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JAICÓS | Antes e depois do Açude Tiririca: relatos de quem viveu tempos de fartura

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Antes existia fartura, muito peixe, água limpa. Nos finais de semana os visitantes não paravam de chegar. As famílias que moram próximo ao reservatório viveram tempos de alegria e bonança. As margens do Açude Tiririca, na cidade de Jaicós, guardam muitas histórias.

Agora o cenário mudou. Os bons tempos ficaram somente nas lembranças e trazem saudade. Quem muito usufruiu da água do açude, hoje tem sua casa abastecida através de poço ou até mesmo compra o líquido. O peixe, que antes tinha em abundância e recheava as mesas, está em falta. A água, que era alva, hoje possui uma cor desagradável e pouco é utilizada.

 

              “Os bons tempos ficaram somente nas lembranças e trazem saudade”

 

A tarde dessa segunda, 22 de abril, foi dedicada a ouvir relatos de alguns moradores. Percorremos os 5km que separam Jaicós da localidade Tiririca, para contar um pouco dessa história. Ao chegar, percebemos que o próprio cenário fala por si.

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     “Locais por onde caminhamos, chegaram a ser tomados pela água no ano de 2004”

O que encontramos foi muito mato, uma água de cor alaranjada, em alguns pontos, coberta de vegetação. Um bar onde antes era um local onde famílias e amigos se reuniam em dias de lazer, hoje não existe mais. Locais por onde caminhamos, chegaram a ser tomados pela água no ano de 2004, último em que o açude sangrou. Hoje resta o chão seco.

Luiz Nobre de Albuquerque, que mora próximo do açude há 8 anos, relembrou como era antes. “Aqui era bom há uns 20 anos atrás, tinha peixe com fartura, água boa, limpa, muita gente bebia de lá mesmo, sem tratar, a água era alva, não era vermelha. No final de semana o pessoal vinha banhar, gente de Picos, de todo lugar” relembrou.

Luiz disse que agora a água é pouca e o açude está sujo. “Agora de 3 anos para cá a água é pouca, não chega mais no sangradouro, devido a isso o peixe morreu aí em uma época. Nunca mais encheu, não pega água nem para chegar no normal, está sujo, desprezado. Não tem peixe, porque antigamente tinha, a gente pescava muito. Esse ano apareceu esse fenômeno aí e a água está cheia de planta. Praticamente acabou, ninguém se encarece da situação” disse.

 “Praticamente acabou, ninguém se encarece da situação”

Ele era proprietário do bar, que recebia muitos visitantes, mas, teve que fechar o negócio. “Hoje não existe mais o turismo. Eu vendia aqui no barzinho, tinha peixe, carne, cerveja, refrigerante, mas agora acabou, tivemos que fechar. Se tivesse um inverno bom, chegasse a sangrar para limpar a água e o pessoal voltar a prática de banho seria bom, mas o açude sangrou em 2004, depois disso nem encheu mais. Se voltar a sangrar, penso em reabrir” falou.

Hoje, a família de seu Luiz, morando às margens do açude, é obrigada a comprar água. “Aqui eu compro água, são 4 mil litros por mês, 80 reais de água. A gente compra para beber e cozinhar e para as outras coisas usamos do olho d´água, quando tem. Porque essa água do açude desse jeito aí não presta nem para fazer uma ligação para uma verdura. Se for lavar roupa tem que colocar em um tambor e colocar produto para limpar. E a dificuldade aqui é grande, também tem vezes que a gente perde animal, que morre atolado aí dentro” contou.

A segunda pessoa com quem conversamos foi seu José Araújo, de 89 anos. Ele é um dos moradores mais antigos da localidade, que com certeza, guarda muitas lembranças. Mas, seu José, com a voz rouca e fraca, e com uma olhar carregado de tristeza, pouco nos falou.

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Ele apenas lembrou que quando o açude estava cheio a água chegava perto de sua casa e que muito trabalhou no Tiririca. “Encher mesmo só foi uma vez. A água vinha até aqui perto (da casa). Mas eu trabalhei muito aí, pescava, tinha muito peixe. O açude nunca secou de uma vez, mas diminuiu muita água. Mas mesmo assim, nunca saí daqui, já morei ali mais em cima, depois mudei para cá. E é assim mesmo como Deus quer, o que Ele faz pode também desmanchar” contou.

       “E é assim mesmo como Deus quer, o que Ele faz pode também desmanchar”

Rosalina da Conceição, que mora próximo ao açude há 44 anos, disse que antes era movimentado. “Quando ele estava sangrando vinha bastante gente, de Picos, Padre Marcos, Paulistana, era muito movimentado. Mas agora, o que que vão vir fazer aí? O açude não sangrou mais e só tem sujeira, mato. Meu marido mesmo trabalhou aí carregando pedra para fazer a parede do açude. Agora tem uma grande diferença, antes era limpo, e a gente cavava umas cacimbas na beira do açude, quando não tínhamos água. Mas hoje não me beneficio da água do açude” disse.

Andreia da Conceição, de 27 anos, nasceu na comunidade e lembra de como tudo era diferente. “Aí era cheio de gente quando o açude enchia, era bom, mas agora está seco, cheio de mato, abandonado. A gente pescava direto, tinha fartura, até hoje os meninos ainda vão pescar, mas não conseguem pegar nada. Agora aqui está fraco é tudo, nem a água do poço está chegando aqui para nós. Aí quando não vem água a gente tem que pegar no açude para labutar, lavar roupa. E a gente compra também a água” disse.

 “Era bom, mas agora está seco, cheio de mato, abandonado”

Cristiane Pereira, que também nasceu na comunidade, disse que viu o açude sangrar, que a água era limpa. “O açude era bom, limpo, enchia, já vi ele sangrar, a água descia na estrada para o sangradouro. Antes os prefeitos mandavam limpar, podia olhar que via a terra no fundo do açude, a gente pescava, tomava banho, pegava água para lavar roupa, lavar louça, antigamente não tinha o poço aí a gente cavava cacimba, pegava água, era alva” contou.

Ela disse que hoje tudo mudou. “Hoje está sujo direto, tem lodo, garrafa dentro. A água é vermelha agora por causa dos barreiros que estouram, não presta para lavar roupa, se lavar louça fica amarela, não limpa. Nunca tinha visto o açude assim. Agora nem do poço tem água mais, estamos há 3 dias sem água aqui, porque fecham o registro e a água não chega, tem que comprar. Mudou totalmente” finalizou.

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Após conversar com Cristiane, encerramos nossa jornada. Depois de ouvir e descrever aqui tantos relatos, e pisar naquele chão de memórias, se repete na mente até agora, a música Terra, Vida e Esperança, do “Rei do Baião” e é com um trecho dela que encerro, desejando que a esperança do sertanejo não se acabe.

“Ser sertanejo, senhor

É fazer do fraco forte

Carregar azar ou sorte

Comparar vida com morte

É nascer nesse sertão.

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A batalha está acabando

Já vejo relampear

Abro o curral da miséria

E deixo a fome passar

O que eu sinto, meu senhor

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Não me queixo de ninguém

O que falta aqui é chuva

Mas eu sei que um dia vem

Vai ter tudo de fartura

Pra quem teve hoje não tem”

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