Sobreviventes relatam desespero após lagoa transbordar e água destruir casas: ‘O que tenho a água levou’

“Só ouvi foi um barulho alto, como se tivesse uma maré, e não deu tempo, de jeito nenhum. Quando eu peguei o colchão para colocar na porta, foi quando a parede veio de uma vez, em cima de mim, e não lembro mais nada. Acordei aqui [no Hospital de Urgência de Teresina]”, disse Edmilson.

Ele relatou que acionou a Superintendência de Desenvolvimento Urbano da Zona Sul sobre a situação do terreno em que havia uma lagoa represada, e que poderia estourar. “Ontem falei para a vizinha ‘vou tirar uma fotos, do jeito que está lá, para poder resolver isso aí’”, contou. A chuva começou no início da noite, e pegou o líder comunitário de surpresa.

Edmilson morava sozinho. Ele sofreu uma fratura no fêmur e traumatismo craniano, e está internado no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). “O pouco que eu tinha, não ficou nada. O que eu tenho a água levou tudo. Mas com fé em Deus, Deus me dá de novo. Eu quero minha saúde, e pedir a Deus que ajude as pessoas que pegaram esse mesmo prejuízo, sabe?”

A aposentada Maria das Graças Barcelar de Holanda, de 70 anos, foi uma das vítimas da tragédia. Maria e o marido, Manoel dos Reis Pires, estavam em casa quando o acidente aconteceu. “Isso nunca tinha acontecido por aqui. Nem alagava naquela região e quando foi ontem, aconteceu isso. Só quero saber onde está minha esposa e onde vai ser o velório e o enterro”, disse Manoel dos Reis ao G1.

Outra vítima, um menino identificado como Josiel, de 4 anos, foi velado na manhã desta sexta-feira (5) em uma das casas da região. De acordo com informações repassadas para o G1 por vizinhos, o menino era o caçula da família, morava com a mãe, o pai e cinco irmãos, com idades entre 4 e 15 anos. A família morava numa casa logo diante do muro que rompeu, liberando a água represada.

Segundo os vizinhos, a mãe das crianças havia dito que todos saíssem da casa momentos antes da tragédia. Ela estava sozinha com o menino quando a enxurrada aconteceu.

Antônio Almeida, irmão de uma moradora do Parque Rodoviário, conta que estava saindo do local quando foram atingidos pela água. “Estava saindo da casa da minha irmã quando ouvi um estalo, lá em cima. Em menos de um segundo, a água já foi levando tudo”, disse Antônio. Os moradores relatam que a onda formada pela enxurrada tinha quase dois metros de altura, e levou casas, carros e eletrodomésticos pela rua.