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Paulistana

Natal na escuridão. Como foi a missa-protesto de moradores do interior de Paulistana pedindo energia elétrica

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Jesus Cristo, o grande homenageado do Natal, nasceu em um local simples, escuro, longe dos grandes centros, entremeio à pobreza, mas recheado de dignidade. Ao longo de centenas de anos comemora-se o nascimento do chamado Filho de Deus, o homem que veio ao Mundo combater injustiças e trazer mensagens de paz e solidariedade.

Maria, Jesus e José de Abelha Branca. Como na lapa: escuridão, pobreza e dignidade. Mas 2.000 anos de diferença

A noite de Natal na comunidade Abelha Branca (localizada a 60 quilômetros da sede de Paulistana, a 520 quilômetros de Teresina, no Sertão piauiense) foi de muita simplicidade e lembrança do nascimento de Jesus Cristo. Assim como há mais de 2.000 anos, quando o Salvador nasceu, a comunidade estava às escuras, vivendo simplicidade, mas com muita dignidade.

Sociedade do Candeeiro no Sertão do Piauí

Foram as ações de dignidade e sentimento de esperança e fé que fez a maioria dos moradores de Abelha Branca continuarem lutando há mais de uma década para serem incluídos no programa Luz Para Todos, do Governo Federal. Eles esperam ser esse “todos” que nomeia o programa. Mesmo em plena segunda década do Século XXI ainda não têm energia elétrica em casa.

Aproximadamente 200 moradores da região, que fica no limite entre as cidades de Paulistana e São Francisco de Assis do Piauí, passaram a noite de Natal realizando celebração religiosa e protestando. Pediram a Deus (pai de Jesus) a tão sonhada energia elétrica. A maioria não têm energia elétrica em casa. Muitos até já compraram eletrodomésticos mas as peças continuam sendo apenas instrumentos decorativos.

Não havia sequer uma única imagem que representasse Papai Noel. Todos lembravam Jesus.

Dois pontos marcaram o encontro religioso-social da noite de Natal em Abelha Branca: a celebração religiosa e o momento político. A celebração foi marcada com uma encenação das passagens bíblicas em que a família de Jesus é perseguida, até o nascimento do Salvador.

VELAS, CANDEEIROS E PEDIDO DE PRESENTE DE NATAL: ENERGIA ELÉTRICA

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Pedido ao filho de Deus para que possa pedir aos homens a tão sonhada energia elétrica no Sertão piauiense

Entre a celebração religiosa e os protestos por energia elétrica houve um momento em que os moradores que estavam na comunidade de Abelha Branca pararam para mostrar candeeiros e velas (instrumentos que iluminam suas noites).

Noite de Natal em Abelha Branca: à base de velas

Fizeram preces e, principalmente, pediram aos céus e aos homens, solução do problema.

O depoimento mais enfático foi do agricultor José Possidônio da Silva. Ele clamou pelo Luz Para Todos. Diz que gasta muito dinheiro com óleo diesel (que serve de combustível para os candeeiros, que iluminam as residências sem energia elétrica). Só que o óleo diesel tem uma fumaça tóxica e termina prejudicando a visão das pessoas. “Minha vista, da esposa e de meu filho estão prejudicadas”, relatou o agricultor. Ele complementou que faz 12 anos que espera por energia desde o lançamento do Luz Para Todos. “Não é possível, meu Deus, que não toque no coração desses governos para ter dó de nós, que vive sofrido no interior. A gente tem vontade de ter água gelada e ter um alimento de água gelada na geladeira. Tem de jogar a comida fora por que não tem onde guardar. Tenha dó de nós, Governo”, apelou o agricultor.

Depoimentos e pedidos parecidos marcaram a noite no Sertão de Abelha Branca. Ventava muito e a procissão de Natal com velas e candeeiros foi cancelada. Depois ocorreu uma ceia coletiva. Tudo no escuro.

SEM ENERGIA: SEM RESTO DE CEIA PARA O ALMOÇO DO DIA DE NATAL

É tradicional entre a maioria das famílias brasileiras cristãs comemoram a noite de Natal com uma ceia. São feitos os melhores e mais gostosos pratos, quase todos da família estão presentes e sobra muita comida. É tradicional que essa sobra de alimentos sirva para o almoço do dia de Natal, outro momento coletivo de congraçamento nesse período do ano.

Carne de sol da ceia de Natal em Abelha Branca: consumo tem de ser feito na hora, pois não há como armazenar

Na comunidade Abelha Branca houve ceia, com muita fartura. Carne de bode foi o prato principal. As bebidas foram refrigerantes, tudo quente. Mas toda a ceia teve de ser consumida ainda na virada do dia 24 para 25, visto que não há como estocar os alimentos em uma geladeira. Sobrou comida e só serviu para alimentar porcos.

Moradores de Abelha Branca espera que esse seja o último Natal da escuridão

“Por isso a gente tem de comer na hora. Olha o tanto que a energia faz falta aqui”, fala o líder comunitário Osvaldo Mamédio da Costa, que há sete anos tem uma geladeira em casa. O utensílio, tão normal na residência de quem tem energia elétrica, é apenas o principal objeto decorativo da casa do líder comunitário. Uma lembrança diária de que eles são esquecidos.

A comunidade Abelha Branca continua nas planilhas na Eletrobrás Piauí, responsável por operar as obras do Luz Para Todos no Piauí. Mas a promessa feita pela empresa que a região seria eletrificada para este ano ficou no conto de fadas tão quanto é o Papai Noel.

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Abelha Branca continua sem o seu tão almejado presente, mas os moradores continuam na crença de que um dia comemorarão um Natal de luz. “Vamos comprar até pisca-pisca”, promete Osvaldo Mamédio da Costa, mais que esperançoso em esse ser o último Natal da comunidade às escuras.

 

O Olho

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