Prefeitura de Picos inaugura rede de abastecimento de água em comunidade da zona rural

A água é considerada um dos elementos mais importantes na vida dor ser humano. A bem da verdade, ela é indispensável, pois é impossível viver sem ela. Após muitos anos com contato restrito com o elemento, a comunidade Chapadinha, zona rural de Picos, pôde contemplar, pela primeira vez, a chegada da água na localidade que, mesmo próxima à zona urbana, viveu em total atraso até o ano de 2010, quando recebeu a rede de energia.

Na data de ontem (16), a Prefeitura Municipal de Picos, por meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, dirigida por Dudé Venâncio, entregou, formalmente, a rede de água para a comunidade, que é composta apenas por dez famílias. O local mais próximo, até então, com água, é na comunidade Três Potes, distante 1,8 Km.

A moradora da localidade, Aíris Pinheiro, dona de casa, começou a luta por seu povo no ano de 2016 quando procurou o Sistema Integral de Saneamento Rural – SISAR, em busca de meios para que chegasse água até sua comunidade. Ela disse ao Cidadesnanet que, de primeira, já desanimou, pois o senhor que lhe atendeu fez um orçamento que englobava a quantia de R$ 14.000,00, “um valor totalmente fora da nossa realidade”, segundo ela.

Aíris explicou ainda como era a vida sofrida do pessoal da comunidade, especialmente das donas de casa. “O local mais próximo com água é daqui a 3 Km. Olha só como era minha rotina até mês passado: acordava, usava o pouco de água que tinha do dia anterior para adiantar as coisas, como a comida. Ao meio-dia eu ia com meu marido deixar minha filha na entrada de Fátima do Piauí, para pegar o ônibus e ir para a escola. Eu voltava de lá à pé, o que dá em torno de um quilômetro, mais ou menos. Chegando aqui, eu ia com uma trouxa de roupa na cabeça e um balde com sabão, escova… tudo para lavar as roupas. Andava esses três quilômetros até o olho d’água – e lá só vai à pé ou de jumento – e voltava com mais peso ainda. Por que você sabe como é roupa lavada, né? É mais pesada do que quando está seca. Depois voltava para pegar mais água para o consumo e banho. Quando eu chegava em casa, já estava na hora de ir esperar minha filha na entrada de Fátima. Ia a pé e voltava com ela a pé. Chegava aqui, ia preparar comida e banhar para dormir, porque no outro dia era a mesma rotina. Tinha dia que aqui não tinha água nem para banhar. Aí no domingo, meu marido ia com o jumento e trazia as duas ancas cheias de água e mais um balde de 20 litros na cabeça, para poder compensar a ida. Vocês não têm noção do sofrimento que vivemos”, contou ela.

Após sofrerem mais dois anos, Aíris e sua cunhada Marcileide foram à prefeitura, em meados de outubro do ano passado, e procuraram o secretário de agricultura, Dudé Venâncio. Prontamente, segundo ela, ele as atendeu e disse que faria o possível para ajudá-las.

Dudé procurou então o prefeito que se sensibilizou com a situação da comunidade e deu sinal de que o projeto poderia ser feito e executado o mais rápido possível. Então, no dia 28 de fevereiro, um dia antes da data marcada para a chegada da água, os moradores puderam contemplar o que nunca viram antes: suas torneiras tendo a utilidade necessária.

Aíris disse ainda que um dos dias mais emocionantes e marcantes de sua vida foi quando chegou água na sua casa. “A gente estava aqui sentada na calçada quando seu Gentil passou e perguntou se já tinha água aqui na torneira. Como não era mais uma coisa que a gente estava ansiosa, esperando para aquele momento, nem nos demos conta e dissemos que não. Mas ele insistiu que tinha sim. Então fomos abrir nossa torneira e lá estava ela: a água. Não nos contemos e começamos a chorar. Mas nosso choro não foi de tristeza, mas sim de alegria. Ali foi algo inédito. Foi muito emocionante mesmo. Só sabe quem já passou por isso na vida”, declarou ela.

Outra moradora de Chapadinha, Francisca Deusimar, celebrou a conquista da comunidade e ressaltou a importância disso. “A mudança desde o dia que chegou água aqui foi muito grande. E digo isso ressaltando o consumo comum, para alimentação e banho. Mas mudou também no quesito cuidado da casa e dos animais. Até o pessoal que tinha ido embora por conta da falta de água já estão voltando. A gente sofria por um litro de água. Era sofrimento constante. Como vocês já sabem, o Olho d’água é bem distante. E agora não vamos precisar mais continuar nesse sofrimento. Agora vamos poder viver dignamente, como qualquer outra pessoa que tem de tudo. E digo mais, valorizando, acima de tudo. Nós sabemos o que sofremos para conseguir essa água, e não vamos perde-la à toa”, afirmou ela.

O secretário Dudé Venâncio, disse que já conhecia a comunidade, pois sempre recebia ligações para abastecimento de água em carro-pipa. E, ao ouvir os moradores, visitou a localidade e disse ter se compadecido da situação dos residentes. Buscou, então, alternativas para melhorar a entrega de água em Chapadinha.

“Antes de tudo, nós tentamos trazer a água de Fátima do Piauí até aqui. Mas por conta da estrada, que possui muitas elevações, a água acabava não chegando, e quando chegava, não dava para abastecer todas as famílias aqui de Chapadinha. Vinha bem pouca mesmo. Fizemos um estudo de campo e pensamos em trazer da localidade Três Potes. Entramos em contato com o SISAR e aí apresentamos a proposta de ligar do Três Potes pra cá. Fizemos o orçamento e, apesar do valor significativo por causa da quantidade de beneficiados, decidimos mudar a realidade dessas pessoas. Colocamos a tubulação e, graças a deus, deu certo. Hoje essa comunidade tem água em abundância e de qualidade. E, agora, se a comunidade entender, pode focar na instalação de projetos produtivos, tais como uma horta comunitária, criatório de peixes ou caprino e ovinocultura. Agora vai depender deles. Nós temos e oferecemos todo o aparato técnico para o que eles decidirem. São áreas que servem para geração de renda e para consumo próprio”, pontuou o gestor da pasta.

O gerente da SISAR, Jairo Bezerra, em seu discurso, declarou felicidade pela conquista da comunidade. “Nós estamos imensamente felizes pelo ganho de Chapadinha. Parabenizamos a administração, em nome do prefeito e do secretário, pela sensibilidade que tiveram com esse povo. Parabenizamos a comunidade por entenderem a necessidade de buscarem parcerias para conseguirem ganhos para todos. Infelizmente o SISAR tem suas grandes limitações. Como somos uma instituição sem fins lucrativos, temos que praticar tarifas sociais. Então, quando parte pra investimentos, é um ponto muito delicado para o SISAR. Achamos muito importante essas parcerias que podemos fortalecer com administrações municipais, porque unindo forças, conseguimos resolver nossas questões”, afirmou Jairo Bezerra.

O prefeito de Picos, Padre Walmir Lima, na sua fala, disse que mesmo sem conhecer a comunidade, quando soube da necessidade, sinalizou em favor da mesma, para que fosse resolvida o quanto antes a situação.

“A demora em resolver essa situação foi apenas a burocracia. Não fosse ela, o problema estaria resolvido assim que tomei conhecimento. Mas, infelizmente, precisamos passar por muitos trâmites até que o dinheiro seja liberado para execução da obra. Tivemos problema em abastecimento de água em outras localidades, mas nenhuma se compara à realidade daqui. Por isso posso afirmar que, para nós, a alegria é maior em saber que deu tudo certo, porque sabemos que as dificuldades que vocês enfrentaram a vida inteira foram maiores também”, disse ele.

Padre Walmir Lima agradeceu também ao secretário Dudé por ele agir da maneira correta na sua pasta, se sensibilizando para situações como essa. “Obrigada, Dudé, por não desistir de mim, de ficar no meu pé. Eu não conhecia a realidade daqui, mas ele conhecia, por isso estou feliz, porque agora que conheço, sei que fiz o certo em dar o aval para que ele andasse por mim nesse lugar”, declarou o prefeito.

Estiveram presentes no evento os secretários: Maria Santana (Meio Ambiente), Adonai Venâncio (Esportes) e João Paulo (Administração). Após o encerramento dos discursos, a comunidade serviu um jantar para todos os presentes.