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HISTÓRIAS DA NOSSA GENTE

SAGA DE UM VAQUEIRO | Julião celebra 91 anos ao lado da família e amigos em Sussuapara e fala das pegas de boi; fotos

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Quase um século de vida. Exemplo de coragem e memória firme, invejável. Muitas lembranças e histórias são contadas por seu Julião.

Nesta segunda-feira, 09 de janeiro, Julião completou 91 anos de vida e celebrou seu aniversário ao lado dos filhos, netos.

Em sua residência ofertou um jantar e reuniu também alguns amigos como o prefeito Dr. Naerton Moura e a primeira-dama Dra. Carla Vitorino, os vereadores Cear´´á e esposa, Zé Omar, Lúcia de Dedé, padre Feitosa, entre outros.

Amigos prestigiam aniversário de 91 anos de Julião em Sussuapara
Padre Feitosa abençoa momento celebrativo durante jantar na residência de Julião

Ao longo de todos esses anos, Julião representou bem a bravura do homem do campo e a figura símbolo do Nordeste brasileiro: o vaqueiro.

Seu Julião falou brevemente de seus primeiros anos de vida, da sua mocidade e pegas de boi em toda região de Picos e da constituição da família. São muitas as experiências de vida.

Foto gentilmente cedida por José Milton

De Oeiras a Pimenteiras, Julião narra acontecimentos nas pegas de boi, dos altos e baixos que aconteceram e ainda conta um pouco de como a experiência pode ajudar no rebanhar do gado ao longo do percurso.

Julião Avelino de Barros é um dos poucos vaqueiros que está vivo, totalmente lúcido para contar histórias.

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Nascido em 09 de janeiro de 1932, teve 19 irmãos. Julião conta quando seu pai teve a primeira casa em 1924. Dois anos depois, em 1926, uma outra casa foi construída. Do seu nascimento, além da data, ele muito bem lembra do dia: um sábado.

Foto gentilmente cedida por José Milton

Casou-se no dia 11 de setembro de 1965 e teve 10 filhos. Dos 10, sete são homens e três mulheres: Flaviano (in memoriam), José Elias, José Carlos, José Francisco, José de Arimatéia, José Edimilson e José Antônio, Maria Antônia, Maria da Conceição (in memoriam) e Maria Irene (In memoriam). Vivos estão sete.

Julião e os filhos
Julião e Netos

Aos 16 anos iniciou as andanças no campo e ingressou nas pegas de boi na mata. “Eu era vaqueiro e amansador de burros. Só de uma pessoa [Guilherme Rocha] amansei doze burros e dois cavalos”, contou.

Julião lembrou dos vaqueiros com quem campeava em sua época e que já se foram para além do plano terrestre. “Eu campeava mais Antônio Vitorino, Nascimento, Antônio Pedro, Doca Estevão, Pedim de João Pedro, Manoel de Zeca, João de Deus, Abidão, Zequinha dos Mirorós”, disse afirmando que todos são falecidos. “Ainda tem vivo João Delfonso’, completou.

O vaqueiro disse que conheceu também João de Eusébio, 102 anos, de Bocaina, mas não campearam juntos. “Antônio Vitorino, Pedro Lídio”, lembrou.

Nas dificuldades para criar a família, Julião recordou que muitas vezes saía para Picos sem dinheiro, apenas com sacos secos para adquirir alimentos, montado em um jumento.

“Lá eu tinha meus amigos. Trabalhei um bocado de anos mais Matias Bezerra que foi uma das pessoas que me ajudaram a criar a família. Essa casa aqui ele ajudou a comprar”, disse falando da atual casa em que reside.

Matias era um dos maiores proprietários de terras e gado. O povo residente em Ipueiras, Umari, todos criavam gado, como lembra Julião.

“O gado era “brabo” demais. Eu ia para lá, eu pegava e ia deixar lá. Gado sumido quem achava era eu. Eu criei minha família trabalhando lá”.

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Foto por José Milton

Depois de Colônia do Piauí, próximo a São Francisco do Piauí em uma dessas experiências, Julião ficou encarregado de vender duzentos e cinquenta cabeças de gado com mais bodes e ovelhas e desocupar a propriedade em 90 dias.

No dia em que vencia o prazo para entregar a propriedade, restava apenas 16 cabeças de gados e umas sessenta de bodes e ovelhas. Estes foram removidos em um caminhão.

Foto por José Milton

Religiosidade

Sem rodeios, foi claro e direto quando indagado sobre sua religiosidade e crença. “Crê em Deus eu creio. Meus filhos todos são batizados. Casei no padre. Não tenho outra “lei” não. Agora eu não vou é morar lá dentro de uma igreja”.

Quebradura

Julião tem cinco ossos quebrados, sendo duas costelas de cada lado e mais um osso na parte superior. “De pancada de pau”.

Foto por José Milton

Uma dessas foi de acidente perto de Oeiras, quando precisou pegar o gado de Almeida. “Estavam carregando um gado no caminhão e o resto do gado embrabeceu e não entrava no curral. Aí levei a pancada num galho de caju e quebrou duas costelas”.

Constrangimentos

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Se perder no mato não, mas outras coisas desagradáveis aconteceram.

Ele e seu cunhado levaram três dias para chegar em Alagoinha. Em desses dias já ao anoitecer, sem encontrar rancho, decidiram passar a noite em um beco. Cada um ficou em uma ponta do beco e acenderam uma fogueira.

“Ninguém achou rancho”.

Foto: José Milton

Com o gado de João Bento, em outra ocasião saiu para São João da Canabrava guiando doze garrotes. No trajeto, em uma localidade por nome de Currais, Julião decidiu procurar rancho, devido à chuva que mesmo fina era molhadeira.

Na casa de Antônio, um conhecido, pensou que seria fácil arrumar o local, o curral para o gado. Mas como nem tudo são flores, Antônio se negou a ceder o rancho.

“O gado com chuva sem querer andar”.

Daí logo pensou em insistir mesmo sem o consentimento de Antônio. “Virei o burro para trás. Pedi o curral e você não deu, mas agora eu vou botar”.

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Foto: José Milton

Antônio retrucou e disse não. De imediato Julião insistiu e disse: “Boto e se amanhã faltar um garrote você é quem vai me dar conta”.

Depois disso, Julião entrou com o gado no curral e logo depois desarreou o burro e se abancou no alpendre da casa.

“Ele caminhava no alpendre. Eu não falei com ele e nem ele falou comigo. Dei fé e ele entrou. Pensei que ele ia buscar um revólver. Ele voltou e ficou sem falar comigo”.

Sem dormir, molhado, em cima de um banco, ao amanhecer, 5 horas, celou o burro e seguiu viagem para Canabrava.

Outro constrangimento nas levas de gado foi quando seguia para Alagoinha do Piauí. Julião já havia se informado sobre algum local para arranchar o gado e a ele. Chegando no dito cujo se deparou com o argumento da dona da casa dizendo que era impossível alocar o rebanho porque tinha “uma ovelha parida”.

O vaqueiro logo ficou tomado de tamanho espanto: “O que diabo tem a ver uma ovelha parida com gado?”

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Ao Cidadesnanet.com ele lamentou. “Andar por aí você topa gente boa, mas topa gente ruim. “Às vezes com dinheiro ainda não acha o que comprar”.

Vaqueiro desde os 16 anos, seguiu na profissão até seus 80 anos, aproximadamente até 2011. “De Oeiras a Pimenteiras eu conheci toda “vareda”. Não perguntava a ninguém. Conhecia tudo”.

100 gados. Era uma quantidade que certa vez levou sozinho. “Peguei lá nas Pedrinhas e levei para o Sambito. 100 gados eu levei sozinho e chegou tudo lá”.

Experiência e dicas de um vaqueiro

Um dos segredos que Julião contou é que durante a leva do gado se algum entrar em um beco, é importante que o vaqueiro não se preocupe muito.

“Não se importe não. Não deixe os outros entrar que ele volta. Se você ver que que não vota, “desapei”, amarre o cavalo, entre por dentro da roça e “ataia” lá porque se você correr no beco resulta ele pulando numa cerca para dentro, ai fica aquela peleja para você entrar para dentro e botar ele para fora, e quando você voltar não sabe de vida dos outros”.

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Aniversário de inauguração da gruta

O encontro celebrativo de 91 anos aconteceu logo após a inauguração da Gruta de Nossa Senhora Aparecida, na comunidade Salinas, em Sussuapara.

Na cerimônia de inauguração, durante a missa – o primeiro ato – foi homenageado quando todos que estavam presentes cantaram os parabéns desejando bonanças para o aniversariante.

Seu Julião é homenageado durante missa na Igreja Católica de Salinas
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