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O que o Piauí tem a dizer sobre o impeachment: bancada opina

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“Você é um banana e não um guarda de urna”. A declaração (ofensa) é do deputado do Solidariedade de São Paulo, Paulinho da Força, após ser impedido de votar pelo parlamentar baiano, Jorge Solla. A cena ocorreu na vexatória sessão que escolheu a comissão que analisará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

A declaração que correu o mundo e manchou a já enlameada imagem do Congresso Nacional, sintetiza o momento político que o país vive: políticos brigando, indo as últimas consequências em defesas de seus interesses particulares, como nunca em todos seus mandatos eletivos, defenderam os interesses do povo.

Confusão entre parlamentares e manifestantes que ocupavam as galerias do plenário do Congresso Nacional no último dia 03 de dezembro / Foto: Folhapress

O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) é uma disputa de dois lados que colocam cargos e o poder acima de qualquer coisa, principalmente, acima do interesse do povo.

Enquanto eles brigam por eles mesmos, o país vive o caos e as consequências são graves. A crise política agravou a crise econômica. Todos os Estados sofrem as consequências. No Piauí, um dos mais pobres do país, não poderia ser diferente.

Visita de Eduardo Cunha ao Piauí em janeiro deste ano / Foto: Ascom Alepi

A economia passa um dos seus piores momentos nos últimos 13 anos. O governo do Piauí viveu praticamente uma paralisia. Os concursados não foram convocados, as obras paradas há anos continuam sem serem tocadas (Rodoanel, Centro de Convenções e a duplicação das Br’s ainda não saíram do papel).

A violência atinge números assustadores. E a justificativa para isso é sempre a mesma: a crise. Nacionalmente, o mosquito Aedes aegypti virou o inimigo número um da nação.  Mas enquanto isso, em Brasília, eles continuam brigando por mais poder.

Para entender o posicionamento da bancada piauiense neste contexto de crise, a reportagem de O Olho buscou ouvir os 13 parlamentares (10 deputados e três senadores), que representam o Piauí no Congresso Nacional. Em um Estado governador pelo PT, o governador Wellington Dias governa pela terceira vez, o apoio a Dilma Rousseff (PT) é quase uma unanimidade.

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Reunião da bancada do Piauí em Brasília: Foto: Divulgação

BANCADA CONTRA IMPEACHMENT

Dilma Rousseff (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Quando o assunto é o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a bancada piauiense em Brasília tem um discurso afinado. Entre os 10 deputados federais do Estado, apenas os parlamentares da oposição Rodrigo Martins (PSB) e Heráclito Fortes (PSB) se manifestam a favor. Os demais apoiam a presidente e denunciam um golpe contra a democracia.

Para o deputado Assis Carvalho (PT), único representante do PT do Piauí na Câmara Federal, a abertura do processo de impeachment representa um retrocesso no avanço da democracia.

Segundo ele, o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), teria agido por vingança. Ele se diz confiante que o processo não passará e Dilma continuará no poder até o final do mandato.

Assis Carvalho não poupou as ofensas contra Cunha e chegou a chamar o parlamentar do PMDB de psicopata / Foto: Divulgação

Assis Carvalho afirma que nenhum presidente do Brasil pode sofrer impeachment por possuir baixa popularidade. “Não há embasamento legal para um impeachment. O processo só foi aberto porque é a única maneira que o Eduardo Cunha encontrou para tirar o foco das denúncias contra ele”, disse.

O parlamentar do PT não poupou as ofensas contra Cunha e chegou a chamar o parlamentar do PMDB de psicopata. Assis defende que o presidente da Câmara Federal renuncie ao cargo. Ele lembra que Cunha é investigado na operação da Polícia Federal Lava Jato. A PF cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Cunha e intensificou o movimento para que ele renuncie ao cargo.

“Cunha é um chantagista. Ele é rancoroso, um psicopata. Não existe nenhuma acusação contra a presidente Dilma por desvio de recursos, já ele, foi flagrado desviando dinheiro para uma conta na Suíça”, disse.

“CRISE É GRAVE”

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Iracema Portella e Dilma Rousseff (Foto: Roberto Stuckert Filho/Divulgação)

Na bancada do PP, a deputada Iracema Portella, esposa do senador Ciro Nogueira, que chegou a ter o nome citado na operação Lava Jato e  indicada para comissão derrotada que avaliaria o impeachment, afirma que a crise é séria, mas diz confiar na inocência da presidente Dilma.

“Não podemos negar que a crise é séria. Mas tenho fé em Deus que o momento vai melhorar. No Congresso o clima é pesado. Não está sendo fácil. Na minha opinião o impeachment é golpe. Dilma foi reeleita pelo voto popular. Não há motivos para impeachment e não existe nenhuma acusação formal contra Dilma”, declarou.

Sobre Eduardo Cunha, Iracema afirma que o momento é de trabalhar pensando no futuro do país. “Não é hora de agir por paixões ou interesses próprios. Cada parlamentar tem que votar, pensar e agir pensando primeiro no povo que o colocou lá”, declarou.

O deputado federal Flávio Nogueira (PDT), que é suplente e assumiu a vaga após o deputado Marcelo Castro (PMDB) se afastar para assumir o Ministério da Saúde, afirma que vota seguindo a orientação nacional do partido. Ele diz não haver fundamentação para o impeachment.

Deputado Flávio Nogueira: “Cunha deve ser afastado da presidência da Câmara” / Foto: Divulgação

“Voto contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Voto de acordo com a posição do meu partido o PDT. Votamos contra o impeachment porque não há fundamento legal para tal”, declarou.

Segundo ele, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deveria se afastar da presidência da Casa enquanto ocorreu o processo de cassação do mandato. “Cunha deve ser afastado da presidência da Câmara. Nesse momento é o mais coerente para que aquela Casa tenha coerência para trabalhar”, disse.

“COMBUSTÍVEL É A CHANTAGEM”

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Deputado federal Silas Freire. (Foto: Lúcio Bernardo Júnior/Agência Câmara)

A forma como Eduardo Cunha conduziu todo o processo é apontada pelo deputado Silas Freire (PR) como motivo para rejeição do impeachment. Segundo o piauiense, a chantagem tem sido o combustível desse momento que vive o país. Silas, que é suplente e assumiu depois de uma engenharia política feita pelo governador Wellington Dias, afirma que vai votar por convicção e não por conveniência política.

“Impeachment foi admitido no momento de cretinice e chantagem. Um impeachment é normal em qualquer lugar do mundo, se tiver um fato real. Isso pode ocorreu comigo, com o Papa Francisco e com a presidente Dilma Rousseff. Mas é preciso ter um fato real. Agora ninguém pode ser tirado do cargo se o combustível for a chantagem. É preciso saber o que de fato é veracidade. Eu sou suplente e há fragilidade no meu mandato porque estou lá por causa de uma conjuntura, mas há toda tranquilidade para votar nesse caso. Só não voto em um impeachment que ocorra dessa forma”, afirma.

Silas avalia que a crise política é grave e afirma que a Câmara Federal deve ter responsabilidade e maturidade. “Devemos ter tranquilidade porque se a motivação for apenas chantagem esse pedido vai esbarrar. A Câmara tem que ter responsabilidade e maturidade para analisar os fatos. O clima é muito difícil. A situação política se complicou no momento em que o país está com uma situação financeira complicada e a política resolve complicar ainda mais”, comentou.

IMPEACHMENT DIVIDE PARTIDOS

Átila Lira mantem apoio ao PT / Foto: Divulgação

Entre os parlamentares piauienses, chama atenção o posicionamento de Átila Lira (PSB) e Mainha (SDD). Nacionalmente, o PSB e o Solidariedade defendem o impeachment de Dilma. O presidente nacional do SDD, Paulinho da Força, citado no início deste texto encontra-se na linha de frente do movimento contra Dilma e se destaca como aliado de Eduardo Cunha. Mas mesmo assim, os dois mantém a fidelidade ao governo de Wellington Dias (PT) e defendem Dilma Rousseff.

A situação tem provocado constrangimentos ao deputado Mainha. Ele é suplente e assumiu o cargo após a deputada Rejane Dias (PT), esposa do governador, deixar a Câmara para assumir a secretaria de Educação e em seguida, Merlong Solano (PT), substituto de Rejane, também pedir afastamento para assumir a secretaria de Governo.

Mainha afirma que não foi liberado pelo partido, mas vai seguir apoiando o governo do PT / Foto: Divulgação

Mainha afirma que não foi liberado pelo partido, mas vai seguir apoiando o governo do PT. “Essa minha decisão se deve porque não existe nada que justifique o impeachment. É uma posição pessoal. A presidente Dilma tem enfrentado problemas e possui uma popularidade baixa, mas isso não justifica e nem é motivo previsto para impeachment. O partido não nos liberou, mas seguimos com esse posicionamento”, disse.

Sobre Cunha, Mainha afirma que a insistência do deputado em continuar na presidência da Câmara federal tem provocado um constrangimento aos demais parlamentares. “Ele deveria se licenciar. A situação tem ficado muito ruim. Não existe mais condições para que o Cunha continue presidindo aquela Casa”, comentou.

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Situação parecida é vivida pelo deputado Átila Lira (PSB), o partido dele é de oposição, mas o piauiense apoia o governo de Wellington Dias (PT) e Dilma Rousseff (PT). Essa divergência já chegou a levar o parlamentar a pensar em mudar de partido e ingressar em uma sigla governista. Mas neste momento ele afirma que continua no PSB.

“Sempre fui contrário de tratar o impeachment como solução para o país. A presidente foi eleita e não há nada que possa desabona-la e se cria um fato desse tamanho que vai tomar de conta da vida política nos próximos meses. Ele já falei isso no PSB e defendo que o partido não devesse entrar em uma luta política que parece revanche porque Eduardo Cunha não teve o apoio do PT no Conselho de Ética”, declarou.

Apesar do apoio, Átila afirma que o voto será definido após conversa com o PSB. “Eu sou contra, mas preciso conversar com o meu partido. Se eles decidirem que devemos votar a favor vou ter que repensar essa posição”, disse.

OPOSIÇÃO QUER FIM DA ERA PT

Heráclito Fortes: “Pedaladas” fiscais seriam motivos suficientes para a cassação da presidente Dilma / Foto: Divulgação

Na bancada do Piauí na Câmara Federal, a rejeição à presidente Dilma Rousseff e o apoio ao pedido de impeachment fica restrito apenas aos deputados Heráclito Fortes (PSB) e Rodrigo Martins (PSB). No Estado, os dois fazem oposição ao governador Wellington Dias (PT). Segundo eles, há evidências contra a presidente que justificariam a saída dela do cargo.

Heráclito faz oposição ao PT há muitos anos e diz que o partido que encontra-se há mais de 12 anos no poder, é um mal para o país. ““Nessa questão eu sou radical porque o mal que esse partido fez ao Brasil nos últimos anos tem que ser interrompido, tem que ser estancado, não pela via emocional, mas pela via jurídica, cumprindo toda a sua tramitação. Sou a favor do impeachment”, disse.

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Heráclito lembra que o PT pediu o impeachment de Collor. Ele chamou de histeria coletiva a postura de alguns setores da base do Governo que insistem em tratar o impeachment da presidente Dilma como um golpe. “Isso cheira a desespero.  O Lula pediu o impeachment do Collor. O PT pediu o impeachment do Itamar Franco e pediu três vezes o impeachment do Fernando Henrique. Em nenhuma dessas vezes, falou-se em golpe. Esse pessoal precisa aprender que o impeachment está inserido na nossa Constituição desde a década de 1950″, declara.

De acordo com ele, as “pedaladas” fiscais seriam motivos suficientes para a cassação da presidente Dilma. “Não adianta dizer que nada pega a Presidente Dilma Rousseff. Se acham que as pedaladas são discutíveis, a Medida Provisória do IPI, faz com que seja condenada. Como Ministra-Chefe da Casa Civil, recebeu do Presidente da República a solicitação da MP do IPI, que mandou para a sua chefe de gabinete, dona Erenice, que a mandou para o escritório do Sr. Alexandre Paes dos Santos. Este é o fato. Na questão de Pasadena, ela era Presidente do Conselho da PETROBRAS”, declara.

“DILMA DESCUMPRIU A LEI”

Para o deputado de oposição Rodrigo Martins, Dilma descumpriu a lei e deve ser punida com a perda do mandato de presidente. “Sou favorável ao processo de impeachment da presidente Dilma por entender que ela cometeu crime fiscal, nos seus dois mandatos, manobra confirmada pelo Tribunal de Contas. Não vejo esse processo como golpe, já que a chefe do executivo nacional descumpriu a Lei e deve ser punida por essa irresponsabilidade”, declarou.

 Rodrigo Martins: “Dilma descumpriu a lei e deve ser punida com a perda do mandato de presidente” / Foto: Divulgação

Mesmo sendo favorável ao impechmant, o parlamentar defende que Eduardo Cunha deixe a presidência da Câmara.
“Não votei no Eduardo Cunha como presidente e sou a favor que ele não permaneça no Legislativo. Ele não tem mais moral e credibilidade para conduzir os trabalhos na Câmara. A defesa dele está sendo pífia, não existe um justificaria plausível para mantê-lo no cargo. Concluímos que se ele não tivesse culpa não tentaria atrapalhar as ações do Conselho de Ética da Casa, por exemplo”, falou.

ELMANO SILENCIA
Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) discute  a possibilidade de o Senado recusar a instauração de um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff antes do julgamento final sobre a manutenção ou cassação do mandato da petista. Tem senador que prefere se silenciar sobre o assunto. É o caso do piauiense, Elmano Ferrer (PTB). Desde quando Cunha aceitou o pedido de impeachment, Elmano não fala nada sobre o assunto.

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Em visita ao Piauí, ele foi questionado diversas vezes sobre o assunto e preferiu não manifestar nenhuma opinião pessoal. “Eu não tenho nada para falar sobre o processo de impeachment. É um momento de muita cautela. Um momento de colocar os interesses nacionais acima dos desejos dos partidos, a cima de todos os tipos de interesses”, disse.

De acordo com Elmano, a saída para o momento de crise será manter o respeito a democracia. “ O povo quer uma solução rápida. Precisamos manter a democracia em primeiro lugar”, se limitou a dizer.

O silêncio de Elmano se deve em parte a relação delicada que ele vive com o governo do PT. Desde quando foi eleito, ele já ameaçou diversas vezes deixar a base da presidente. A relação com Wellington Dias também não é da melhores. Elmano não indicou nenhum nome para ocupar cargos na administração do petista.

Elmano Férrer evita se posicionar / Foto: Divulgação

A insatisfação maior se deve a verdadeira batalha enfrentada pelo senador para indicar um nome para a direção do Departamento Nacional de Infraestrutura e Trânsito (DNIT) no Piauí. No Senado, Elmano sofre pressão da bancada do PTB para ingressar o grupo de oposição a Dilma.

No Senado, Dilma conta com o apoio da senadora Regina Sousa (PT) / Foto: Reprodução

No Senado, Dilma conta com o apoio da senadora Regina Sousa (PT). Ela é suplente e assumiu o cargo depois que o na época senador Wellington Dias deixou o cargo para assumir o governo do Estado. Ela é contra o impeachment e acusa Cunha e a oposição de golpe.

“O PT não aceitou a chantagem de Cunha e por isso ele iniciou esse processo de impeachment. Mas o partido e o governo ficou livre dessa chantagem. Não há nenhuma prova que prove que a presidente tenha cometido crime de responsabilidade. Essa seria uma falta para o impeachment. Mas não ocorreu”, declarou.

Apesar de inúmeras tentativas, a reportagem não conseguiu falar com os deputados Júlio César (PSD), Paes Landim (PTB) e com o senador Ciro Nogueira (PP).

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