Connect with us

DESTAQUES

Jovem de Massapê do Piauí que fez 980 pontos na redação do Enem pela 2ª vez, é exemplo de garra e superação

Publicado

em

Oriunda de escola pública, filha de agricultores, residente na zona rural de uma pequena cidade do interior do Piauí. Uma jovem sonhadora, persistente e determinada, que carrega uma característica comum do seu povo: força para lutar.

Aos 19 anos de idade, já é um exemplo para muitos, pois vem vencendo barreiras, passando por cima de preconceitos e mostrando que sonhos podem ser alcançados. Ela é a jovem Anaila de Araújo Brito, da localidade Espinheiro, interior de Massapê do Piauí.

Anaila, filha do casal Sueli Maria de Araújo e Abraão da Silva Brito, é ex-aluna das escolas João Manoel da Costa e Rafael Manoel da Costa, das redes municipal e estadual, respectivamente, de Massapê do Piauí. Estudante dedicada, ela vem colhendo frutos do seu esforço.

Pelo segundo ano consecutivo, Anaila conseguiu obter 980 pontos na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Para ela e sua família, os resultados tem sido motivo de muita alegria.

A primeira conquista veio no resultado do Enem 2020. Com a expressiva pontuação de 980, uma das maiores notas da redação no Piauí, Anaila conseguiu uma vaga para o curso de Direito, na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), onde estuda atualmente.

Para ela, o resultado foi uma surpresa. “Foi uma surpresa muito grande, nunca imaginei tirar essa nota no Enem. Eu tirava no cursinho online, mas é totalmente diferente, pois no exame é um tema que você sabe lá na hora, tem o nervosismo. E eu não sabia o quanto uma nota podia ajudar a gente a conquistar um curso. Meus pais mesmo não tinham esse entendimento do que eu poderia fazer com aquela nota, então a gente foi quebrando certos tabus, fui entendendo. Joguei a nota no Sisu, tentei Medicina, mas não deu, então minha segunda opção foi Direito e passei”.

Publicidade

Mesmo com a aprovação, Anaila seguiu estudando para o Enem, fez o exame e novamente conquistou o mesmo resultado. “Antes de começar a faculdade de Direito continuei estudando para o Enem, pois estudaria na Uespi e as aulas demoraram a começar. Aí, dias antes da primeira aplicação do Enem, as aulas começaram, então fiquei conciliando a faculdade e o estudo para o Enem. Foi puxado, mas graças a Deus deu certo e não tem palavras para descrever, é algo muito importante para mim. É um resultado difícil, tem todo um esforço, preparação, então é um momento de muita gratidão a Deus”.

Para colher esses frutos, a jovem lembra que enfrentou um longo caminho. “Às vezes ao longo da caminhada a gente duvida de si, e eu nunca imaginei chegar aqui. A primeira vez que fiz o Enem estava no 1º ano e tirei 580, então venho de uma trajetória difícil, de preparação, um caminho de novidade. No 1º e 2º ano do ensino médio não fiz cursinho online, pois eu vim saber dessas coisas depois de um tempo, era uma novidade para mim. No segundo ano, já tirei 740, melhorei porque vez em quando fazia redação na escola com a professora Nilda, o que me ajudou bastante. Aí no 3º ano evolui para 980. Veio a pandemia, fiquei estudando online, terminei o 3° ano, fiz o Enem do ano passado, tirei 980 na redação, e esse ano, graças a Deus, com muito esforço e dedicação, tirei novamente. Fiquei com medo de não conseguir, mas graças a Deus deu certo”.

Anaila conta que estudava diariamente e chegou a fazer 4 redações por semana. “Estudava em casa todo santo dia, abdiquei de muita coisa, de diversão com colegas, principalmente no 3º ano, pois tinha que enviar atividades da escola e estudava também todo dia para o Enem, no horário que desse. E agora na pandemia, a gente sem poder sair, minha diversão era estudar, para mim estudar é muito bom. Teve um período que foquei bastante, em uma semana enviava de 3 a 4 redações para a plataforma, e quando recebia as correções eu via no que errava e procurava melhorar naquilo. Na plataforma também fui tirando nota boa e isso me incentivava. Quando chegou o Enem eu já tinha uma preparação”.

Para se dedicar aos estudos, ela abdica também da internet. “Eu abdico das redes sociais, é difícil, pois é uma tentação (risos). Mas quando vou estudar coloco o celular para longe, desligo o wifi e foco no estudo, pois se não realmente fica difícil. A trajetória da gente de preparação, a vida toda, e principalmente no pré-vestibular, é feita de abdicações. A gente não vai abdicar de tudo, pois temos uma vida para viver, mas muita coisa a gente deixa de fazer, mas acredito que no fim tem uma recompensa, pois conhecimento, como sempre dizem meus professores e eu sempre levo comigo, é a única coisa que ninguém tira de você, então, todo esforço que você faz, vale a pena”.

Para Anaila, além de sua dedicação, os ensinamentos e incentivo que recebeu na escola, foram essenciais. “Hoje em dia ainda existe muito preconceito com relação a escola pública, muita gente acha que por ser pública é limitada, que os professores e alunos são incapazes. Eu sempre estudei em escola pública, não me arrependo, nunca me questionei sobre isso. Construí a minha trajetória lá e se fosse diferente nem sei como seria. Na escola pública temos sim bons professores, alunos capazes, e Massapê tem mostrado isso e creio que a escola pública ainda vai quebrar muitos tabus sobre o que a sociedade limita a ela. A escola pública tem o grande poder de transformar vidas e transmitir conhecimento, assim como todas as outras”.

Ela agradeceu às equipes das escolas em que estudou em Massapê. “Só tenho a agradecer aos professores, diretores, a equipe gestora das escolas que passei, João Manoel e Rafael Manoel, que possuem uma equipe capacitada, professores que não só nos passam conhecimento, mas nos enxergam como seres humanos, como pessoas com sonhos a realizar. Não tenho palavras para agradecer aos professores de Massapê. Até depois que você sai de lá, como eu sai do Rafael, os professores continuam incentivando. Hoje mesmo já estou com 1 ano que terminei o Ensino Médio, mas meus professores mantém contato comigo, me incentivam, e sou muito grata por isso”.

Publicidade

O apoio que sempre recebeu, ela também compartilha. “Sempre incentivo meus amigos, porque sempre estiveram comigo, vieram da mesma base que eu, e sei que não é fácil. Pego no pé, às vezes um fala “ah eu não sei, é difícil para mim”, eu também pensava assim, e é difícil para mim também, mas sempre me dedico e falo para que eles se dediquem também. Graças a Deus esse ano Massapê teve notas excelentes, porque a gente tem jovens capazes, todo mundo é capaz. E creio que futuramente tem muito mais, pois creio que essas notas que saíram agora, e o apoio dos professores, da equipe gestora da escola, faz com que os alunos tenham um incentivo a mais para buscar, ir atrás dos seus sonhos, pois a gente é capaz de tudo”.

Mas, na sua trajetória, Anaila não recebeu apenas apoio, também teve que ouvir palavras negativas e desanimadoras. “Sempre tem alguém para criticar, o povo não entende que através da nota você pode sim conseguir um curso gratuito. Até quando passei para Direito recebi crítica, gente dizendo para não fazer, que não ia da certo, mesmo sendo bem aqui em Picos. E continua sendo difícil, pois sempre tem alguém para falar, por isso sou bem sigilosa nessas coisas, fico na minha. Mas nem uma nota é capaz de definir uma pessoa, ainda mais um comentário. Eu tento não levar isso para o coração”.

Em meio às barreiras que surgem, e em todo tempo, os pais são seu alicerce. “Meu pai estudou até o 4º ano, minha mãe concluiu o 9º e começou o primeiro, mas parou, pois logo ela casou e aí desistiu. Mas eles sempre me incentivaram, apoiaram. Quando a faculdade começou ficou bem puxado, e eles estavam lá me incentivando, quando eu tentava desistir eles me ajudavam, não tenho o que falar de pai e mãe. Graças a Deus, minha família sempre esteve comigo. Por eles não terem terminado os estudos, poderiam ter uma opinião diferente, não acreditar em mim, mas muito pelo contrário, eles sempre abraçaram meus sonhos junto comigo. Eu não tenho palavras para agradecer”.

Ela diz que sua família sempre valorizou o estudo. “Na minha família tenho apenas primos e um tio que são formados. Na família paterna, se eu conseguir, serei a terceira com formação. E é uma conquista muito grande para nossa família, que sempre valorizou estudo. Os pais da gente, por mais que não tenham tido a oportunidade que tivemos, eles sempre facilitaram e incentivaram. Pai mesmo não queria que eu faltasse um dia de aula na escola (riso). Antes eu achava ruim, mas hoje eu entendo que ele fazia o certo”.

Anaila agora segue se esforçando em busca de mais um objetivo. Ela sonha em cursar Medicina e pretende usar sua nota do Enem do 2021 para buscar uma vaga no curso através do Sistema de Seleção Unificada (SISU).

Ela diz que no início chegou a desacreditar. “Desde pequena sempre pensei em atuar na área da saúde, mas pelo preconceito, a dificuldade das coisas, fui desconstruindo isso um pouco, porque o povo sempre falou que era difícil, então eu pensava em coisas mais acessíveis. Sempre tem aquele tabu que “ah, medicina é coisa pra rico”, e minha família não tem essa condição. Eu sempre fui pé no chão, quando comecei o Ensino Média dizia que queria uma coisa mais fácil, pois eu não sabia que tinha Enem, Sisu, não sabia mesmo, pois eu não tive ninguém para me preparar, dizer como era, minha vida toda foi metendo a cara”.

Publicidade

Hoje, Anaila sabe que não somente ela, mas todos aqueles que se esforçam, são capazes. “Aí com a nota que eu fui perceber, e pensei ‘eu posso sim, todo mundo pode, com esforço e dedicação’. Hoje em dia tem programas que ajudam o estudante que não tem uma renda de um salário mínimo, a conseguir certos cursos que você nunca imaginaria. Hoje eu vejo que a gente pode tudo, se se dedicar e Deus estando ao nosso lado, a gente pode conseguir. Na minha família tem o irmão da minha mãe que é enfermeiro e eu me inspiro muito nele. Não sei explicar como veio, mas atuar na saúde é um sonho que brotou em meu coração. Consegui Direito e se Deus me permitir Medicina, vou cursar com todo amor e vai ser a realização de um sonho não só para mim, mas também meu pai e minha mãe” concluiu.

A mãe de Anaila, Sueli Maria, disse que mesmo em meio às dificuldades, com a ajuda de Deus tudo é possível. “Eu sirvo um Deus que é o dono do ouro e da prata, que pode tudo. Quando a gente quer e Ele estando na frente, a gente consegue todas as coisas. Mas teve muitas críticas, eu mesma chorei bastante, mas no fim tudo isso fez aumentar a minha fé, e agora ela mostrou novamente que é capaz. Às vezes eu fico me perguntando o que a gente fez para merecer tanto, pois quem é grato a Deus não tem palavras para agradecer o que Ele faz”.

Ela diz se sentir orgulhosa da filha. “Tenho muito orgulho de minha filha, ela é uma menina muito estudiosa. E também a gente ajuda, desde quando ela estudava no Rafael, sempre eu incentivava. Quando chegava o dia de prova eu dizia que ela não ia fazer nada em casa, pra poder estudar. Sempre incentivo, o pai também, e a cada dia mais minha filha vem só dando orgulho a nós, graças a Deus, e eu creio que ela vai permanecer assim, se Deus quiser”.

A dedicação da filha e os frutos que ela tem colhido, são motivo de alegria. “Na primeira vez que ela tirou a nota não tenho nem palavras para explicar o que senti, fiquei muito emocionada, chorei bastante, porque eu não esperava. Ela é muito dedicada, não mede distância. Sempre que pode ajudar alguém ela faz isso, toda vida ela ajudou os colegas de aula. Ela é muito inteligente, muitas das vezes até me pergunto a quem ela puxou, a mim mesmo não foi (risos), isso é coisa de Deus na vida da minha filha”.

Sueli disse que mesmo com as barreiras, Anaila não se deixa abater. “Por nós não ter tido estudo, isso dá força pra gente incentivar ela a continuar, pois hoje o estudo é que fala mais alto, quem tem estudo tem tudo. Ela estuda, às vezes tem dificuldade, mas isso nunca baixou a cabeça dela. A gente é pobre e tem dificuldade, mas isso nunca foi um foco para ela achar que vai parar o sonho dela, ela sempre está de cabeça erguida, o pensamento dela é firme. Muitas vezes quando tinha barulho por aqui, ela ia para a roça, para a casa vizinha para estudar, fazer simulado, porque precisa de silêncio. Ela é esforçada, nada parou ela e creio que nada, nem ninguém, vai fazer que ela baixe a cabeça”.

Ela também expressou gratidão aos professores de Anaila. “Eu sempre agradeço aos professores dela, que foram ótimos, é tanto que nunca perderam o contato com ela. Devido ela ter sido uma aluna dedicada, ainda hoje quando ela precisa eles ajudam ela. Todos os professores dela, desde o João Manoel, estão de parabéns, porque não basta só o esforço do aluno, tem que ter um bom professor, e os de Massapê são, eles tem capacidade”.

Por fim, Sueli fez mais um agradecimento. “Também agradeço ao Marco Maciel, pois ele ajudou bastante Anaila, tem incentivado, deu livro pra ajudar ela no estudo, e eu sou grata a ele. Só tenho que agradecer a Deus e daqui por diante Ele vai iluminar os caminhos de minha filha, e ela vai conseguir chegar onde ela quer” finalizou.

Publicidade

Facebook

MAIS ACESSADAS