais e rachaduras nas casas.

Hoje, as famílias prosseguem lutando em busca de receber as devidas indenizações. Nos locais onde passa a ferrovia, restam as enormes crateras feitas, montanhas de pedras e o retrato de um Brasil que ainda está muito distante do real desenvolvimento.

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