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Teresina

Pai de Iarla Lima, vítima de feminicídio, morreu por coma alcoólico 2 anos depois: ‘desistiu de viver’, diz filha

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O pai da estudante de arquitetura Iarla Lima, vítima de feminicídio em 19 de junho de 2017, morreu pouco mais de dois anos após o assassinato da filha por coma alcoólico, relatou outra filha dele, Ilana Lima, durante depoimento no julgamento do caso pelo Tribunal Popular do Júri nesta quarta-feira (24).

O crime aconteceu na Zona Leste de Teresina. O acusado é o ex-militar do Exército José Ricardo da Silva Neto, que responde não pelo homicídio namorada, como pelas tentativas de feminicídio da amiga e da irmã de Iarla.

“Depois que minha irmã morreu meu pai passou a beber todos os dias e foi a óbito por coma alcoólico. Ele nem dormia mais no quarto, deitava no sofá da sala, onde tinha uma foto dela que ele ficava olhando. A tentava mostrar para a gente ter força para continuar, mas ele desistiu de viver”, contou em depoimento.

Acompanhando o julgamento em protesto do lado de fora, a mãe de Iarla, Dulcinéia Lima da Silva, espera que o acusado seja punido com pena máxima. “Vai amenizar nossa dor? Não, a minha não vai amenizar. Mas, para a sociedade, para que outros casos não venham a acontecer novamente”, afirmou.

Em entrevista à TV Clube, ela também falou sobre a morte do pai da vítima, seu ex-marido. “Tudo contribuiu para levar ele a óbito, era muito frágil e se levou a beber diariamente. Dois anos depois ele faleceu porque ficou fragilizado. Antes do falecimento dele fiquei sabendo que ele nunca mais tinha dormido em cama, só no sofá pensando na filha dele. Aí a mãe dele faleceu, que era outra base e ele não resistiu”, contou Dulcinéia.

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A vítima relatou que o assassinato da irmã causou muitas consequências e afeta sua vida até hoje. “Não consigo entrar em um restaurante e viver um momento de estar com meus amigos de boa. Fico observando as pessoas o tempo todo, se alguém está armado”, disse.

“Não tenho mais vida, não consigo mais sair de casa. Desconfio das pessoas, espero a parte ruim de todo mundo. Tenho medo das pessoas, só consigo ver o pior”, completou.

Durante depoimento, a irmã da vítima, Ilana Lima, que estava no momento do crime relatou o momento em que a estudante foi morta. “Estávamos eu, ela, uma amiga [Joseane Mesquita], ele e outros dois amigos dele. Passamos a noite dançando entre nós”, contou.

“Uma hora a Iarla chamou para ir embora porque o Neto estava passando mal. Os dois saíram de mãos dadas, se beijando, como um casal normal. Mas chegando no carro ele começou a brigar com ela, dizendo que ela tinha dançado com outros. Em seguida ele puxou a arma e atirou três vezes contra ela e depois para trás, onde estávamos eu e nossa amiga”, completou.

Ex-tenente do Exército José Ricardo da Silva Neto — Foto: Reprodução/TV Clube

Ex-tenente do Exército José Ricardo da Silva Neto — Foto: Reprodução/TV Clube

A testemunha disse que Joseane Mesquita saiu do carro em seguida e que ela saltou do veículo quando ele já estava em movimento. Ilana foi atingida de raspão na cabeça e Joseane no braço e no peito.

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Ilana afirmou ainda que a irmã havia falado em terminar o relacionamento com o acusado um dia antes. “Ela disse que ele tinha tentado acessar o celular dela, que ele havia conseguido e ela precisou mudar a senha. Ele queria ter controle sobre ela”, disse.

O ex-tenente irá a julgamento no Fórum Criminal de Teresina mais de 4 anos após o crime. Ele, que atualmente mora em Recife, no Pernambuco, acompanha a audiência de forma remota, por vídeo chamada.

O Tribunal de Justiça do Piauí chegou a decretar prisão preventiva do acusado em janeiro de 2019, em que o desembargador Joaquim Santana determinou que o mandado fosse cumprido em Recife.

Mas o mandado de prisão não foi cumprido depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu liberdade provisória ao acusado no dia 23 de abril.

Protestos contra a violência de gênero

Familiares de Iarla Lima pedem condenação de ex-tenente por feminicídio

Familiares de Iarla Lima pedem condenação de ex-tenente por feminicídio

Um grupo de mulheres realiza um protesto pelo fim da violência contra mulheres em frente ao Tribunal de Justiça do Piauí e do Fórum Criminal, onde o julgamento acontece. A família de Iarla reforça o protesto, assim como de outras vítimas de feminicídio.

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Ao g1, a mãe de Iarla, Dulcinéia Lima da Silva, bastante abalada, contou que espera que o réu seja condenado pelo crime e que espera que seja punido de qualquer forma.

Um grupo de mulheres realiza um protesto pelo fim da violência contra mulheres em frente ao Tribunal de Justiça do Piauí e do Fórum Criminal, onde o julgamento vai acontecer. — Foto: Ilanna Serena/g1

Um grupo de mulheres realiza um protesto pelo fim da violência contra mulheres em frente ao Tribunal de Justiça do Piauí e do Fórum Criminal, onde o julgamento vai acontecer. — Foto: Ilanna Serena/g1

“Pra mim tanto faz, eu quero que ele receba uma pena. Quero um pouco de justiça, um pouco só. Minha filha não vai voltar, nada pode trazer ela de volta” , afirmou a mãe da vítima.

A integrante do Fórum de Mulheres Piauiense e do movimento Gênero, Mulher, Desenvolvimento e Ação para Cidadania (Gemdac), Tatiana Cardoso, destacou a importância do 25 de novembro, Dia Internacional para a Não Violência Contra as Mulheres.

Um grupo de mulheres realiza um protesto pelo fim da violência contra mulheres em frente ao Tribunal de Justiça do Piauí e do Fórum Criminal, onde o julgamento vai acontecer. — Foto: Ilanna Serena/g1

Um grupo de mulheres realiza um protesto pelo fim da violência contra mulheres em frente ao Tribunal de Justiça do Piauí e do Fórum Criminal, onde o julgamento vai acontecer. — Foto: Ilanna Serena/g1

“Estamos aqui pelo fim da banalização de todas as formas de violência contra a mulher e da impunidade, para pedir por justiça, que o acusado ganhe pena máxima. Viemos reivindicar a celeridade processual dos casos do Piauí. Não só pela Iarla, mas por todas que foram vítimas de feminicídio, de violência doméstica. E também como forma de conscientização, para que outra mulheres não estejam incluídas nessa estatística”, disse Tatiana.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

O crime

Iarla Lima foi com quatro tiros e o corpo foi encontrado dentro do carro do oficial no estacionamento do prédio onde ele morava. Segundo a polícia, a discussão do casal começou em um bar da Zona Leste de Teresina, por ciúmes.

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Os dois namoravam havia apenas uma semana. Após os primeiros disparos, Ilana conta que olhou para a irmã, já imóvel no banco do passageiro do carro.

Foi neste momento que o tenente teria direcionado os tiros para as outras duas passageiras. “Quando ele atirou na gente, saí do carro correndo e pedindo socorro. Ele deu a ré e arrancou com o carro levando minha irmã com ele. Foi tudo muito rápido, nem senti que havia sido ferida. Só gritava para que achassem a Iarla”, contou.

A irmã da jovem contou que, segundos antes de ser morta, ao ver o namorado com a arma, pediu que ele não atirasse. “Foi tudo muito rápido, ela nunca imaginava passar por aquilo. Tanto que ela se assustou quando ele apontou a arma para ela e pediu, ‘Não faz isso, por favor. Não faz isso Silva Neto’”, contou a irmã.

Fonte: G1

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