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Jovens perdem interesse na CNH e 1ª emissão cai 70% em cinco anos no Piauí
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Aos 25 anos, o engenheiro eletricista Lucas André não tem carteira de motorista. Aprender a dirigir não está em sua lista de prioridades, no momento, e não ter um carro nunca lhe fez falta. Faz todos os seus deslocamentos usando o transporte por aplicativos de motoristas particulares, com quem fecha um pacote mensal para que o valor cobrado seja justo para os dois lados.
“Por três vezes ainda tentei tirar a carteira, há uns cinco anos. Fui reprovado em todas, por erros bobos” ironiza Lucas, ressaltando que todo o processo e a exigência para se ter o documento pela sociedade acabou lhe provocando uma pressão psicológica. “Percebi o processo de tirar o documento é muito lento, burocrático e caro, não compensando no final”, completou.
O seu caso é semelhante ao de muitos outros jovens que já não veem mais o carro como um símbolo de sucesso e independência na passagem para a vida adulta. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que a emissão de novas CNHs (Carteira Nacional de Habilitação) no Piauí reduziu em mais de três vezes, nos últimos cinco anos. O volume total passava de 32,2 mil em 2015, mas, no ano passado recuou para pouco mais de 10,1 mil. Uma queda de quase 70%.
![Engenheiro eletricista Lucas André (Foto: Redes Sociais)](https://static.meionorte.com/uploads/imagens/2021/8/24/80e44b29-5118-4c38-a4c9-7e2f42e14642-4b0a07cb-855c-4fbc-8bf3-7a0492bd5fee.jpg)
Engenheiro eletricista Lucas André (Foto: Redes Sociais)
O Detran (Departamento Estadual de Trânsito) do Piauí confirma a queda consecutiva, desde 2015, na emissão da 1ª carteira de habilitação. Segundo o órgão, o surgimento do transporte de aplicativos e, também, a visão mais ampla que o jovem tem atualmente sobre fatores ambientais, tempo e economia, foram os pontos que influenciaram muito para essa redução.
“Avaliando os números e também os fatos que têm acontecido, nesse período, podemos atribuir parte dessa queda, a uma mudança significativa nos hábitos das pessoas, principalmente dos jovens. Hoje em dia, podemos dizer que o jovem considera mais cômodo, seguro e econômico, utilizar o transporte por aplicativo para realizar as atividades do seu dia a dia, já que dessa forma ele não precisa se preocupar com estacionamento e manutenção do veículo, por exemplo”, destacou Garcias Guedes, Diretor-Geral do Detran-PI,
Outro fator determinante nessa mudança de comportamento, de acordo, ainda, com o Garcias, foi a pandemia da Covid-19. “No Piauí, de 2015 a 2019 não observamos mudanças significativas no número de novas habilitações, já em 2020, ano em que a pandemia teve início, houve uma mudança maior, devido à condição de home-office que passou a ser adotada e também por conta das várias medidas restritivas que influenciaram muito no modo de vida de toda a população”, completou.
Entretanto, trata-se de um fenômeno nacional. Levantamento da empresa de pesquisas Ipsos, também com base nos dados do Denatran, mostra peso de aplicativos, caminhadas e bicicletas na rotina de quem tem entre 18 e 30 anos; desde 2015, teria promovido a redução em 10,5% na retirada de novas CNHs. Ou seja, Tirar a carta hoje em dia não está mais nas prioridades de quem completa 18 anos. O documento que era um dos principais sonhos de consumo dos jovens está em queda.
A pesquisa, realizada entre 2014 a 2017, em várias capitais das regiões Nordeste e Sudeste do país, o aspecto prático, realmente, é quem ratifica a redução. Se há alguns anos era quase que automático o jovem que completasse 18 anos tirar a carteira e, assim que possível, adquirir um automóvel, agora essas pessoas estão protelando esses dolis momentos. Conforme o estudo, quase a metade (48%) dos jovens de 18 a 21 anos perguntados afirmaram não ter interesse de ter o documento.
Entretanto, o especialista em trânsito Ricardo Borges, que também é o presidente da Apetrans (Associação Piauiense de Educação no Trânsito) discorda dos motivos para essa queda. Para ele, existe uma diferença entre o número de processos de habilitação abertos no Detran-PI e o número de processos de habilitação concluídos, que costuma ser bem menor. Antes da pandemia, estimava-se que o órgão abria uma média de 50 mil processos de habilitação por ano, entre primeira habilitação, mudança ou adição de categoria. Só que muitos desses processos não são devidamente concluídos.
![Ricardo Borges, especialista em trânsito (Foto: Redes Sociais)](https://static.meionorte.com/uploads/imagens/2021/8/24/1508b5aa-fe98-4d0a-8eee-682584f75791-e3847d43-74ad-4df2-9299-de280515b728.jpg)
Ricardo Borges, especialista em trânsito (Foto: Redes Sociais)
“São diversos fatores que fazem os processos não serem concluídos e por isso, o número não é maior. Mas, não acredito que outros veículos tenham influência direta ou grande relevância na redução do número de habilitados no estado. O transporte público sempre foi muito precário. Os aplicativos só equilibraram mais essa questão. Já o uso de bicicletas ainda é predominantemente para fins esportivos, embora tenha havido um leve aumento para fins de transporte e trabalho, ainda relacionado à precariedade do transporte público”, explicou.
Para completar, Borges acrescenta que comparando a frota total do Estado, que já ultrapassa os 1,3 milhão de veículos, com o número de condutores devidamente habilitados, que é de quase 590 mil, observa-se uma discrepância muito grande. “Ainda existe a cultura de comprar o veículo primeiro e tirar a habilitação depois, se e quando der. A falta de fiscalização devida, principalmente nas cidades do interior, tornam o ato de conduzir sem habilitação ainda mais fácil”, finalizou o especialista em trânsito.
Fonte: Meio Norte
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