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Uma cultura interrompida pela pandemia: como quadrilheiros da Chamego Bom, de Jaicós, tem enfrentado o desafio de um ano sem São João

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Os balões, as bandeiras colorindo o cenário, os diferentes e coloridos trajes preparados cuidadosamente. As coreografias e temáticas pensadas em seus mínimos detalhes para levar alegria, encanto e beleza para os diversos olhares que atentos acompanham cada espetáculo.

Todos os anos, o mês de junho é marcado por esse cenário, mas em 2020, as coisas serão diferentes, pois uma tradição foi interrompida pela pandemia. Para os nordestinos, o mês de celebrar o São João, uma das festas mais aguardadas, será marcado pela saudade.

No município de Jaicós, seria realizada a XXVII edição do São João do Galo, mas diante do cenário, a Prefeitura Municipal já confirmou que a festa não ocorrerá este ano.

JAICÓS | Confira a programação completa do XXVI São João do Galo

Além das quadrilhas de escolas, o município possui atualmente uma quadrilha regional que participa anualmente de diversas competições, a Junina Chamego Bom. Para cada integrante do grupo, que sempre aguardam ansiosos a chegada do mês de junho, o momento tem sido de tristeza, por um ano em que seus corações não irão pulsar de alegria no meio do “arraiá”.

 “A gente parar durante um ano traz um sentimento de tristeza, angústia e saudade. Esses dias tenho observado os status do pessoal que faz parte da Junina Chamego Bom e tenho percebido o sentimento de tristeza. Antes, eles pensavam que iria acontecer, mas agora já chegou o mês. Não estamos ensaiando, não temos nosso figurino, nossos calçados. Nosso pré-junino teria sido no último sábado. Então acho que caiu a ficha para eles agora que não vai sair esse ano. A gente aceita, pois os desígnios de Deus só ele entende, mas aceitamos com tristeza, pois na nossa concepção é um ano que a gente vai deixar de evoluir, de estar com outros grupos culturais e juntamente com eles podendo aprender algo diferente para a gente trazer para nossa cidade” lamentou o presidente da Chamego Bom, Genival Oliveira.

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Genival disse que a quadrilha começou a trabalhar para este ano ainda em novembro de 2019. “A gente começou a trabalhar em novembro de 2019 através de algumas leituras para a gente fazer o desenvolvimento da temática. Ainda em novembro resolvemos que iriamos trabalhar sobre o tema “Contos ao redor de uma fogueira”, e já estávamos bem avançados com relação ao tema. Feita a escolha a gente mandou para o roteirista, ele fez toda a parte do teatro, organizou o que precisaríamos para montar o cenário e nos ajudou com relação a trilha sonora, pois esse ano fizemos diferente, resolvemos que nós mesmos iriamos montar a trilha sonora. Fomos vendo as musicas que davam certo com o tema e montamos a trilha”.

Presidente da Chamego Bom, Genival Oliveira, na apresentação de 2019

Com parte da coreografia pronta, no mês de janeiro eles já tinham começado os ensaios. “Depois fomos atrás de Manu Soares para ver a possibilidade de ele coreografar, ele aceitou o desafio, começou a estudar as músicas do tema e no final de janeiro já começamos a ensaiar. Manu fez a coreografia de todas as músicas, ficando faltando somente os destaques, que é o cangaço, rei e rainha, casal tema e noivos, que são partes individuais”.

O figurino também já havia sido pensado e agora será aproveitado para o próximo ano. “A gente também já tinha desenvolvido o croqui do figurino, juntamente com adereço de cabeça e chapéus. Esses adereços e outras coisas que iremos usar, vamos readaptar para o próximo ano. Já tínhamos escolhido tudo, a cor, mas não tínhamos começado a confeccionar ainda. Já tínhamos gastado uma quantia considerável com algum material que a gente sempre precisa para os ensaios, montagem do teatro” disse.

Premiações já conquistadas pela quadrilha

Por fim, Genival falou da dificuldade de se fazer cultura e que ajudas são sempre bem vindas. “Ajuda sempre é bem-vinda, pois sabemos a dificuldade que é fazer arte, cultura, educação, qualquer coisa que faça com que o ser humano desenvolva seu intelecto. Temos sim dificuldades financeiras, porque não temos uma lei que ampare a cultura a nível municipal ou estadual, então precisamos de toda e qualquer ajuda e o que vier até a gente com certeza será bem utilizado pela equipe da Chamego Bom”.

Bianca Rangel da Silva, 21 anos, faz parte do grupo cultural Chamego Bom desde 2017. Ela começou como dançarina substituta e em 2018 conquistou o cargo de noiva, onde está até o momento. Ela disse que as expectativas para o ano de 2020 eram as melhores. “Minhas expectativas eram as melhores possíveis, pois o projeto estava incrível. Já tínhamos dado início aos ensaios desde janeiro e todos os dançarinos estavam empolgados, pois só quem dança sabe o que é sentir aquele frio na barriga ao colocar os pés em quadra” destacou.

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Bianca em apresentação na cidade de Padre Marcos, em 2019

A jovem disse que o sonho da apresentação desse ano foi interrompido, mas que em 2021, a junina vai protagonizar um grande espetáculo. “Infelizmente esse sonho foi interrompido pelo o que estamos vivenciando hoje. Só nos resta saudades, e a certeza de que em 2021 a Chamego vai vir com um belíssimo espetáculo, conquistando os corações de muitas pessoas e levando o nome da nossa querida Jaicós a ser bem mais reconhecido” falou.

Na Junina Chamego Bom há 3 anos, Diogo Éder disse que saber que não haverá apresentação esse ano, causa um aperto no coração dos quadrilheiros. “Dá um aperto muito grande no coração de nós quadrilheiros que realmente gostamos muito da cultura, de dançar, de sentir aquela energia boa das quadrilhas. É muito triste mesmo entrar o mês de junho e a gente saber que não vamos ter nossas festas juninas, não vamos poder entrar em quadra e mostrar nosso espetáculo, vê a emoção do público nos aplaudindo, aquela força que eles dão. É algo realmente muito ruim”.

Ele disse que dançar em uma quadrilha não é apenas uma brincadeira, mas um mundo de aprendizado e contatos. “Para nós quadrilheiros não é apenas um esporte, uma brincadeira, é algo que fazemos por prazer, porque a gente gosta de dançar, de sentir as pessoas. E a cultura das quadrilhas juninas também traz vários ensinamentos para nós jovens que gostamos de aprender coisas novas. A gente tem contato com pessoas novas, com cidades, gostamos muito das nossas viagens. A gente passa 6 meses ensaiando, planejando nossa estrutura. Esperamos muito por nossas viagens, onde nos divertimos e aprendemos muito” contou.

Por fim, Diogo disse que apesar tudo, o ano pode ser aproveitado para a busca de coisas novas para engrandecer o próximo espetáculo. “É realmente muito triste o que estamos vivenciando devido a pandemia da Covid-19, mas este ano que a gente vai ficar esperando serve para aprendermos mais, buscar coisas novas e preparar um bom espetáculo para 2021. Este ano de 2020 iriamos vir com um espetáculo muito lindo e renovador, mas com fé em Deus em 2021 vamos voltar com tudo, mostrando o que a gente tem de melhor, trazendo nosso espetáculo, vendo a vibração das pessoas ao nos verem e fazendo o que a gente mais gosta, que é dançar quadrilha” disse.

Mesmo não tendo como se apresentar este ano, a quadrilha segue se preparando para os próximos festivais. Com esse intuito, a Chamego Bom estará realizando neste domingo (07), a venda de mugunzá, com o intuito de arrecadar fundos. “Quem quiser ajudar a gente ficamos muito agradecidos. Fazemos a entrega e para adquirir é só fazer contato com algum dançarino da quadrilha ou deixar mensagem no Instagram o facebook da junina” informou o presidente da Chamego.

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