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Clicks do Mês

De São Julião, Emilena traz história de força e fé para o Clicks do Mês de abril; veja relatos e fotos

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Ao longo de toda a sua vida, ela enfrentou dores, obstáculos, dissabores. Sofreu bullying, agressão, foi julgada e humilhada. Cresceu com a ausência do pai, com uma distante presença da mãe e viu sua avó tendo que muito lutar para ter o sustento.

Para ela, muito faltava. Mas resistindo às mazelas da vida e buscando se fazer forte mesmo em meio às adversidades, foi que ela seguiu. E hoje, tem a oportunidade de compartilhar seu testemunho de vida e levar esperança a outros.

Ela é Emilena Maria da Silva Brito, casada com João Claro de Brito há 30 anos, e mãe de Paulo Henrique, Maria Eduarda e Sara Mirely. Sua é mãe Raimunda Nonata e a avó que a criou, Antônia Sebastiana da Conceição.

Da cidade de São Julião, ela traz um pouco da sua história de vida para a edição deste mês de abril do projeto Clicks do Mês.

Sua trajetória de luta começou logo em seus primeiros anos de vida. “Minha infância foi um pouco sofrida, sou filha de mãe solteira, minha mãe teve muitos filhos e a condição financeira dela era pouca, então ela foi e me doou para minha vó, que me criou. Eu não deixei de ter contato com minha mãe, mas os cuidados maiores eram com a minha avó, que também era mãe solteira, de pouca condição”.

Da avó, mulher guerreira que buscou fazer o melhor pelos filhos, ela recebeu cuidado e atenção. Mas teve que enfrentar uma difícil convivência com os tios. “Nossa família era humilde. Minha avó trabalhava lavando roupa pra fora pra poder ter o sustento, e eu ficava em casa para fazer o que eu conseguisse, comida para dois tios meus que trabalhavam também. Teve um certo momento que sofri agressão de um tio quando eu tinha de 8 pra 9 anos. Sofri muito nas mãos dos meus tios. Eles eram alcoolotras, às vezes chegavam de madrugada, colocavam a gente pra correr e a gente saia pra casa da vizinha meia noite, só voltava no outro dia com ele bagunçando. Minha mãe conta que um dia um tio meu me deu uma ‘pisa’ que cheguei a fazer cocô e xixi ali no chão, e ela olhando, grávida, e ele disse que se ela entrasse apanhava também” lembrou.

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Dona Antônia, diante das dificuldades, chegava a pedir ajuda de porta em porta para garantir o alimento em casa. “Mas minha avó, apesar das dificuldades, da questão financeira, ela sempre teve muito cuidado comigo. Além de trabalhar lavando roupa, minha vó colocava um saco nas costas e ia para o interior pedir goma, feijão, farinha. Ela ia a pé e trazia coisa pra dentro de casa. O pessoal de São Julião ajudava muito. A gente não chegou a passar fome, mas acontecia da gente fazer o café hoje e guardar o pó no coador pra fazer no outro dia, fazia o baião de dois pra jantar, e guardava para o café da manhã no outro dia. Fome não, mas dificuldade grande tivemos”.

Casa onde Emilena morou durante a infância

Na vida estudantil, mais barreiras a menina de família humilde enfrentava. “Foi difícil, eu não tinha recurso, não tinha dinheiro para comprar uniforme, caderno, e sofri muito bullying na escola, por ser de família humilde, ter uma vestimenta muito inferior aos demais, meu cabelo era igual de homem, curtinho. Tinha uma menina que estudava na mesma escola que eu, quando eu conseguia levar dinheiro para comprar uma dida, aconteceu várias vezes eu estar ali num cantinho sozinha, ela vinha, batia a mão, derrubava, pegava pra ela e eu ficava sem nada. Por isso também que eu não queria ir para escola. Eu via as outras crianças com a mãe, o pai, e eu ia sozinha. Minha avó saia cedo pra trabalhar e eu ficava pra ir só” contou.

Como um pequeno escape da dura vida no Piauí, Antônia e Emilena resolveram ir para São Paulo, onde moraram por 2 anos. “Quando tinha 11 anos fui para São Paulo com minha avó, os filhos dela moravam lá. Passamos 2 anos em Paulínia. Quando fui perdi o restante do ano, aí tive que repetir a 3ª série lá. Desde pequena eu já não tinha muito interesse pelo estudo, pois não tive apoio de pai. Tive grande dificuldade de aprender a ler e escrever, aprendi de 9 pra 10 anos. Mas foi um despertar, eu estudava a 2ª série, me deu aquela vontade e aprendi em uma semana. Com 12 anos retornei para São Julião com minha avó, e voltei a estudar e aos 15 eu me casei”.

A decisão do casamento à época, pouco pensada, mas tirou um peso de suas costas e aos poucos foi trazendo outros rumos para a sua vida. “Na época que casei não foi uma escolha por amor, porque com 15 anos eu nem sabia direito o que estava fazendo. Mas eu aprendi a amar meu marido cada vez mais e já são 30 anos de casamento. Mas quando casei estava sofrendo dentro de casa, minha vó tinha muito ciúme de mim. Aqui em São Julião tratavam minha família tipo ‘a raça de fulano só tem r#p@rig#’, aí eu sofri muito com isso, me machucou muito pois por conta de 1 ou 2 da família eu estava pagando. Aí minha vó dizia que eu já tava grávida, essas coisas, mas não, e eu digo, só vim praticar depois do casamento. Fiz por um capricho mesmo, nem que fosse a única”.

Mais determinada a batalhar por uma vida melhor, ela seguiu os estudos e conseguiu também a aprovação em um concurso. “Já casada fiz um concurso público municipal, em 1997, quando estava grávida de 7 meses. Em agosto do mesmo ano fui chamada para trabalhar, estava com dois meses que tinha tido meu primeiro filho. Comecei a trabalhar e fui levando a vida, conseguindo me reerguer aos poucos. Mas eu só tinha a 8ª série do fundamental e sempre nas reuniões era falado que os que só tinham o Ensino Fundamental eram professores leigos. E eu me sentia incapaz com aquilo” disse.

Ela então ela decidiu ir mais longe. “Então eu continuei os estudos, terminei o Ensino Médio, fiz faculdade em Fronteiras e pós graduação em São Julião. No decorrer desse tempo também eu tive a segunda filha, Maria Eduarda. Foi mais tranquilo porque eu já trabalhava, tinha melhorado financeiramente. Porque na minha primeira gestação eu não tinha condição de comprar nem o enxoval, foi mais de doação. Continuei, tudo isso eu estudando e com filho pequeno. Na faculdade foi muito sofrido porque eu tinha ela pequena mamando, saia muito cedo de casa, dependia de outra pessoa para cuidar dela. Mas deu certo, em 2006 terminei a faculdade de Licenciatura em Normal Superior”.

Hoje, Emilena é uma das poucas na família que concluiu o ensino superior. “Minha avó se esforçou muito para eu estudar, me ajudou, mas ao meu ver o esforço maior foi meu. Não me gloriando, pois tudo devo ao Senhor. Mas as outras irmãs minhas nenhuma aprendeu a ler e escrever. Tem uma que sabe, mas não adquiriu uma profissão. Tios, primos, todos trabalham no trecho, e alguns aqui, mas tenho sobrinho que tem 20 anos e sabe pouco de leitura. Por isso às vezes me emociono porque foi muita força de vontade”.

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Em meio às conquistas, vieram também mais dificuldades. Dessa vez, a barreira foi a ansiedade. “Quando tive minha primeira filha tive ansiedade em grau elevado, só que me consultei com o médico, tomei remédio e melhorei. Mas quando foi na pandemia, em 2020, eu tive uma recaída muito forte. E eu tive resistência de procurar o médico por medo de ir no hospital e pegar covid. Mas chegou um momento que eu fui dormir um dia e disse ‘Senhor, se for para eu ir consultar, me dê uma indicação’. Aí isso foi numa quinta-feira, passei a noite, porque não estava conseguindo dormir, aí quando acordei foi decidida a me consultar”.

Após o atendimento, Emilena teve uma melhora, mas que só durou dois meses. Então, ele resolveu buscar ajuda especializada. “Aí fui no clínico geral aqui no povoado Mandacaru. Perguntei a Dr. Samuel e devido a meu relato ele disse que era uma crise de ansiedade muito forte. Tomei a medicação 2 meses, melhorei, mas com 2 meses voltou de novo, aí me vi obrigada a procurar um psiquiatra. Fui em Picos no Dr.Thales Carvalho. Sabia que quando chegasse lá não conseguiria falar, pois eu tinha crises de choro, aí eu escrevi para ver e lembrar. Mas quando cheguei lá que ele começou a conversar comigo tive uma crise, passei cerca de 15 minutos chorando, não conseguia parar. Aí com uns 10 min a frente fui respirando e consegui falar. Aí ele disse que o meu diagnóstico era Agorafobia, medo de tudo, principalmente de doença e da morte”.

No começo do novo tratamento, uma crise que para ela parecia ser o fim de tudo. “Ele falou também que essa ansiedade foi gerada desde pequena, de tudo que já passei, e com a pandemia ‘estourou’. Ele passou a medicação, a primeira não deu certo porque atacou meu estômago, com três dias que estava tomando piorei. Acamei 10 dias, fui no hospital duas vezes com falta de ar, não comia, tinha enjoo 24 horas. Aí ele mudou a medicação e comecei a melhorar. Mas esses 10 dias para mim pareceram uma eternidade, porque a angústia era enorme, o sofrimento”.

Diante da dor, ela buscou força em Deus e na oração. “Aí me veio na mente um dia de chamar a irmã Flavinha, para ela orar em mim. Mandei mensagem para ela, ela perguntou que dia, e eu disse agora, porque eu estava numa crise muito forte. Ela veio, orou em mim, conversou comigo e perguntou se eu não queria aceitar Jesus. Eu disse que não tinha sentido o toque, e ela disse ‘pois você vai me chamar’. Aí ela voltou para casa. No dia seguinte por volta de meio dia eu senti uma crise muito forte e aí naquele momento senti algo que não sei explicar, me veio no coração uma indicação de que o que eu estava passando era porque estava muito longe de Deus”.

Nesse dia, ela tomou mais uma decisão que mudaria sua vida. “Aí chamei mesmo a irmã, eu estava decidida a entregar minha vida ao Senhor, porque eu senti. Ela veio, chamou o pastor Valdenor, a irmã Arlete, oraram e eu me converti. Entreguei minha vida ao Senhor e hoje estou aqui graças a Ele. Mas foi sofrimento que tinha momentos que todos na casa estavam chorando. Nesse dia que aceitei Jesus me deu uma crise, um desespero, angústia tão grande que eu ‘abri o choro, que ia morrer’, e todos ficaram aos gritos na cama, meu marido com os três filhos chorando”.

Ela lembra que chegou a pensar que não sobreviveria. “No momento que passei 10 dias acamada nunca pensei que fosse escapar, mas estou aqui para a honra e glória do Senhor. Agradeço a Ele em primeiro lugar e em segundo à minha família. Foi sofrido, atingi a família toda aqui ao redor, mas todos me acolheram. Meu esposo não saia de perto de mim, dia e noite, que eu não conseguia dormir, meus filhos também não, e me ajudaram muito. Agradeço muito a Deus por estar aqui, porque não foi fácil”.

Hoje, ela conta vitórias. “A partir desse dia fui só melhorando cada vez mais. Continuo com a medicação, vou regularmente ao psiquiatra e estou levando minha vida adiante. Estou trabalhando, sou concursada há 25 anos como professora e esse ano fui promovida a diretora. Já trabalhei como coordenadora, secretária. Até porque durante a minha trajetória na docência eu adquiri um problema nas cordas vocais, fiz fonoterapia 2 anos. Como não posso dar aula, aceitei o cargo e está sendo uma experiência muito boa, estou aprendendo”.

Emilena chegou onde nunca imaginou que estaria um dia. “Devido tudo que passei nunca imaginei que estaria onde estou hoje. Quando era criança tinha em mente que queria ser professora, mas nunca pensei. Fui tocando a vida e foi acontecendo aos poucos. E quando fiz o vestibular em Fronteiras fui aprovada já na primeira vez. Porque teve colegas minhas que para conseguir entrar fizeram duas, três vezes. Mas assim, nunca imaginei chegar ao ponto que cheguei”.

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Ela lembra que o marido foi um alicerce nessa caminhada. “Lembro que meu esposo me deu muito apoio com relação aos estudos. Minha vó ‘encomendou a ele: ‘você vai casar, mas ela vai estudar até se formar’. Porque tem marido que não deixa né, mas ele disse, pode estudar. Quando casei estava na 5ª série, aí terminei o fundamental, fiz o ensino médio, a graduação e a pós. E ele me ajudou muito, quando foi pra fazer a inscrição da prova do concurso, ele quem pagou”.

Agora ela da todo apoio e incentivo aos filhos e busca oferecer a eles aquilo que não teve. “Hoje em dia tenho meu emprego, graças ao meu bom Deus. Minha filha do meio está estudando no Juazeiro, fazendo Enfermagem, que era o sonho dela e a gente está fazendo todo esforço para colocar ela pra estudar porque eu sei que a gente só consegue alguma coisa na vida através do estudo. Meu filho mais velho terminou o Ensino Médio e a mais nova está começando agora. Eu tento suprir a necessidade deles daquilo que não tive, dou todo apoio e incentivo”.

Por fim, ela agradeceu. “E é só agradecer, primeiramente a Deus por tudo, pois tudo que tenho devo a Ele. Agradeço a toda minha família, irmãos, minha sogra, que fez e faz por mim muito mais que minha mãe faz, a meus vizinhos, aos irmãos da igreja. Agradeço a todos que me ajudaram e não canso de agradecer a Deus”.


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