POLÍCIA
Caso Fernanda Lages completa 10 anos já arquivado pelo MP e sem promotores revelar autores
Na última quarta-feira, dia 25 de agosto, completou-se 10 anos de morte da estudante de Direito Fernanda Lages, que foi encontrada morta pela manhã no prédio, à época, em obras do Ministério Público Federal, localizado na avenida João XXIII, zona Leste de Teresina.
Conhecido como “Caso Fernanda Lages”, deu-se por encerrado por completo em agosto de 2020, quando o Ministério Público do Estado (MP-PI) decidiu pelo arquivamento do processo, depois de vários anos sob o poder de promotores que garantiram ter um “autor”, um responsável pela morte da estudante.
O promotor João Malato foi o último responsável pelo processo. Foi ele quem assinou pelo arquivamento e alegou o seguinte: “Ausência de provas no tocante a autoria do delito, bem como, constata-se a de impossibilidade de suprimento desta carência”, ressaltando que pode ser reaberto “para novas e futuras investigações”.
Um resultado frustrante sobretudo para a família.
A MORTE
Era uma noite de quinta-feira, 25 de agosto de 2011. Fernanda Lages, estudante de Direito de uma faculdade particular de Teresina, saiu com alguns amigos e amigas. Todos beberam e se divertiram bastante. Fernanda teria saindo um veículo Fiat Uno, parado em frente ao prédio do MPF e subido até o andar mais alto. De acordo com o inquérito das Polícias Civil e Federal, ela caiu do parapeito do último andar. Consideram “morte violenta”, que caracteriza suicídio ou acidente.
Em nenhum momento os policiais encontraram evidências de que houve assassinato. O Ministério Público, entretanto, não aceitou o inquérito. Na época os promotores a frente do caso, Ubiraci Rocha e Eliardo Cabral, passaram a dar entrevista quase todos os dias e iam à imprensa dizer que sabiam da existência de um autor. Passados os anos, nem Ubiraci e nem Eliardo apareceram para revelar nomes. Ubiraci passou a assumir o caso sozinho e deixou o caso em fevereiro de 2017. Eliardo se aposentou e faleceu em março deste ano, vítima de Covid-19.
A INVESTIGAÇÃO
O Caso Fernanda Lages foi considerado pela Polícia Civil e Federal um dos mais investigados de toda a história. Os melhores peritos acompanharam o trabalho. Sem confiar nos peritos locais, os promotores chegaram a chamar peritos de outros estados para investigar o caso em Teresina. As respostas foram as mesmas das polícias locais. Os promotores falavam em “homicídio qualificado” e se baseavam apenas em depoimento de pessoas amigos e familiares da estudante.
As testemunhas falavam que Fernanda era uma moça “alegre e de bem com a vida”, sem motivos para se suicidar. De acordo com a análise do MP, a estudante estava sob forte efeito de bebida alcoólica, o que impossibilitou sua defesa. As investigações de vários setores, entretanto, apontaram que outra coisa. Maria da Conceição Krause, psiquiatra forense e clínica na Policia Civil do Distrito Federal, apurou e afirmou, no ano de 2014, após sete meses de investigação, que ela estava com 1,17 mg de álcool por litro de sangue no organismo quando morreu. Quantidade considerada altíssima. A PF chegou a exibir imagens de uma simulação em 3D e anunciou que Fernanda ou morreu por suicídio ou morreu por acidente.
BOATOS, ESPECULAÇÕES…
No decorrer das entrevistas dos promotores, muitos boatos e muito disse-me-disse surgiram. Parte da imprensa passou, além de abrir espaço para os promotores Eliardo Cabral e Ubiraci Rocha, a divulgar teorias da conspiração e até mesmo boatos. O jornalista Arimateia Azevedo, do Portal Az, chegou a divulgar a notícia de que havia um assassino e postou uma matéria com nome e foto do engenheiro Jivago Castro. O veículo de comunicação, entretanto, apagou. Respondeu processo, perdeu e responde até hoje por calúnia e difamação.
Desde a fundação do OitoMeia, novembro de 2016, a reportagem deste portal buscou ouvir o Ministério Público a respeito do assunto. O promotor João Malato evitou por diversas vezes dar entrevista. Os ex-promotores, Ubiraci e Eliardo, também evitaram. Recentemente, mais precisamente em junho de 2021, o ex-delegado geral da época, James Guerra, considerou, em uma entrevista ao jornalista Ieldiyson Vasconcelos, no seu podcast IelCasst, “irresponsabilidade” a maneira como os dois promotores conduziram o caso. No mês passado quem também falou sobre o assunto e com mais detalhes de tudo que passou foi Jivago Castro, fazendo revelações que fizeram muita gente passar a questionar o porquê de os promotores terem agido como agiram.
A FAMÍLIA DE FERNANDA LAGES
Paulo Lages, pai de Fernanda Lages, foi considerado por alguns um homem que foi usado pelos promotores e por parte da imprensa para manter na mente das pessoas que existia sim um criminoso. Além de Fernanda ele tem um filho. A família de Fernanda foi quem mais sofreu com isso tudo. Cobrou do Ministério Público, acreditou em tudo o que os promotores disseram e seguiu sem respostas. Pouco se tem de informação da família, que mora na cidade de Barras. Na quarta-feira passada, dia 25, alguns compareceram a uma missa e prestaram homenagem pela passagem dos dez anos de sua morte.
Uma das últimas informações, que repercutiu em toda a imprensa, foi de janeiro de 2017, quando uma tia, Cassandra Lages, informou que havia uma carta psicografada, revelada em um evento espírita. Em nota, ela disse que a família passou a estar “tranquila” após saber sobre o estado de Fernanda através desta carta. “Tivemos a alegria de receber uma psicografia da Fernanda, nos tranquilizando sobre seu estado e pedindo mais e mais orações para que seu espírito possa entender o que houve e encontrar a paz. Em virtude do conteúdo ser de cunho pessoal e por ser esse momento mágico e especial optamos por não divulgar a carta e seu conteúdo e esperamos que compreendam esse momento. No mais, reiteramos o pedido realizado na carta para que as pessoas orem por ela e não façam julgamentos precipitados dela ou de terceiros para que possamos ter a paz de espírito. Fiquem com Deus”, dizia nota assinada pela tia.
Fonte: OitoMeia
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