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Campo Grande do PI

Um câncer, 5 cirurgias e uma história de luta e fé | De Campo Grande, Zé Moisés emociona no Clicks do Mês de fevereiro; veja fotos!

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Ele chegou a pesar apenas 46 quilos. Enfrentou dores insuportáveis, tratamentos desgastantes, cinco cirurgias, dias e noites em hospitais. Foram dois anos em uma luta constante pela vida.

Sempre trabalhador, ele atuava como gari pela manhã, a tarde fazia serviços autônomos, e aos domingos, trabalhava em um mercado. Mas, nos momentos críticos de enfermidade, se viu preso a camas e leitos de hospitais, sem nada poder fazer.

José Moisés de Araújo, da cidade de Campo Grande do Piauí, que é casado com Reneuda Isabel de Araújo e pai de Roniuza Reneuda de Araújo e Romilda Reneuda de Araújo, é o dono dessa história.

Neste mês de fevereiro, o projeto Clicks do Mês traz os emocionantes relatos de vida de seu Zé Moisés, como é mais conhecido em sua cidade. Ele, aos 47 anos de idade, foi diagnosticado com um câncer, enfrentou inúmeras batalhas, mas ao final, saiu vitorioso.

Os sinais começaram a aparecer no ano de 2020. “No início de 2020 comecei a sentir dores no quadril e a perder peso, mas, por sempre trabalhar muito, pensávamos que era por causa disso, do excesso de trabalho. Os meses foram passando e as dores aumentando, já começava a mancar da perna esquerda. Durante um dia de trabalho numa construção me senti mal, com dores fortes no peito e fraqueza. Piorou à noite, e então, fui ao hospital. Fui medicado e retornei para casa. Segui trabalhando como de costume. Continuava mancando da perna, e fui ao médico do postinho, que passou apenas anti-inflamatório. Depois de alguns dias, retornei ao médico do postinho pedindo para passar exames, mas, como estava no início da pandemia, ele sugeriu que ficasse em casa. Eu já andava com ajuda de muletas”.

No dia 28 de julho, um incidente com seu José levantou a suspeita de um problema na perna. “Fui abastecer o carro de minha mãe e quando estava entrando no carro, a porta dele fechou sozinha e bateu com força no meu joelho. A dor foi muito grande, cai no chão e os frentistas do posto me levaram para o posto de saúde, onde fui socorrido e levado ao hospital em Picos. No hospital, fiz um raio x da perna. O médico de lá depois que viu o raio x disse que não tinha quebrado nada, mas, que tinha um “problema antigo” que era pra eu fazer outros exames em outro lugar. Fui medicado para dor, e voltei para casa. No dia seguinte, 29/07/2020, retornei a Picos para fazer duas ressonâncias, uma do joelho e outra do fêmur, e ficamos aguardando os resultados”.

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O resultado dos exames chegou em um dia em que a família estava reunida em comemorações. No momento, alegria e dor se misturaram.”No dia 31 de julho, estávamos comemorando o aniversário de minha esposa e a formatura da minha filha mais velha. Nesse mesmo dia, pela tarde, recebemos o resultado das ressonâncias, poucos minutos antes dos nossos familiares chegarem para a comemoração. Minha filha mais nova olhou os laudos e explicou que se tratava de algo grave, indicativo de câncer no fêmur. Nesse dia, foi difícil. Era uma mistura de alegria pelas comemorações e, ao mesmo tempo, de angústia pelos exames. Mas, a certeza que todos nós tivemos nesse dia, era a de que Deus estava conosco e que iria dar tudo certo”.

Nos primeiros dias do mês seguinte, José já sofria com fortes dores e logo veio a confirmação final do câncer. “No dia 03 de agosto fomos no postinho mostrar os exames e solicitar o encaminhamento para Teresina. Eu já não conseguia mais dormir com muitas dores, a única posição que conseguia ficar à noite, era de joelhos. E foi assim que passei todas as noites seguintes: me ajoelhava ao pé da cama, escorando a cabeça numa almofada e tentava dormir nessa posição. Quando conseguimos marcar a consulta em Teresina, o médico solicitou a biópsia e outros exames. No dia 25, fui sedado para fazer a biópsia óssea. Quando saiu o resultado, confirmou que se tratava de um osteossarcoma grau 3, muito agressivo. Na tomografia de tórax também identificou metástase pulmonar (13 nódulos visíveis nos pulmões). No retorno ao médico, ele me encaminhou para a quimioterapia”.

Seu José conta que com o passar do tempo as dores só pioravam.”No tempo de espera para começar, o nódulo da perna cresceu muito, já dava para ver o aumento de volume por fora, as dores eram terríveis. Passava o dia e a noite com dores muito fortes, nenhuma medicação aliviava mais. De madrugada sempre as dores pioravam. Às vezes, tinha que chamar enfermeira de madrugada para me socorrer. Como minha filha estudava para medicina veterinária, ela pediu para que deixassem os materiais e medicações aqui em casa para ela aplicar de madrugada quando a dor piorava. Mas, quando nenhuma das medicações daqui conseguia fazer efeito, tinha que ir aos gritos para o hospital em Picos, como no dia em que fiquei obstruído, e não conseguia urinar. Nesse dia, pensei que não fosse resistir. Era muita dor na perna e no abdômen. Fiquei internado por dois dias, e depois recebi alta”.

A rotina de toda a família mudou completamente, passando a ser marcada pelo cansaço e noites em claro. “Ninguém mais aqui em casa conseguia dormir. Foram longos dias de muitas idas e vindas ao hospital em Picos. Eu já não conseguia mais caminhar, nem me mexer. Tinha que ficar parado em cima da cama o tempo todo, porque qualquer movimento me fazia sentir dores terríveis. Passei a tomar banho, fazer xixi, defecar, comer, etc… tudo no meu leito. Criei escara no bumbum de ficar muito tempo deitado, mesmo sendo em colchão inflável e tendo todos os cuidados. Estávamos bem no pico da pandemia. Os hospitais estavam todos lotados diariamente. Muitas pessoas morrendo de covid. Eu estava fraco, mas, não tinha opção, era preciso estar nos hospitais também”.

Após surgir a vaga, chegou a hora de iniciar a dolorosa quimioterapia. “Depois de alguns meses, finalmente fui chamado para iniciar as quimioterapias. Ficamos mais esperançosos, pois ela iria ajudar a reduzir as dores. Foram três dias de quimioterapia, a chamada quimioterapia vermelha. Nos dois primeiros dias ocorreu tudo bem, não tive reações. Mas, no terceiro dia já comecei a sentir enjoos e vomitar. Mas, como eram algumas das reações já esperadas, fui para casa (Campo Grande). Quando cheguei em casa, passei muito mal, estava vomitando sem parar, muita fraqueza, sem respirar direito, calafrios, tontura. Minha esposa foi correndo pedir socorro no posto de saúde, nesse dia, o médico recusou atendimento. Mas, graças a Deus, depois de alguns minutos de tensão, fui melhorando”.

Com as fortes reações, ele vivenciou dias críticos. “As medicações para vômito não faziam mais efeito. Tudo o que comia, vomitava. Até mesmo água não conseguia manter. Foram cerca de 8 dias em casa nessa situação, apenas me mantendo no soro com vitamina. Tive um pico de febre. Ficamos preocupados, e graças a Deus, conseguimos o número de telefone da médica da quimioterapia de Teresina. Quando ela soube da situação falou para me levarem imediatamente para o Hospital São Marcos (HSM), que iria me internar com urgência, pois, corria sério risco de vida”.

José perdeu mais de 30 quilos. “Quando fui levado até o HSM, fui internado e sondado (sonda nasogástrica), pois, já estava há muitos dias sem me alimentar e sem beber água. Foram feitos exames, e diagnosticou intoxicação muito grave com a quimioterapia. Estava com múltiplas úlceras no esôfago de tanto vomitar. Foram 13 dias de internação, até receber alta médica. Eu já estava muito debilitado. Com anemia severa e muito magro (antes da doença pesava 78 kg, agora estava com 46 kg)”.

Sem mais suportar as dores, ele tomou a difícil decisão de amputar a perna. “Voltamos ao médico ortopedista e exigimos a amputação da perna o mais rápido possível, pois, ela estava me matando. Pelo SUS iria demorar muito. Eu não conseguia mais esperar. Então fizemos uma campanha nas redes sociais para conseguir o valor da cirurgia (5 mil reais) e também doação de sangue. Precisava de duas bolsas de sangue para poder suportar a cirurgia. E, no dia 24/11/2020, finalmente foi feita a cirurgia de amputação total da perna. No dia seguinte já recebi alta e fui para casa. A sensação de não sentir dor era tão desejada há muito tempo, que a ausência da perna para mim não foi problema, pelo contrário, foi um grande alívio”.

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Menos de 1 mês depois, ele enfrentou mais um procedimento cirúrgico. “Durante a recuperação da amputação, já estávamos realizando outra campanha para fazer a cirurgia de retirada dos nódulos pulmonares (R$10 mil). E, no dia 22/12/2020, realizei a segunda cirurgia. O médico, ao final da cirurgia, explicou para minha filha que todo o pulmão e pleura estavam repletos de nódulos muito pequenos. Ele conseguiu tirar apenas 13 nódulos (maiores) e avisou que tinha que tentar resolver o restante com a quimioterapia. Fiquei 4 dias internado com o dreno torácico. Após recuperação da cirurgia, voltamos para a quimioterapia, na qual a médica mudou o protocolo, na tentativa de evitar outra intoxicação. Realizei cerca de 6 sessões de quimioterapia e repeti os exames. Na tomografia de tórax foi visto que os nódulos do pulmão tinham crescido”.

No ano seguinte, a luta prosseguia. “Então, foi decidido realizar uma segunda cirurgia pulmonar para retirá-los. No dia 30/09/2021, foi feita a cirurgia, retirando 3 nódulos. Fiquei mais 6 dias internado com o dreno. Quando saiu o resultado da biópsia, foi detectado que 2 desses nódulos eram granulomas de tuberculose e um de metástase mesmo (sarcoma). Ou seja, durante minhas idas e vindas nos hospitais, acabei sendo infectado com tuberculose, que, graças a Deus, não se desenvolveu. No dia 15/11/2021, dois meses depois da cirurgia, uma nova tomografia de tórax mostrou que os nódulos tinham voltado, e estavam maiores. Continuei com mais outras diversas sessões de quimioterapias”.

Quase 6 meses depois, uma boa notícia chegou para a família. “Até que, no dia 07/03/2022, o grande milagre aconteceu. Na nova tomografia não foram mais vistos nódulos no pulmão. Os médicos ficaram muito surpresos, sem acreditar no que estavam vendo. Foi dado um tempo de 3 meses sem tratamento para ver a evolução. Ficamos muito felizes com isso. Finalmente estava livre das viagens à Teresina, de hospitais, medicamentos, tinha voltado a minha vida normal. Em julho de 2022, foi repetida a tomografia, que confirmou a cura do meu pulmão”.

Mas, sete meses depois, veio uma nova batalha. “Alguns meses depois, passei a sentir dores de cabeça frequentes, tomava dipirona, passava, voltava de novo, e fui levando. Até que, no dia 03 de outubro de 2022, senti uma dor muito forte na cabeça, me levaram aos gritos ao hospital em Picos. Lá, foi feita uma tomografia da cabeça que detectou um nódulo no cérebro. Fiquei internado. Os médicos lá não falavam da minha situação. Quando informava sobre meu histórico de tratamentos, todos do hospital ficavam desmotivados. Eles não acreditavam que teria mais jeito. Foram dias de muita angústia, muita espera sem respostas. Após 4 dias de internação sem nenhuma previsão do que seria feito, conseguimos entrar em contato com a médica de Teresina, da quimioterapia, a Dra. Pollyana, a mesma que me socorreu com a internação quando tive intoxicação, e ela, por ação divina, conseguiu uma vaga para cirurgia pelo SUS no HSM para o dia 31/10/2022, pois, particular não tínhamos nenhuma condição de fazer”.

Após mais de 20 dias internado, ele fez a quinta cirurgia, e então veio a vitória. “Foram 13 dias internado no hospital em Picos. 13 dias de muita angústia, vontade de ir para casa, incerteza do que ia acontecer. No dia 16/10/2022, fui transferido para o Hospital Getúlio Vargas em Teresina, onde fiquei internado por mais 11 dias. Até que no dia 27 de outubro, fui transferido para o HSM, onde realizei minha cirurgia no dia 31. Fiquei um dia na UTI, e um dia na enfermaria, e finalmente, no dia 03 de novembro, recebi a tão sonhada alta. Médicos, enfermeiros, familiares, todos ficaram impressionados com minha recuperação. Estavam muito bem, graças a Deus, quem me via um dia depois da cirurgia não acreditava que eu tinha passado por isso, que eu tive meu crânio aberto. Após retirada dos pontos da cirurgia, iniciei as radioterapias, realizei novos exames, e graças a Deus, está tudo bem. Sou um verdadeiro milagre!”.

Diante de tantas barreiras que venceu, Zé Moisés se tornou um exemplo de fé e coragem.”Desde o início, quando fui diagnosticado, nunca me deixei abater por pensamentos ruins, nem por tristeza. Apesar das dores, dos momentos difíceis, sempre tive a esperança de que tudo isso era apenas uma fase, e logo passaria, pois, tinha comigo o melhor e maior remédio para todas as coisas: a FÉ. A fé de que Deus, o Pai amoroso, estava sempre comigo, me ajudando a passar por tudo isso. Mesmo em tratamento, depois da amputação da perna, nunca fiquei “parado”, sempre estava ativo trabalhando em casa, na roça, fazendo tudo que queria fazer, sem limitações. Inclusive adaptei, sozinho, meu carro para dirigir. Junto com um colega e vizinho, Expedito, que faleceu recentemente, criamos um triciclo adaptado, o qual uso para passear pela cidade. Por onde passa, chama atenção de todos “.

Ele relembrou os desafios vencidos. “As pessoas ficam impressionadas comigo, por eu nunca ter me abatido com tudo isso, e por estar sempre disposto, feliz e levando uma vida normal. Durante esse tempo de luta, além de ter que lidar com meu tratamento, muitas situações foram difíceis de ser enfrentadas, a pandemia foi uma outra preocupação, já que estava a todo tempo dentro de hospitais, vimos pessoas morrendo por conta da covid. Durante todo esse tempo também, minha filha, que cursava medicina veterinária na UFPI, e me acompanhava, tinha que dar conta de estudar, fazer provas, trabalhos, assistir aulas, tudo dentro dos hospitais, de ambulâncias nas estradas”.

Moisés ainda contou que no ano da sua vitória, perdeu um irmão para o CA. “Além disso, em 2021, meu irmão, Carlos Alberto, conhecido como Carlim, que no momento, morava comigo, também foi diagnosticado com câncer, um carcinoma na língua. Passou muitos meses lutando também, com dores, foi internado em Teresina, fez cirurgia, radioterapias, ficou alguns dias na UTI, saiu, estava em tratamento, mas, infelizmente, não resistiu e faleceu ano passado”.

Por fim, ele disse que tudo que passou mostra o cuidado de Deus e deixou também algumas boas lembranças. “Foram muitos momentos ruins. Quando paramos para pensar no que passamos, é difícil de acreditar como conseguimos suportar tudo isso. E, ao mesmo tempo, percebemos mais ainda, como Deus nos ama e cuida de nós. Só Ele mesmo para nos fortalecer e nos fazer aguentar todas essas batalhas. Apesar de todas as lembranças ruins, também tivemos momentos bons. Conhecemos muitos amigos que também estavam passando por momentos difíceis nos hospitais. Compartilhamos histórias, alegrias, tristezas. Era sempre assim, a cada novo quarto de internação, fazíamos novos amigos, uns ajudando os outros, ali éramos uma família. Também tive a ajuda de amigos que rezavam por mim, que me levavam para os hospitais. Hoje ainda estou em tratamento (radioterapia), mas, com a certeza de que Deus está cuidado de mim, e que Ele é maior que qualquer doença. Só tenho a agradecer por tudo” finalizou.


Agora, veja os Clicks do Mês de fevereiro, na cidade de Campo Grande do Piauí:

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