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POLÍTICA

Em entrevista a MN, Lula diz que piauienses sabem diferença entre antes e depois do PT

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ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista exclusiva concedida para a jornalista Cínthia Lages, para o programa “Notícias da Boa”, da emissora de rádio Boa FM, e para o programa “Agora”, da Rede Meio Norte, que qualquer piauiense se lembra do que era o Piauí antes do governador Wellington Dias (PT) e o do próprio Lula chegarem ao Governo e sabe o que é o Estado hoje.

“Qualquer piauiense sabe o que era o Piauí antes do Wellington e do Lula chegarem ao governo e o que é agora, qualquer um sabe. O pior inimigo nosso sabe o que mudou. Governar esse país e cuidar do pobre não tem que ter diploma de honoris causa, nem mestrado, você tem que ter paixão, para cuidar de pobre você tem que ter amor, é uma opção de vida que você faz”, declarou Lula, que recebeu, na Assembleia Legislativa do Piauí, na última quarta-feira, dia 21, os títulos de Cidadão Piauiense e Cidadão Teresinense.

Sobre sua disposição para disputar a Presidência da República nas eleições gerais de 2018, Lula afirmou que “está na área”, sentado no banco de reservas, bem preparado fisicamente e observando o jogo. “Eu estou na área, estou no banco de reserva, olhando o jogo, bem preparado fisicamente. Deus queira que apareça alguém”, declarou Lula.

Jornal Meio Norte – Qual a perspectiva o senhor tem em relação à educação do Brasil nos encontros que o senhor está tendo para discutir esse tema?

Luiz Inácio Lula da Silva – Nós aprovamos em 2014 o Plano Nacional da Educação, que estabelece um plano para a educação até 2024. Conseguimos aprovar depois de quatro anos tramitando na Câmara e no Senado. Foi aprovado, foi um projeto que eu enviei ao Congresso em 2010 e a presidente Dilma sancionou em julho de 2014. Ele tem uma meta a ser cumprida, de universalizar o atendimento e a educação a portadores de deficiência, tem meta de universalizar a educação, de colocar todas as crianças em creches, de colocar 95% das crianças em idade escolar nas escolas, o que vai exigir uma repactuação entre os entes federados, com prefeitos, governadores e a Presidência da República para que a gente possa cumprir as metas a cada ano, 2016, 2017. É uma coisa que se você não envolver a sociedade, se você não envolver os sindicatos, se você não envolver as escolas e as igrejas termina não cumprindo e esse plano só vai dar certo se envolvermos a sociedade. Por muito tempo o Brasil ficou atrás do mundo em termos de educação. Quando nós criamos o Bolsa Família, nós condicionamos que as mães só iriam receber o Bolsa Família se os filhos delas em idade escolar estivessem na escola. É quase uma obrigação da mãe colocar os filhos nas escolas.

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JMN – O Programa Bolsa Família está fazendo 12 anos e é considerado no mundo inteiro como o maior programa que retirou milhões de pessoas da linha de pobreza e já são 35 milhões de pessoas beneficiadas. Tem muito preconceito em relação ao Bolsa Família e a outros programas sociais. Por isso acontece, qual a raiz disso?

Lula – Porque durante todo o século XX e antes do século XX, parte da elite política que governava o país entendia que o Brasil deveria ser governado apenas para 30%, 35% da população e o restante deveria ser pobre. Para eles era apenas números de dados e pesquisas. Ou seja, não era preciso ser tratado. Então, não se pensava em educação, não se pensava em saúde e em distribuição de renda. Quando nós criamos o Bolsa Família, o discurso que eu fiz no dia da vitória em 2002, eu disse que se ao terminar o meu mandato, cada brasileiro ou brasileira estivesse tomando café da manhã, almoçando e jantando todos os dias, eu já teria cumprido a missão de minha vida. Eu disse aquilo porque sabia o que era fome. Eu sabia o que era uma criança ficar dois, três dias sem comer, eu sabia o que era um pai, uma mãe deitar e o filho chorar por um bocado de leite, por um bocado de feijão e não ter o que comer. E o que era aquilo? Era dar prioridade a essas crianças. Na cidade de Souza, na Paraíba, eu vi uma mulher na feira com uma criança morta no colo pedindo para enterrar a criança. Aquilo não era possível. Eu fiz esse desafio e fiquei muito feliz quando no mês passado, a ONU tirou o Brasil do Mapa da Fome. Ou seja, significando que é possível. Os preconceituosos diziam que o programa era assistencialista, pela direita, diziam que eu estava criando um bando de vagabundos, que ninguém queria trabalhar e as famílias só queriam viver do Bolsa Família. Essas pessoas que falam essas coisas não conhecem nada de pobre. Você tirar 35 milhões de pessoas da miséria absoluta é um milagre, que nem algumas revoluções fizeram o que nós fizemos em tempo de paz, de democracia, liberdade, com uma imprensa, muitas vezes, criticando todos o santo dia o Bolsa Família. Chegou um dia que um ministro disse que era para acabar com o programa porque não aguentava mais apanhar. Eu disse: deixa bater. Eu não estou preocupado com a chibatada que eu recebo da imprensa, eu estou preocupado em saber se as crianças estão consumindo as calorias necessárias. Eu digo para a presidenta Dilma que toda vez que aparece uma crise os pobres são a solução. Na hora que o pobre tem R$ 20, R$ 10, sabe o que acontece? Ele vai direto no supermercado e o dinheiro começa a circular e se milhões estão recebendo milhões estão comprando, o comércio vai funcionar, a indústria vai produzir, as indústrias vão pedir para as empresas que produzem matéria-prima, daqui a pouco a roda gigante da economia está girando e, daqui a pouco, todo mundo está ganhando um pouquinho. É por isso que eu digo que muito dinheiro nas mãos de pouco é concentração de renda. Pouco dinheiro na mão de muitos é distribuição de renda e nós precisamos promover uma nova revolução. Nós precisamos fazer uma nova política de incentivos para as pessoas e a primeira delas é recuperar a confiança das pessoas. Eu não acredito que a sociedade possa ir para a frente de mau humor.

JMN – Parece que é mais do que mau humor, é ódio, muito desrespeito não só ao Bolsa Família, mas a programas como o Mais Médicos. Qual seria a explicação do mau humor em relação a esse programa?

Lula – O Mais Médicos foi uma medida extraordinária da presidenta Dilma porque no Brasil e aqui no Piauí existem cidades do interior que mesmo pagando um bom salário, o médico não quer ir. Esse é o fato. Já são 18 mil médicos e isso mudou a cara das cidades pobres, a cara das regiões mais pobres e basta fazer pesquisa sobre o conjunto de políticas que foram feitas no Brasil. É uma revolução que haverá de ser contada na história desse país. O preconceito tem uma parte que é política ideológica.

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Cinthia Lages entrevista o ex-presidente Lula (Efrém Ribeiro)

JMN – O Brasil vive um ano difícil.

Lula – Mas não resolve você ficando de cara feia. Eu muitas vezes, acho que aprendi com minha mãe, uma mulher que nasceu e morreu analfabeta. Ela mesmo quando não tinha condições de fazer comida para nós, eu não via minha mãe zangada, ela sempre estava esperando animada sobre o que ia acontecer. Eu fico pensando quando vejo uma pessoa azeda, resmungando, achando que nada está certo, não deveria sair de casa. Fica em casa, fecha os olhos e fica descansando porque se a gente sair todos os dias para trabalhar com mau humor, se sair xingando alguém e se a gente perceber que também tem responsabilidade, será que as pessoas acham que a Dilma tem culpa pela crise econômica que está acontecendo nos Estados Unidos desde 2008, será que as pessoas culpam a Dilma pela crise da China, que crescia 14% ao ano e agora vai crescer 5%. Será que acham que a Dilma tem culpa pela crise da Europa. A crise foi uma crise de responsabilidade do mercado financeiro mundial, que viveu de especulação, de papel atrás de papel e de parafuso e desde quando quebrou o Lehman Brothers quebrou, essa crise já consumiu mais de US$ 10 trilhões e ainda não resolveu o problema da crise. Foi uma crise de responsabilidade dos países ricos e o Brasil foi o partido que mais aguentou firme. Em 2008, eu disse que essa crise é uma marolinha. E fui para a televisão pedir para as pessoas consumirem, vamos comprar com responsabilidade porque se não comprar a economia para e nós estamos na mesma situação. A Dilma segurou este país até o final do ano passado. O Brasil chegou em dezembro de 2012 com 4,8% de desemprego, é o menor desemprego da história do Brasil e menor do que vários índices de desemprego da Europa, mas na hora que você teve muita desoneração, isenção de impostos para que a economia continuasse crescendo e gerando empregos, o Estado começou a arrecadar menos, quando o Estado começou a arrecadar menos. Isso serve para todos. Quando seu salário não cobrir as despesas, vai pedir aumento de salários ou cortar as despesas. O que a Dilma fez? A Dilma teve que dar uma parada. Ou seja, não cortou nenhum programa social, mas diminuiu o orçamento, cortou os gastos que foram possíveis cortar para que a economia se equilibre e ela comece a investir para voltar o crescimento outra vez. Pode ficar certo que essa dor de barriga é passageira.

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JMN – É uma crise política também. Onde a presidente Dilma errou?

Lula – Eu acho que nós erramos quando ganhamos as eleições. É a primeira vez que eu participo de uma crise de vitória, não uma crise de derrota. A Dilma ganhou as eleições tinha uma maioria razoável no Congresso Nacional. O que aconteceu é que o ajuste, entre outubro e dezembro, deveria ter sido negociado com muita gente do movimento social, que foram soldados nossos na campanha. Acontece que o ajuste foi anunciado no dia 29 de dezembro e essa parte da sociedade não se sentiu contemplada, dizendo que a Dilma fez o ajuste que os tucanos diziam que iam fazer e nós éramos contra. E aí começou uma crise política estimulada pelo ódio do tucanato contra nós, estimulado porque eles até agora não desceram do palanque. Eu acho que só tem uma coisa a fazer nesse momento no Brasil é a gente saber que a Dilma foi eleita democraticamente e a gente deixar ela governar esse país. Foi eleita para cuidar do povo brasileiro. Foi eleita para cuidar de 204 milhões de brasileiros e, como uma mãe, tem dificuldades. E quando uma mãe tem dificuldades não abandona os filhos e vai embora. Dilma vai fazer a mesma coisa. Dilma é uma guerreira, ela vai brigar e governar esse país e muitos que estão xingando a Dilma hoje, com certeza, daqui a alguns meses estarão pedindo desculpas. Eu já vi muito isso na vida. Quando deixei a Presidência com 87% de bom e ótimo e 3% de ruim e péssimo porque fui avaliado perto do comitê dos tucanos e 10% de regular. Em uma democracia é possível reconquistar essa gente. É possível reconquistar.

JMN – O senhor vislumbra essa reconquista?

Lula – O PT é muito grande, gente. É o partido historicamente mais enraizado na sociedade brasileira. O PT não é um que cometeu erro, não são dois que cometeram erro, não são dez que cometeram erro. O PT são milhões de pessoas que constroem o partido. Qualquer piauiense sabe o que era o Piauí antes do Wellington e do Lula chegarem ao governo e agora, qualquer um sabe. O pior inimigo nosso sabe o que mudou. Governar esse país e cuidar do pobre não tem que ter muito diplomas de honoris causa, nem muito menos mestrado, você tem que ter paixão, para cuidar de pobre você tem que ter amor, é uma opção de vida que você faz. Dizem que o aeroporto virou uma rodoviária, tem muita gente dentro porque o que eles adoravam mesmo era quando o pobre ficava na beira do aeroporto pedindo esmolas vendo eles entrar em avião vazio. Agora não, o pobre vai de avião. Quando um piauiense que mora em São Paulo quando ele quer vir ao Piauí, não vem mais de ônibus, passando 48 horas. Agora, ele vem de avião. Agora o pedreiro pode ser engenheiro, o filho da empregada doméstica pode médica. Obviamente, isso traz para algumas pessoas muita raiva, muito ódio, quando deveria gostar. Quando mais os pobres crescem, mais melhora a vida no Brasil, melhora a vida da classe média, diminuem assaltos, diminui violência, diminuem roubos, diminuem mortes. Eu acho que as pessoas ficam pensando assim: eram tantos doutores na Presidência e veio o Lula, que é quase analfabeto e foi quem mais fez universidades no Brasil, quem mais construiu escolas técnicas, quem mais aumentou as matriculas nas universidades. Na minha vida, eu aprendi a não fazer o jogo de meus adversários. Eu nunca tinha andado de avião em minha vida, só via o bichão passando em cima de minha cabeça. Em São Bernardo, os adversários diziam que eu só andava de avião, publicaram em jornal. Eu era só um dirigente sindical, eu fazia greve e eles diziam que eu fazia greve parta vender a greve para os patrões. Uma vez eu processei até um juiz, que depois foi me pedir desculpas no tribunal. Esse processo de delação e todas essas coisas, fomos nós que fizemos. As delações de 2007 e 2008 são muito mais fortes do que a Lei da Delação feita em 2009. Então, nós criamos todos os instrumentos, demos autonomia para a Polícia Federal para investigar, o Ministério Público, com a autonomia que ele tem, para fazer com que as coisas sejam apuradas. O que nós queremos é que as pessoas sejam condenadas sem julgamento pelas manchetes dos jornais. O Brasil de hoje, em alguns lugares do país, a coação é tão grande que até medo a imprensa coloca. É só você ver nas redes sociais e vê o que façam do ministro Ricardo Lewandowski.

JMN – Até jornalistas.

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Lula – Até o Jô Soares foi atacado, eu lembro disso. Mas essas pessoas não gostavam de mim antes de eu ser presidente. Não gostar é assim mesmo, nem Jesus Cristo teve unanimidade. O que nós temos que trabalhar é com a certeza da nossa consciência tranquila, deitar a cabecinha no travesseiro e falar: “hoje eu cumpri com minha obrigação de cidadão, cidadão brasileiro. Hoje, a gente só tem um instrumento, ir para a Justiça. Eu vou ser o rei do Guiness Book de entrar com ações na Justiça. Eles podem dizer o que quiserem, falar o que quiserem, mas eu vou conversar com o povo, vou fazer isso outra vez.

JMN – O senhor falou que não se governa o Brasil de Brasília, tem que viajar. O senhor está viajando, tem um vídeo com a música do Chico Buarque que diz que pode ir preparando o feijão preto, que eu estou voltando. O senhor está voltando?

Lula – Eu quero viver. Eu acho que já cumpri com a missão de minha vida. Eu acho que, apesar de tudo que se escreve, eu tenho consciência de que poucos presidentes brasileiros fizeram pelo povo brasileiro o que eu fiz. Eu só fiz por causa da ajuda do povo brasileiro, esse povo confia, esse povo acreditou, esse povo, no momento de adversidade, me apoiou. Em 2005, quando diziam que o Lula está sangrando, vai cair, eu disse que se quiserem me derrubar vão ter que ir para as ruas e saí para andar pelo país. Em 2006, eles quebraram a cara, quando pensavam que eu estava morto, eu apareci na pesquisa com 15 pontos na frente do melhor deles e depois terminei o segundo turno com 62% contra 38% deles. Eu acho que nós temos que criar novas lideranças, torcer que apareça gente nova, inteligente, mas competente, mas é o seguinte, só quero avisar o seguinte:estou me cuidando, estou fazendo minha ginástica, estou me cuidando e não pensem que vão fazer que o país vai voltar ao que era há 20 ou 30 anos atrás, achar que as pessoas estarem passando fome nas ruas é normal, não é normal, que agricultor não ter financiamento é normal, não é normal, que as pessoas conseguem produzir um pouco de macaxeira e não podem vender porque não têm para quem vender e ficam apodrecendo na porta de suas casas. O Estado tem que comprar essa comida dele. Eu estou na área, estou no banco de reserva, olhando o jogo, bem preparado fisicamente. Deus queira que apareça alguém.

JMN – Quem é o titular desse time?

Lula – Eu não sei, nós temos gente importante, temos ministros importantes, a Dilma acaba de legar agora o Jacques Wagner para a Casa Civil. O Jacques é um político exitoso, foi governador duas vezes na Bahia, ganhou no primeiro turno. O que nós temos de fazer é que haja uma evolução na sociedade brasileira ao ponto de compreender de que não há saída fora da política, não tem saída. Se a pessoa acha que tem saída fora da política, eu queria lembrar que sem a política tudo fica pior. É isso que eu acredito e por isso é que eu estou no jogo, eu estou no jogo, enfrentando as adversidades explicando, trabalhando e um dia o povo vai julgar. O povo vai julgar, está definida a regra do jogo e querem que as pessoas respeitem. Eu não estou pedindo para ninguém gostar da Dilma, gostar do Lula, eu não estou pedindo para casar, eu estou pedindo que as pessoas tenham tolerância democraticamente na adversidade. A Dilma não é simplesmente a Dilma, é a presidente, é uma instituição e a Dilma tem que ser respeitada por isso. Eu vejo às vezes as pessoas falarem palavrões e eu fico pensando se eles façam aquilo dentro de casa para as mães deles, fico pensando que tipo de filho é aquele, como é que ele trata a irmã? Como é que ele trata o pai, como ele trata a mãe? Ele não aprende educação, não? Aí um fico satisfeito, não é o dinheiro que dá educação, é o berço. Eu digo sempre que sou filho de uma mulher analfabeta, mas eu aprendi que respeito é bom, a gente tem que dar e gosta de receber e temos que garantir que a Dilma governe este país.

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JMN – O senhor não acredita em impeachment?

Lula – Não há base legal, não tem qualquer coisa para um impeachment. Acho um absurdo a oposição estar tentando cassar o mandato da presidente Dilma. Imagine, você eleger a Dilma e o Lula entra com um impeachment contra ela. Não é assim, você precisa construir razões suficientes pelas quais você pode pedir impeachment e a única coisa que se pode fazer é deixar ela concluir o mandato, com a dignidade que ela merece. Agora, eu sou cidadão piauiense e fui ontem para a casa de Wellington comer paçoca já como cidadão piauiense.

 

Meio Norte

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