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Clicks do Mês

Socorro Sousa traz história de força e determinação para o Clicks do Mês de julho; veja relatos e ensaio fotográfico!

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Desde muito nova, Maria do Socorro de Sousa já demonstrava sua força, ousadia e determinação. Com apenas 8 anos de idade, já começava a trabalhar para ajudar a família e em busca de ter aquilo que seus pais infelizmente não podiam lhe oferecer.

Seu lar, formado por pessoas humildes, mas batalhadoras, para ela foi uma fonte de exemplos. Da mãe, seu maior modelo, ela herdou a coragem para lutar e seguir em frente mesmo em meio aos obstáculos, e principalmente, os ensinamentos que seguem com ela por toda vida.

Ela é a filha do mecânico e motorista, Expedito José de Sousa e da doméstica e trabalhadora rural, Maria de Lima Sousa, ambos em memória. Nascida na cidade de Picos, mas por raízes e amor, jaicoense, é Socorro Sousa, 56 anos, como é mais conhecida em Jaicós, que traz mais uma bela história de vida para o Projeto Clicks do Mês.

Sua trajetória de luta começou cedo. “Comecei a trabalhar muito cedo, vim de um lar pobre, de família pobre, mas com muita humildade, respeito e dignidade. O que minha mãe me ensinou sempre foi amar ao próximo, respeitar a todos e é isso que eu venho fazendo. Desde muito cedo comecei a trabalhar como artesã, fazia crochê, bordado, mas na época aqui não tinha muito o que oferecer, porque, como o pessoal chamava antigamente, as donas de engenho, quem tinha dinheiro antigamente, não dava valor a gente que trabalhava como artesã, e isso dificultava muito”.

Com a família grande, muito era o trabalho para garantir o sustento. “Na época mamãe tinha 7 filhos. Trabalhava Expeditim, Vicente, meu pai contribuía, mas a gente sabe que não era tanto. E eu toda vida fui assim ‘quero isso, mas não tem, então eu vou atrás’. Eu fazia crochê, e na época a gente juntava osso, porque valia dinheiro. A gente morava em Picos e quando vinha pra cá levava os ossos e vendia e ajudava na despesa. Eu sempre queria dar um pouco pra mãe e sempre procurei ser independente em minhas coisas”.

Com os ossos que juntava e vendia, é que Socorro conseguia comprar pequenas coisas. “Antigamente as mão de vaca não partiam como hoje. Na casa de meu avô gostavam muito de mão de vaca, costela, então os ossos minha tia Dinha separava e eu levava pra Picos. Às vezes a gente encontrava algum animal morto, seco aquele osso, ele servia também. Um pessoal de fora comprava lá em Picos e pagava bem, digo isso porque naquela época era dinheiro pouco, mas pra mim dava. Eu queria comprar uma boneca, uma blusa, um lápis, um caderno, minha mãe não tinha dinheiro pra me dar e isso ajudava. Não tenho vergonha de dizer porque isso pra mim foi uma honra. Com 8 anos eu trabalhava, juntava ossos, fazia crochê e era uma boa ajuda”.

O crochê ela aprendeu usando uma agulha de arame. “O crochê as meninas lá em casa faziam, Guida e Assunção, só que elas não deixavam eu pegar, porque às vezes eu pegava e desmanchava, aí meu irmão fez uma agulha com arame lá na oficina, eu pegava linha de saco e ia tentando até que consegui. Depois de um tempo, não lembro como foi, mas comprei em “Maria de Brás”, minha primeira agulha de crochê e linha. Fui fazendo, minha tia me ajudava muito, ela dizia ‘faz o bico que eu compro, bota no pano que eu compro’, e isso contribuía. Minha mãe bordava também e ensinava pra gente alguns pontos”.

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Em 1976, em meio a dificuldades, os pais de Socorro resolveram voltar pra terra natal. “Meus pais moravam aqui, onde os quatro primeiros filhos nasceram. Eu sou quinta e nasci em Picos, como também minhas irmãs Ângela e Ana. Quando eu tinha 10 anos papai resolveu vir pra cá, mamãe tinha casa aqui, e lá o negócio ficou um pouco dificultoso, então viemos. Aqui é nossas raízes. Depois que a gente veio embora pra cá continuei só com crochê e bordado, e isso pra ajudar em casa. Com dois anos que a gente tava aqui foi comprada essa oficina, tudo foi melhorando e o ramo está até hoje na família”.

Com os pais e irmãos trabalhando na oficina, Socorro, com 15 anos, recebeu um convite para também trabalhar com a família. “Meu irmão perguntou se eu não queria trabalhar na oficina dele, mas eu achei que era vergonha, porque estaria no meio de um monte de homem e só eu de mulher. E tava terminando o ginásio, que naquela época era o ensino médio, e eu queria estudar. Meu pai tinha condições poucas, mas talvez o interesse fosse menos. E o que eu queria mesmo era me engajar na Medicina, mas como, filha de pobre?. Não tinha condição, não sabia por onde começar. Hoje tudo é mais fácil, tem ENEM, faculdade financiada, mas antes não. E quando Expeditinho (irmão) me chamou pra trabalhar eu barrei, mas ele disse que não era vergonha, pois meu pai, meus outros irmãos também trabalhavam lá, então eu tinha que ajudar, e isso me deixou honrada, pois tinha um monte de homem pra me defender, se alguém falasse algo comigo “ia se ver” com meus irmãos, e aí eu terminei aceitando”.

E foi da oportunidade que Socorro pensou em recusar, que a porta se abriu para que ela pudesse estudar. “Fui trabalhar com ele na oficina e a minha parte seria limpeza, cobrança, fazer um orçamento, e no início foi isso que fui fazer, mas aí eu tava lá, e precisava de uma auxílio pra um pintor, um mecânico, e eu fui me inserindo naquela parte, fui entregando uma ferramenta, limpando uma peça, e cheguei ao ponto de ajudar desmontar e montar motores, às vezes com um carburador eu ajudava. E me interessei, trabalhei durante 6 anos na oficina de meu irmão. Nesse período que trabalhei, o rendimento era pouco, mas eu ganhava o meu e me fez tomar uma decisão de estudar em Picos. Como era colégio público, eu ia ter o dinheiro pra pagar o transporte. Naquela época eu não podia ir pra casa de ninguém, pois minha mãe não tinha condição de pagar mensalidade, e isso me doía muito porque eu queria estudar, mas não tinha condição, então resolvi enfrentar a oficina”.

O sonho de cursar Medicina ela não conseguiu alcançar, mas por um plano maior, ingressou em um curso na área da saúde. “Trabalhando na oficina terminei o ginásio. Eu ia para Picos pra fazer o curso da Escola Normal, mas pra minha surpresa quando cheguei lá meu nome não constava na lista de matriculados, e eu me revoltei pois sai de Jaicós pra estudar. Aí me informaram que a gente estava inscrito no PREMEM. E chegando lá, por um acaso, achei meu nome inscrito para fazer um curso básico em saúde, que era a enfermagem. Eu achei que não ia dominar, porque eu queria Medicina, mas meus pais não tinham condição, e Deus me colocou ali dentro. Fui estudando, foi clareando algo, e eu terminei. As aulas práticas lá eram poucas, estágio quase não teve, o interesse de alguns administradores em Picos era pouco, mas quem queria aprendia. Depois que terminei, fiquei ainda 1 ano e meio de oficina”.

Mesmo enfrentando obstáculos, o curso ela fez pagando o transporte com o dinheiro que conseguia com seu próprio trabalho. “Eu estudei indo e voltando todo dia, pois o que eu ganhava na oficina era pouco, só dava para o transporte. Mas final de semana, às vezes a noite, eu aproveitava os horários vagos pra fazer crochê, que vendia para comprar um material, uma roupa. Hoje em dia todo mundo tem seu luxo, mas antigamente tudo era difícil, com muita dificuldade a gente conseguia um calçado, uma roupa. Mas tudo foi pago com o meu esforço. Lembro que sobrava 3 cruzeiros do que eu pagava a combi, mas tinha que ajudar em casa também, tinha minhas despesas”.

Socorro diz que se não fosse a oficina, talvez não teria feito seu primeiro curso. “E dentro dessa oficina era a família todinha e eu tava sempre querendo ajudar, queria me desdobrar em 10. E isso me fortaleceu, pois se meu irmão não tivesse me chamado para ajudar na oficina, talvez não tivesse feito meu primeiro curso, tomado minha primeira iniciativa. Só tenho que agradecer primeiramente a Deus, a minha mãe, de onde ela estiver, a Expeditim, que me deu a oportunidade de trabalho na época. Meu primeiro certificado da saúde, que é Enfermagem hoje, consegui trabalhando de oficina. Às vezes eu ia trabalhar e não dava tempo tirar aquele óleo da mão, mas eu saia assim mesmo. Às vezes ficava com vergonha, pois era um papel para homem, mas eu me sinto honrada de ter participado durante 6 anos trabalhando em oficina”.

Nos anos em que trabalhou com a família, ela chegou a ter que ouvir comentários negativos e preconceituosos, mas nunca se deixou abater. “Na época tinha uma novela da Ana Machadão, que trabalhava de oficina também, e eu cansei de passar nas ruas e me chamavam assim, me chamavam de ‘machão’, pois eu passava o dia todinho com os ‘machos’, meus irmão e colegas. Mas exerci aquele papel com todo orgulho e honra, e nesses 6 anos nunca nenhum cidadão que a gente atendeu, teve a audácia de dizer algo contra a minha moral, então pra mim isso é motivo de orgulho. E meus irmãos sempre deixavam bem claro ‘olha, minha irmã tá aqui, ela trabalha com a gente, e pedimos todos respeito aqui na oficina. Nisso, um dia Agatângelo Luz me chamou e disse que eu estava de parabéns, pois eu sozinha de mulher, conseguia dominar toda equipe masculina da oficina, pois naquela época, no horário que eu estava na oficina, não se dizia um nome feio lá dentro. Então, tive respeito e todo orgulho e continuo tendo, pela família que tive”.

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Das mãos sujas de graxa e com muito suor, ela conseguiu seu diploma, que em 1987 lhe concedeu a oportunidade de ingressar na área onde até hoje atua. “Depois desses 6 anos de mecânica, no dia 26 de maio de 87, me engajei na enfermagem de Jaicós, onde já passei por vários setores, trabalhei como responsável de alguns postos de saúde, já fui discriminada porque antigamente não tinha enfermeira formada, mas todo mundo recebia o nome ‘fulano Enfermeira’. E naquela época, quando foram chegando as chefes, o pessoal formado, às vezes eles reclamavam que enfermeiros eram eles. Mas o povão não chamava pra puxar saco ou discriminar, era a maneira que todo mundo era tratado ‘Auzenir Enfermeira, Chica Enfermeira, Socorro Enfermeira’. E a gente também não queria tomar posse do lugar de ninguém, pois cada um tem o seu lugar”.

Vencendo barreiras, foi na enfermagem que ela viveu experiências que guarda até hoje. “Comecei trabalhar na Unidade Mista de Saúde, lá no hospital velho, como chamam, tive a oportunidade presenciar partos normal, cesariana, tive o prazer de ajudar e isso pra mim me deixou muito honrada. Cheguei a pegar uns meninos, tem alguns que me chamam de mãe, tenho neto já de 16 anos, porque a mãe engravidou cedo. Isso para mim é um orgulho, pois todos sabem que não consegui engravidar, mas tenho esses netos e filhos de coração. E até de dentista eu trabalhei de auxiliar, cheguei a ‘pontiar’ alguns dentes. Naquela época era muito difícil, mas com boa vontade a gente fazia e continuo fazendo, basta precisar”.

No ano de 2001, mais uma vitória alcançada. Socorro passou a ser concursada pelo município. “Trabalhei 4 anos no estado, depois fiquei prestando serviço no município, passei dois anos fora e quando eu voltei a Dra. Lourdinha já foi me inserindo na escala, mas ainda passei acho que 6 meses de serviço prestado, trabalhei no portal da alvorada, aí veio o concurso pra Enfermagem. Em agosto, dia 17, a gente assumiu. Hoje estou com 21 anos de concurso, e mais uma parte de serviço prestado no estado e município”.

Alguns anos depois, Socorro ganhou também mais um presente. Sua filha, Sara. “Em 2004 Deus me presentou com a Sara. Eu queria um filho e não tava conseguindo, e Deus me deu essa oportunidade. A Cida, em memória também, me deu a Sara. Ela disse que me dava a criança, ainda não sabia o que era, mas quando Deus deixou ela nascer mulher, acho que era o presente maior que Ele queria me dar. A cada dia que amanhece agradeço a Deus por Sara, minha filha, e agora eu vou ser vó de verdade”.

Hoje, ‘Socorro Enfermeira’ já tem mais de 35 anos de serviço, e assim como no início da sua jornada, segue aprendendo a cada dia. “Hoje, com 35 anos de enfermagem, cada dia que saio de casa 4 horas da manhã, 5 horas, eu levanto todos os dias e é como se fosse meu primeiro dia na Enfermagem. Todos os dias eu aprendo, é sempre uma lição, e isso pra mim é motivo de orgulho. Me sinto realizada como pessoa e profissional, tenho 21 anos de concurso no município. Não sei o que Deus vai me dar mais, mas o que Ele me der eu vou abraçar, e se Ele não me der, tenho que agradecer pelo que ganhei até aqui”.

O amor pelo que faz é o seu combustível diário. “E durante todo esse tempo, nunca trabalhei pelo dinheiro. O dinheiro é um detalhe, é a necessidade do ser humano, o meu maior prazer é o amor pela profissão. Hoje às vezes até digo não para uma pessoa, porque não dá para eu suprir a necessidade, mas eu fico de consciência pesada, pois eu gosto de trabalhar, trabalho por amor, o dinheiro é apenas um detalhe. Quem me conhece sabe que para mim dinheiro não é tudo”.

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Hoje Socorro possui os cursos de Magistério, Auxiliar de Saúde, Auxiliar e Técnico em Enfermagem e Técnico em Análises Clínicas. Além de seguir atuando na Saúde de Jaicós, ela também está à frente do Posto de Coleta do Laboratório Napoleão Dias (LANAD).

“Estou há 5 anos no Lanad, e só tenho que agradecer a Graça Formiga, a Dr. Napoleão, a Dra.Carminha, pela confiança que eles tem de me entregar o posto de coleta de Jaicós. Agradecer a comunidade de Jaicós por me receber de coração, por todas aquelas placas que já recebi. […] Gosto de trabalhar com o povo, de ser recebida pelo povo e o carinho que ele tem. E quero aumentar ainda mais a clientela do Lanad, mas nesses 5 anos aqui consegui elevar o laboratório, pois poucos aqui conheciam. Hoje eu vivo o Lanad dia e noite” conta ela.

Em toda essa trajetória de lutas e conquistas, Socorro destaca o exemplo da mãe, como o maior incentivo que teve para seguir em frente. “Minha mãe foi a melhor, a maior, a rainha, pra mim ela foi tudo, representava muito pra mim. É difícil lembrar todas as lições que ela dava pra gente e não chorar, não tem como. Foram anos difíceis, ela deve ter sofrido muito, ela não dizia, porque sempre respeitou o lado do meu pai, foi uma mulher batalhadora, trabalhava de roça, fazia o que dava dentro de casa, contribuía, mas sempre com a moral dela. Tudo que ela fez, sei que foi por amor. Se tem alguma coisa que ela fez de errado eu não sei, mas sei que o que ela fez de bom foi por amor. Não sei até que ponto poderia falar da minha mãe, mas pense em todas as qualidades que puder, que minha mãe tinha. Fico muito feliz quando lembro dela, das lições que me dava” disse emocionada.

Para os filhos, dona Maria sempre lutou para dar uma vida melhor. “Mamãe sempre dizia ‘olha, vou dar pra vocês o que eu não tive. Uma coisa que dizia e ainda hoje vejo é que ela falava assim ‘filha minha não trabalha em casa de ninguém’. Morre enrolada de fome comigo, mas eu não dou nenhuma’, e foi exatamente isso. A gente não passou fome, mas passou necessidade e conseguimos superar. Na primeira turma da Escola Normal, mamãe foi a única mãe que teve 4 filhas e um genro formando. Certificados na mão, era um orgulho, para ela ela tava no céu. Com muita dificuldade, nós conseguimos”.

Seu legado de força e coragem se estende em cada um dos filhos que deixou. “A gente batalhou muito, todos os 7 filhos trabalhadores, buscando melhorias e sempre com minha mãe como exemplo. Meu pai também foi um homem trabalhador, mas ele foi mais ausente na nossa família. Mas ela, determinava, trabalhava, buscava, e foi uma mulher exemplar para os filhos, netos, bisnetos. Hoje Graças a Deus todos os filhos tem suas profissões, são donos de si. Lembro bem que minha tia Dinha também me incentivava muito, sempre dizia ‘luta, tu vai conseguir’. Ela também em memória, mas a gente não esquece, pois não se pode esquecer de quem te ajudou. Às vezes não te ajuda com dinheiro, mas com uma palavra, e isso te deixa fortalecida”.

Por fim, Socorro agradeceu. “Meu coração está derramando de alegria, porque Deus me deu saúde, o amor de mãe, o amor da minha família, um lar de moral, o que pra mim é motivo de orgulho. E depois de tudo isso, Deus ainda me disse assim: ‘você é uma profissional, aqui é seu, faça valer’, e eu estou tentando fazer. Espero que daqui há 15 anos, eu bata o martelo de 50 anos de Enfermagem. Queria também agradecer a Chico Tauá, pois esse homem é uma peça rara que Jaicós tem, foi ele que me deu a primeira oportunidade pra Enfermagem. Agradecer ao pessoal que sempre me chama por confiar em mim como profissional, às vezes fica me aguardando”.

“Agradecer a Deus, a toda minha família, aos jaicoenses, a você, o Paulo, que tem me dado uma força enorme. Agradecer a Deus por todos os dias 4 horas da manhã estar de pé e seguir até horas da noite, pois tem dia que 23 horas eu tô fazendo orçamento. Agradecer a Altino Neto, Deik, e um monte de gente que sempre tá me apoiando, a o pessoal da Secretaria de Saúde, que sempre me compreende, ao prefeito, que tem me dado apoio. Ao pessoal em Cajueiro, a Farmácia São José, em Massapê a Maione, todo mundo que tem me dado uma força enorme. Agradecer ao pessoal do Cidades Na Net que me deu esse espaço” concluiu.

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