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Estudante de enfermagem na Uespi denuncia racismo e registra boletim de ocorrência contra professora
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A estudante de enfermagem Ilana Monteiro registrou um Boletim de Ocorrência, na última quinta-feira (31/10), onde diz ser vítima de racismo por parte de uma professora da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), em Teresina. A coordenação do curso de enfermagem e o Diretório Central de Estudantes (DCE) informaram ao OitoMeia que a docente teria falado do cabelo da estudante dizendo que ele era ‘assanhado’.
O comentário preconceituoso teria sido feito, após a professora chegar atrasada para a aula. O episódio de discriminação teria continuado na sexta-feira (01/11), quando foi aplicada uma prova para a turma. Segundo Ilana, dessa vez, a professora cometeu assédio moral. O DCE e os centros acadêmicos de diversos cursos da instituição lançaram uma nota de repúdio contra as atitudes racistas.
“A professora falou sobre o cabelo dela, e a aluna se sentiu mal e pediu respeito, mas ela continuou. Foi então que no final do dia nós fizemos uma nota de repúdio. Vai ser aberto um processo administrativo e ela também registrou um Boletim de Ocorrência. Hoje de manhã ela fez uma prova com a professora e ela novamente foi muito racista com ela”, comentou a estudante Maria Antônia, membro do DCE.
Logo após a discussão, Ilana Monteiro procurou a coordenação do curso e relatou os acontecimentos para o professor e coordenador interino, Mauro Biá. Ele confirmou as informações ao Oito Meia ,e alegou que a docente tentou uma retratação.
“A aluna entrou com um Boletim de Ocorrência. A professora já conversou com ela hoje de manhã, tentou se explicar, disse que foi um mal entendido que aconteceu. O fato realmente aconteceu. A professora chegou na sala de aula e chamou a menina de ‘cabelo assanhado’, depois tentou consertar e disse que a menina era ‘assanhada’ porque tinha chegado atrasada. Depois, a aluna foi até a coordenação conversar comigo”, contou o vice-coordenador do curso de enfermagem da Uespi.
No entanto, a membro do DCE que acompanhou o caso ao lado de Ilana Monteiro, falou que a professora continuou com uma postura agressiva: “Hoje, ela foi mais agressiva e a ameaçou inclusive. A professora disse que se a aluna continuasse com isso quem iria se ‘ferrar’ só seria ela”.
Dívida histórica
A professora e socióloga Fabíola Lemos explicou ao OitoMeia que a falta de políticas de estado de reconhecimento da presença do racismo, ainda num contexto de pós-abolição da escravatura, reflete uma desigualdade social ainda nos dias de hoje. É uma dívida histórica, em termos raciais, sociais e econômicos que coloca a negritude em patamar de inferioridade, comparado aos séculos de direitos adquiridos e jamais questionados da população branca.
“Quando acabou a escravidão no Brasil, o negro saiu das senzalas num século que as teorias racionais estavam a todo vapor. Elas diziam que muito pior do que o negro, era o mestiço. Ele era visto como o elemento que ia manchar o nosso povo e ia ser responsável pela raça degenerada. Isso não era dito pela religião, era dito pela ciência. Por isso, houve e há a questão de negar a presença do negro. Num primeiro momento, com muita perseguição à cultura e a identidade do povo negro. Seja com a capoeira que foi perseguida e criminalizada, seja com as religiões de matriz africana”, declarou a socióloga, ao OitoMeia.
O que diz a assessoria da Uespi
A assessoria de imprensa da Universidades Estadual do Piauí informou ao OitoMeia que os pró-reitores da instituição ainda não receberam a denúncia, assim como a assessoria jurídica. Disse ainda que caso o episódio racista seja confirmado, um processo de sindicância será aberto para apurar a denúncia. A depender da apuração, um processo administrativo pode ser instaurado. As punições à docente podem ir desde uma advertência até uma exoneração.
Fonte: Oito Meia
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