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MUNICÍPIOS

Sem luz, prefeitura fecha as portas e documentos se misturam à sujeira

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Cristino Castro, no extremo Sul do Piauí, a 595 km de Teresina, é o que se pode chamar de cenário do descaso. Com energia cortada há quase quatro anos, vários prédios públicos estão fechados. A situação de abandono no que um dia já foi o Palácio Municipal é apenas o ponto de partida para uma série de problemas que a cidade expõe. Documentos importantes como balancetes com movimentação financeira, ofícios, contratos, processos e até documentos pessoais estão espalhados pelo chão ou dentro de armários sem portas, expostos à poeira e em meio aos móveis quebrados.

 

Na sala onde funcionou o Serviço de Alistamento Militar, a reportagem do G1 encontrou diversos certificados, carteiras de trabalho e até cédulas de identidade espalhadas pelo chão, algumas delas com todos os dados já preenchidos. As salas do Departamento Pessoal e Tributário também têm documentos importantes em meio à sujeira. Janelas quebradas, portas destruídas pelos cupins e instalações elétricas deterioradas são sinais de que há muito tempo o prédio deixou de funcionar.

Maria Aparecida Vieira vende cafezinho na porta da prefeitura abandonada  (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Maria Aparecida Vieira vende cafezinho na porta da
prefeitura abandonada (Foto: Patrícia Andrade/G1)

O mau cheiro chega a ser insuportável. Abandonada, a prefeitura serve de banheiro para quem passa pelo local, já que não há cadeados ou outro tipo de tranca que impeçam o acesso.

Maria Aparecida Vieira, autônoma, viu no prédio abandonado a oportunidade de colocar o seu pequeno negócio. Logo na entrada na prefeitura ela montou uma mesa para vender café, sucos, bolos e salgados. “Tá abandonado faz muito tempo. Eu resolvi vir pra cá porque aqui me protejo do sol e da chuva. Aí dentro tá tudo acabado e as pessoas ainda entram e usam como banheiro”, disse a mulher.

Cristino Castro é base hoteleira para Bom Jesus e Uruçuí, territórios explorados para o plantio de soja e que abrigam grandes fazendas. Com pouco mais de 10 mil habitantes, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,566, PIB de R$ 36,6 milhões, a cidade apresenta diversos problemas de infraestrutura como falta de coleta de lixo adequada, iluminação pública precária e ruas sem pavimentação. A exemplo da prefeitura, uma creche recém inaugurada também permanece sem energia, bem como secretarias, a biblioteca e um ginásio poliesportivo.

Prefeito Valdir Falcão diz que prefeitura não tem como arcar com débito (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Prefeito Valdir Falcão diz que prefeitura não tem
como arcar com débito (Foto: Patrícia Andrade/G1)

Valmir Martins Falcão Dias, prefeito de Cristino Castro, disse que não teve como negociar o débito de quase R$ 2 milhões acumulado ao longo dos anos e diante da situação se viu obrigado a alugar casas para colocar as secretarias em funcionamento. O gasto com aluguel chega a quase R$ 4 mil por mês.

“Não parcelamos o débito porque não teria como honrar. A parcela ficou quase R$ 15 mil. É uma dívida enorme que foi se transformando numa bola de neve”, disse. Sobre a atual situação em que se encontra o prédio da prefeitura, Valmir Falcão disse que está providenciando um local para guardar a documentação até que a licitação para a reforma do prédio seja concluída.

Enquanto o débito referente às faturas de energia não é pago, mais de 460 crianças estão sem aulas na Creche Lira Soares Campos, inaugurada no dia 21 de fevereiro. Os alunos, que têm entre 2 e 5 anos, até chegaram a frequentar a unidade por quase três semanas, mas as mães eram obrigadas a mandar a água gelada para os filhos beberem. Além dos bebedouros desligados, os ventiladores e equipamentos de áudio e vídeo para as atividades pedagógicas também estão sem funcionar.

Sem energia, creche recém inaugurada permanece fechada e mais de 460 crianças prejudicadas (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Sem energia, creche permanece fechada e mais de 460 crianças prejudicadas (Foto: Patrícia Andrade/G1)

“A gente quer que resolva. A creche veio para solucionar o problema de muitas famílias que não tinham com quem deixar as crianças. As mães precisam sair para trabalhar e vão deixar os meninos com quem? As crianças querem vir para a escola, mas está fechada”, disse Gracilene dos Santos, que é avó de Felipe Santos, de 2 anos.

Situação complicada também para os jovens que procuram o Ginásio Poliesportivo Joaquim Oliveira Filho. Durante o dia os grupos até que conseguem jogar na quadra, mas para usar o local à noite precisam fazer uma “vaquinha” e custear o aluguel de um gerador. A água gelada também é levada de casa porque não há bebedouros no local.

“Está horrível aqui! Além de não ter energia, a quadra está imunda e os banheiros nem podemos usar porque estão sem a menor condição. Trazemos água gelada de casa porque os bebedouros não funcionam. A gente vem pra cá porque é a única opção”, relatou João Marcos Dias de Alencar.

O Ministério Público entrou no caso e conseguiu através de uma liminar na Justiça fazer com que a energia da creche fosse religada. Com isso as aulas serão retomadas normalmente a partir do dia 6 de abril.

Outras prefeituras em débito
Conforme um levantamento da Eletrobras Distribuição Piauí, empresa responsável pelo fornecimento de energia no estado, 10% dos 224 municípios do estado concentram 80% da dívida existente. São cerca de R$ 13 milhões que deixaram de ser pagos. Essas instituições estão negativadas no Cadastro Informativo de créditos não quitados do setor público (Cadin), já foram notificadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e receberam cobrança judicial.

Muitos documentos estão amontoados no chão da sala do Departamento Jurídico (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Muitos documentos estão amontoados no chão da sala do Departamento Jurídico (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Fonte: G1

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