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15 comunidades da zona rural de Jaicós não possuem energia elétrica; famílias aguardam há anos pelo “Luz para Todos”

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A tentativa do governo brasileiro de universalizar o acesso à energia elétrica por meio do programa Luz para Todos, tem sido falha. Já são 16 anos desde que o projeto foi instituído e até hoje, diversas famílias ainda vivem às escuras.

O projeto, que em seu início representou esperança, agora, para alguns, tem sido motivo de frustração. No município de Jaicós, 15 comunidades da zona rural ainda não possuem energia e as famílias aguardam há anos pelo Luz para Todos. As comunidades são Alecrim, Tiririca, Serra Preta, Boi Morto, Brejinho, Sítio, Lago Achada, Baixa da Cela, Morro da Pinicada, Morro dos Três Irmãos, Lagoa do Cupim, Maria Preta, Caldeirão do Meio, Gameleira e Vazante.

Para conhecer um pouco da realidade vivenciada por essas famílias, o portal Cidades na Net, recentemente, visitou as comunidades Lagoinha, Boi Morto, Brejinho e Sítio e ouviu relatos de moradores que enfrentam dificuldades por não terem acesso à energia elétrica.

Na comunidade Boi Morto, conhecemos o casal José Raimundo Dias, 77 anos e Eulina Evangelista Feitosa, que moram sozinhos e ainda cuidam de um idoso de 93 anos de idade.

José Raimundo Dias, disse que espera pela energia elétrica há dez anos. “Já faz uns dez anos que a gente espera e só aqui e nessas comunidades vizinhas faltou em 14 casas. Aqui é do jeito que Deus quer, só ainda estou aqui porque investi muito dinheiro na propriedade, tenho meu criatório e não posso “afrouxar” disse.

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“Aqui é do jeito que Deus quer”

Eulina Evangelista Feitosa, esposa de seu José Raimundo, foi operada recentemente da visão e possui problemas de saúde. “Desde quando começou que estamos esperando e aqui tem freezer, liquidificador, batedeira, tudo sem uso. Já deixei até de fazer bolo porque tem que ser tudo na mão e não aguento com a dor nos braços. Além de tudo ainda tenho pressão alta e outros problemas. Mas vamos ver chegar energia aqui, em nome de Jesus” disse.

Mais à frente, encontramos José Enevaldo Feitosa, 53 anos, que falou das dificuldades enfrentadas pela falta de energia. “Desde o programa Luz para Todos veio até a Gameleira e teve um corte, aí até hoje a gente aguarda. Aqui é no sofrimento, se abato uma criação tenho que levar para a cidade para colocar no freezer porque não tem energia. Não posso comprar uma carne e trazer, pois no outro dia ela está perdida, tem que deixar na casa de um irmão ou cunhado na cidade” contou.

Ele disse ainda que a esperança já acabou, pois já foram muitas promessas. “Quando uma geladeira custava 600 reais eu guardei mil reais para comprar uma geladeira e até hoje esse dinheiro está guardado, nunca pude alcançar o desejo de comprar e hoje uma geladeira grande já é uns 3 mil. Conforme a quantidade de gente que já chegou aqui pegando nome, documento, dizendo que chegava energia aqui e nunca chegou, eu já perdi a esperança” disse.

“Quando uma geladeira custava 600 reais eu guardei mil reais para comprar uma geladeira e até hoje esse dinheiro está guardado, nunca pude alcançar o desejo de comprar”

Seguimos até a localidade Brejinho, onde, com alegria, fomos recebidos pela senhora Maria de Jesus da Conceição, que mora em uma humilde casa de pau a pique. No terreiro da casa, os restos de uma fogueira que na noite anterior ajudou a dissipar um pouco a escuridão e afastar os insetos.

“No terreiro da casa, os restos de uma fogueira que na noite anterior ajudou a dissipar um pouco a escuridão e afastar os insetos”

Maria de Jesus, contou que a energia chegou para algumas casas e outras não. “Essa energia aqui já era para “ter vindo à vei” porque já fizemos o cadastro, já foi e nada de chegar. Chegou energia para casas que não moram ninguém e aqui só se eu comprar “gaisolo” para “alumiar”, no maior sofrimento da vida. Eu peço a Deus que essa energia chegue logo, porque nós merecemos assim como os outros, temos o direito” disse Maria, com um semblante diferente e uma força na voz, demonstrando o sentimento de injustiça e revolta.

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Ela disse também que uma pessoa sem energia não é nada. “Se chegasse energia aqui seria um sonho, melhorava muito nossa vida, porque a pessoa sem a luz não é ninguém e eu queria que Deus ajudasse que ela viesse para nós também, porque todos são filhos de Deus” disse.

“A pessoa sem a luz não é ninguém” 

O filho de dona Maria, Raimundo José Veloso, disse que a energia veio perto, mas não chegou. “A energia veio bem aqui e não chegou, eu estava em Brasília e me chegou uma conversa de que proibiram os caminhões passarem em uma roça, porque era no inverno. Mas para mim aqui na minha roça pode passar por dentro do legume, porque eu quero é a energia, que é para sempre, o feijão a gente planta de ano em ano” disse.

Ele ainda falou das dificuldades. “São muitas dificuldades, a gente precisa guardar uma carne, no tempo quente é obrigado a beber água quente também, porque não tem condições de colocar na rua e ir buscar todo dia. E a gente fica sofrendo, há muito tempo essa energia está aí e aqui nunca chegou” falou.

Chegando a mais uma localidade, Sítio, visitamos a residência de Camila Rosa da Conceição, 56 anos, que mora com mais 6 pessoas em uma simples casa. O pai dela, mora a poucos metros de sua residência e já com idade avançada, precisa também do acesso à energia.

Camila Rosa disse que tudo melhoria com a chegada da energia. “A gente espera há muito tempo, desde a primeira vez que começou a colocar nas outras casas. Aqui a gente “vive só no óleo ou lamparina”, se não tiver o gás não ilumina. Seria bom se chegasse energia, melhoraria tudo. Antes a gente tinha dificuldade com água, mas resolveu, agora só falta energia e tenho fé que vai chegar ainda” falou.

“Agora só falta energia e tenho fé que vai chegar ainda”

José Francisco dos Santos, marido de Camila Rosa, disse que a energia não veio para todos. “Para uns veio e outros não e aí “o caba” tem que se contentar com tudo, a gente não pode fazer nada. Aqui só por Deus, seria bom era se chegasse energia aqui. E para quem tem criança e idoso é mais difícil ainda” destacou.

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Ainda na localidade Sítio, última que visitamos, conversamos também com Teresa Ângela Dantas, de 80 anos, que mora com a filha. Ela falou do problema com a conservação dos alimentos. “Quando era nova eu aguentava tudo, mas agora nessa idade não e a coisa que acho mais ruim é a falta de energia aqui. Vou para feira compro uma carne, um frango e não dá para guardar, eu tenho que guardar frito. Fruta também só fica fora da geladeira laranja, manga e banana, o cheiro verde compro no sábado e na segunda tenho que jogar fora” disse.

“Quando era nova eu aguentava tudo, mas agora nessa idade não e a coisa que acho mais ruim é a falta de energia aqui”.

Dona Teresa, um poço de simpatia, nos convidou para conhecer toda a casa. Ela mostrou que a água é armazenada em potes e filtro de barro, a carne é guardada em um isopor e contou que anda com sua lanterna o tempo todo. Para iluminar as noites, elas usam velas e o velho amigo lampião.

“Para iluminar as noites, elas usam velas e o velho amigo lampião”

José Antônio Dantas Leal, 43 anos, filho de Dona Teresa, disse que sem energia as dificuldades são grandes. “Para nós a coisa mais difícil que existe aqui é a energia. A dificuldade é grande, para comprar uma carne tem que comprar e consumir no mesmo dia, quando tem muito sol coloca no sol, mas no inverno não tem como. Se você quer perfurar um poço não tem como, na cisterna tem que tirar água no balde, os outros podem ligar uma bomba, agora aqui é tudo manual. Aqui tudo para nós é difícil”.

José Antônio disse que com a chegada da energia tudo seria diferente. “Se chegasse energia a diferença era grande, tinha como comprar uma geladeira, uma televisão para saber as notícias, tudo seria diferente. Hoje todo mundo depende de energia, é um direito de todos” disse.

Na conversa com José Antônio e sua família encerramos nossa jornada. Na hora de retornar já era fim de tarde e a única luz visível era a do belo pôr do sol que se iniciava.

Fotos:

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