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Por amor à educação, professora de Jaicós desenvolve projeto voluntário; conheça a história de Socorro Coutinho

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“Eu nunca poderia pensar em educação sem amor. É por isso que me considero um educador: acima de tudo porque sinto amor”. A frase de Paulo Freire parece se encaixar perfeitamente, pois, como li recentemente nos escritos de uma educadora “Ser professor é, muito antes que uma profissão, é uma das formas mais genuínas do amor”.

Um amor que é recheado de experiências vividas por aqueles que ajudam no ingresso no mundo do conhecimento, que sofrem com as derrotas e vibram com as vitórias dos alunos, que ensinam não só o conteúdo, mas repassam aquilo que sabem sobre a vida. Que não tem medo da roupa suja de giz ou da pilha de livros para carregar e que, através da sala de aula, acabam por viver muitas vidas além da sua.

São muitas as definições para um professor. Muitas histórias de vida, garra, luta, dificuldades e vitórias, que inspiram e merecem ser compartilhadas. Talvez não consigamos conhecer todas, mas podemos nos emocionar e inspirar com algumas delas. E neste mês em que se comera o Dia do Professor, o portal Cidades na Net, conta uma dessas histórias.

A protagonista é a professora Maria do Socorro Coutinho Sousa, ou simplesmente Socorrinha, como é carinhosamente chamada. Formada pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), em 2002, com pós-graduação em psicopedagogia e supervisão escolar, ela tem 26 anos de atuação na educação.

De família simples, mas batalhadora, Maria do Socorro conta que demorou muito para fazer um curso superior, por conta das dificuldades financeiras. “Fui fazer um curso superior depois que já estava trabalhando há muito tempo, pois quando terminei grande parte de minhas colegas foram estudar fora, mas eu fiquei parada, porque nossos pais não tinham condição de me colocar para estudar fora. Com as condições difíceis, a escola normal já era muito para eles. Umas colegas foram para o Crato, outras para Campina Grande, e nós ficamos esperando a oportunidade” relembrou.

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Mas, mesmo diante das dificuldades, ela se manteve de cabeça erguida. Apaixonada pelos livros, resolveu investir na leitura. “Tinha muita vontade de estudar, então me dediquei a leitura, que sempre gostei muito. Já que eu não tinha acesso à universidade, por falta de condição, resolvi ir lendo para me manter atualizada” ressaltou.

Com o tempo, os resultados e oportunidades começaram a surgir. “Passei no concurso do estado e comecei a trabalhar, só que durante muito tempo não tivemos acesso a uma universidade. Em 1999 foi que teve uma abertura para fazermos um curso de férias e nesse tempo me interessei pelo curso de pedagogia.  Quando entrei na universidade foi outro mundo, lá descobri a essência do curso e me encontrei”.

Após o ingresso na universidade, o gosto pela leitura aumentou. Maria do Socorro guardava tudo que lhe chamava atenção, aos poucos foi comprando livros, revistas e ali começava o que mais à frente se transformaria em um grande acervo.

“Quando entrei no curso me despertei mais para os livros, a leitura, e tudo eu ia guardando. Guardava pequenos pedaços de papel, trabalhava e comprava aos poucos os livros. Investi muito em revista, livros, coleções, que faziam com que eu tivesse uma aula, uma didática e visão melhores. Eu fui guardando tudo, até que chegou um certo tempo em que eu me incomodei em ter tanta coisa só para mim”.

Após passar por um momento difícil e receber o conselho de um amigo, Socorrinha decidiu se dedicar ao que mais a atraia no mundo pedagógico. “Passei por um momento difícil, de complicações de saúde e nesse período me encontrei com um amigo, o Otávio, e ele me abriu a mente. Relatei o que estava passando e ele me disse para fazer algo que me desse prazer. Quando ele me falou isso eu pensei ‘eu gosto da questão dos jogos”, porque me identifiquei com a Teoria de Vygotsky. Então comecei a me dedicar a isso”.

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Ela começou a criar uma coletânea de jogos e daí nasceu um projeto pedagógico. “Pensei em fazer uma coletânea de todo jogo que eu visse. Nesse tempo a gente não tinha acesso à internet como hoje, e quem tinha um livro era uma raridade.  Então eu comecei a fazer a coletânea, todos que encontrava eu ia xerocando e guardando. Quando já tinha uma certa quantidade, resolvi produzir o material e aí veio o primeiro projeto, “Espaço Lúdico Brincando e Aprendendo”, em 2004, feito por mim e pela professora Edileusa, com o apoio de Raminha, que era a supervisora da época”.

Ela conta que o projeto, que foi desenvolvido na escola Lili Silveira, foi positivo. “Edileusa fazia o material e eu ajudava, pois naquele tempo eu não era ‘a artista’, era a que idealizava, tinha a ideia.  Desenvolvemos esse primeiro projeto no Lili Silveira, nas turmas de aceleração, e foi muito bom, as aulas rendiam e os alunos gostavam. Depois desse primeiro projeto comecei a dar aula na EJA e também fui utilizando algumas dinâmicas”.

Querendo levar para mais pessoas todo o conhecimento que havia adquirido, Socorro resolveu compartilhar suas experiências através da internet. “Em 2015, incomodada sobre o que eu estava fazendo com tanto conteúdo, resolvi criar uma página no facebook, “A magia dos jogos e materiais pedagógicos”, que hoje está com 22 mil seguidores. Fui vendo a coisa evoluir, muita gente curtindo, compartilhando, pedindo ideias e aí eu me empolguei, porque o trabalho já estava tomando uma outra proporção que estava ajudando a muita gente. Porque não adianta a gente guardar conhecimento, tem que compartilhar, pois se é bom para mim, pode ser para muita gente” falou.

Mas o trabalho que vem marcando sua trajetória na educação e também aprimorando a maneira de ensinar de diversos professores, é o projeto “Oficinas Pedagógicas”. Por amor à educação, Maria do Socorro Coutinho tem desenvolvido de forma voluntária o projeto, que já está presente em Jaicós, Massapê do Piauí e Francisco Macedo.

“Em 2017 comecei a fazer o projeto voluntário. O município disponibiliza todo o material que a gente precisa e a gente faz os recursos. O projeto piloto é em Massapê, onde já está com três anos. Faço também em Jaicós e Francisco Macedo. E em todas as cidades a gente tem o apoio incondicional dos gestores, eles realmente abraçam, tem carinho e não deixam faltar um item que a gente precisa” disse.

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Ela agradece aos professores que participam do projeto, destacando que eles são a peça chave. “Meu agradecimento a todos que participam do projeto, gestores, secretários, supervisores, coordenadores , diretores professores e funcionários. Vocês são peça chave de todo trabalho desenvolvido. Professores vocês são dedicados empenhados e criativos. A palavra que descrevo a todos Amor, Amor e Amor. A cada encontro me deparo com muita emoção e superação. Depois de três anos vocês conseguem me surpreender sempre” falou.

Pelo trabalho que realiza a professora não ganha dinheiro, ela recebe algo de maior valor. A alegria, o brilho no olhar e o sorriso de cada criança que ouve uma história, que aprende através dos recursos pedagógicos produzidos nas oficinas do projeto.

Por esses e outros motivos, ela diz que pretende realizar o trabalho por muitos anos. “Temos um grupo do projeto em Massapê e todas as vezes que abro me emociono. E esse ano teve um diferencial, porque na creche Tia Biluca a gente tem uma criança com deficiência e ele adora as histórias, participa com os outros, ama os contos de fada e fica muito feliz ouvindo as histórias. Aí toda vez que elas colocam os vídeos eu choro. Esse é apenas um dos exemplos, tem muitos outros, toda vez que abro vejo que é o caminho, que sou feliz e se eu tiver saúde para continuar vou fazer por muitos anos porque realmente vale a pena e está chegando no verdadeiro objetivo que é o aluno, é eles se encantarem pela leitura desde pequenos” relatou.

O trabalho da educadora tem cruzado fronteiras e sido exemplo para outros professores. “Faço esse trabalho apenas para ver os resultados, ver as crianças sendo felizes. Tem uma professora no Rio de Janeiro fazendo esse trabalho baseado no meu, no que ela acompanha no facebook. Ela também está desenvolvendo oficinas voluntariamente e disse que está encantada” disse.

Com a mente inquieta e cheia de ideias, Socorrinha produz os diversos recursos que usa em suas oficinas. Da internet, revistas, livros e de sua fértil imaginação, surgem belas produções.

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“Tenho material produzido que as ideias são das revistas, livros, da internet e outra parte, como as latinhas, sacolinhas e caixas de camisa são criações minhas. Nunca encontrei um material que não pudesse fazer dele um recurso para ser trabalhado em sala de aula, qualquer latinha para mim é grande coisa. Vejo os professores fazendo o material e levando com tanto carinho, é como se aquela caixa que ia para o lixo tivesse se transformado em um grande tesouro” disse.

Na casa onde mora com a família, a professora tem uma sala especial onde guarda com muito carinho, todo o material que conseguiu adquirir e produzir em mais de duas décadas de uma história de amor com a educação.

Quem chega ao local se encanta com tantos livros, revistas, jogos, tudo cuidadosamente organizado e bem cuidado. Materiais feitos à mão e a primeira coletânea de jogos ainda estão guardados, junto com uma carga de amor, lembranças e significados.

No local, a professora tem em média 120 livros, 1500 revistas, 40 coleções, 500 jogos pedagógicos confeccionados, 2.000 arquivos de jogos e 3.000 atividades.

Quem no início não teve oportunidade, hoje cria um mundo de sonhos para diversas crianças. “E assim vamos tendo a sensação que aos poucos as coisas podem ir mudando e que nossas crianças no futuro podem ser alguém. Acho que isso vem muito também da questão de eu não ter tido uma oportunidade no tempo certo, aí você quer que as outras crianças tenham. Mas apesar de tudo eu fui feliz, toda inspiração, tudo que eu penso eu lembro da minha primeira professora, que foi dona Ana Passos. Ela ensinava para gente brincando e de qualquer material fazia um recurso que deixava a aula mais alegre. Aquilo ficou na minha memória e quando passei a ser professora lembrava de tudo isso, ela foi minha musa inspiradora” contou.

Por fim, a educadora disse que faz apenas um grão do que pode ser realizado quando se tem um incentivo. “Sabemos que tem muitas pessoas que se interessam que a educação seja de qualidade, mas muitas vezes você precisa de um incentivo. O meu incentivo foi estar em um determinado momento tão desanimada com o rumo da educação, até perceber que poderia fazer alguma coisa. Hoje estou fazendo apenas um grão, mas estamos colocando para frente e quanto mais seguirmos adiante melhor, vamos dando oportunidade a mais pessoas de conhecerem a leitura” concluiu.

Atualmente, Maria do Socorro Coutinho Sousa atua como professora auxiliar na creche Tia Lourdinha e há 3 anos realiza trabalho voluntário.

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