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Clicks do Mês

Com história de amor, dor e fé, Clicks do Mês em Geminiano traz relatos emocionantes; confira matéria e fotos!

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Um amor que cedo floresceu. Eles se conhecerem muito jovens, mas sempre souberam que foram feitos um para o outro. Foram apenas alguns meses de namoro para que logo eles decidissem que queriam partilhar a vida juntos.

Foram 11 anos de um relacionamento de muito amor, cumplicidade e respeito. Eles ficaram 7 anos juntos e há cinco, a união havia sido selada no altar. Em junho de 2024, eles completariam 12 anos de relacionamento. Mas, o amor que muito cedo começou, precocemente também foi interrompido.

É de Samara Maria Aragão, 27 anos e idade, e Welton Sousa Fontes, 33, pais de Lorena Aragão Fontes, 6 anos, que este texto fala. Contando um pouco da história deles, que são da localidade Milhans, interior de Geminiano, o projeto Clicks do Mês volta a emocionar e inspirar.

Marido e pai exemplar, é como Samara define o seu eterno amor. “A gente se juntou bem jovem, eu tinha 15 anos. A gente só namorou 7 meses e aí dia 24 de junho de 2012 a gente se juntou. Não era um casamento perfeito, porque acho que isso nem existe, mas a gente vivia bem, tentava superar os altos e baixos que acontecem. Ele era uma pessoa exemplar como homem, marido e principalmente como pai, e essa é a parte que mais dói, que faz falta. Nossa filha era muito chegada a ele como pai, em relação a dar banho, colocar pra dormir. A relação deles era sem defeito”.

Ela lembra que a chegada da filha foi um sonho realizado. Foi aos 20 anos de idade de Samara que veio o fruto desse amor. “A gente queria muito, até que descobrimos a gravidez e foi a melhor notícia do mundo. Lorena foi planjeda e muito esperada por nós. Só que ele sempre disse que só teria ela. E eu brincava dizendo, eu vou ter outro filho (risos), e ele dizia que só teria a Lorena. É uma das coisas que quando você para pra pensar, diz ‘meu Deus’. Ele falava que ia criar bem ela, que o mundo de hoje tava muito difícil, falava essas coisas. Mas ele era apaixonado na Lorena”.

Além de pai e esposo amoroso, Eltin, como era carinhosamente chamado, era batalhador. “Ele era muito esforçado, quando dizia que queria uma coisa, ele ia conseguir. Tanto é que a gente vivia bem como casal e financeiramente também. Ele sempre trabalhou. O pai dele é até de condição, mas ele nuca foi de depender, sempre foi pelo dele. E a gente conseguiu fazer a casa e conquistar nossas coisas bem cedo, sempre focados no que a gente almejava. Quando a gente se juntou ele trabalhava no posto de Geminiano, ficou lá por alguns anos e depois começou a carregar o povo do P da Silva em uma ‘besta’ do pai dele. Depois ele comprou o primeiro ônibus e ficou de linha. Fazia muitos anos que ele levava e trazia o pessoal do P da Silva todos os dias”.

Porém, recentemente um trágico acontecido fez com que a história da família ficasse marcada também por dor e lágrimas. No dia 12 de novembro de 2023, eles sofreram um acidente de carro, que se tornou um dos piores momentos de suas vidas.

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“O acidente foi no dia 12 de novembro de 2023, era um domingo. Como de costume no domingo ele acordava e ia pra casa da mãe dele. Nesse dia ele me ligou chamando para ir a piscina e eu disse ‘tu que sabe, vou ver com a Lorena’. Eu lembro que estava cansada, porque eu me candidatei as eleições do Conselho Tutelar e foi bem corrido. Quando passou a eleição, eu ganhei e tal e foi tipo um alívio. Acho que era um dos primeiros domingos depois da eleição e eu disse, ‘quer saber, bora pra piscina’. Pra distrair um pouco. Foi um casal de amigos que nos chamou e a gente combinou de ir e voltar cedo, porque o time daqui, o Palmeiras de Milhans, tava no campeonato. Só que atrasou o almoço, a conta veio errada e acabou que quando a gente chegou em casa já era quase 3 horas, a hora de descer pro campeonato. Aí quando a gente colocou o pé em casa, Lorena falou pra gente não ir, ‘mãe não vamos’, e eu disse ‘Lorena, é o jogo do papai, dos meninos’. Ela disse que não ia e eu falei, ‘pois já que tu tá cansada, fica com vó Meira ou vó Maria, e ela disse, ‘não, se mãe for eu vou”. E nisso a gente foi”.

Pouco tempo depois, o pedido de Lorena começaria a ser compreendido. “Lembro que perto do local do acidente ela tava no banco de trás, sozinha e sem cinto. Os três sem cinto. Aí chamei ela pra sentar no meu colo, ela veio e a gente começou a conversar, brincar. Ela olhava alguma coisa na mão e me mostrou. Quando olhei pra mão dela ele gritou, “Samara, meu Deus do céu”. Quando ele gritou que eu olhei pra frente, o carro tava bem próximo, sem ter o que fazer ou pensar. Eu só fechei ela nos braços com força, fechei os olhos e pedi ‘meu Deus, me ajuda”. Quando abri os olhos eu tava no chão e o carro estava terminando de capotar. Eu olhei pra ver se ele estava dentro e não estava. Procurei, aí quando virei ele estava atrás de mim, bem longe. Aí ela levantou. Quando ela levantou eu disse ‘meu Deus, Lorena tá bem’. Não tinha sangue nela, nada. Aí eu tentei levantar, quando tentei pra ir lá no corpo dele, não consegui, não sentia as pernas e alí fiquei”.

Samara se viu em meio a um doloroso pesadelo. “Aí chegou uma amiga minha que vinha atrás de moto e eu só falei ‘tira Lorena daqui, não deixa ela ver nada”. A menina tirou e mesmo assim ela voltou para dizer que tava bem e não era pra se preocupar com ela. Eu fiquei no chão. Era próximo a pista, um sol quente. Eu comecei a sentir dor, aí o pessoal que tava lá me tirou de perto da pista e me colocou numa cadeira. Quando me colocaram na cadeira senti que da cintura pra cima era uma tonelada, esmagando da cintura pra baixo. Aí foi dor, dor, dor de chorar, de pedir por tudo que é mais sagrado para me tirar dali. Meus padrinhos estavam lá e falaram que não, que não iriam mexer mais em mim, mas era tanta dor e a ambulância não chegava, então me tiraram. Eu pedia mesmo para me tirar, me levar pro hospital. Me colocaram num carro pequeno pra levar pro hospital. Aí na hora que me colocaram, a ambulância chegou e tiveram que me tirar do carro de novo. Sei que ninguém teve culpa, tava todo mundo ‘louco’ em ver o carro, eu, Eltin lá no chão sem se mexer”.

Quando enfim estava no hospital, ela teve que ver uma cena que jamais será esquecida. “A gente foi pro hospital. A pessoa que foi comigo, Neguim, falou que eu dizia que só não ia pedir a Deus pra morrer ali por causa da Lorena. Cheguei lá e como não tinha sangramento, nada exposto, mesmo gritando de dor eu mesma fiz a minha ficha. Enquanto eu fazia Eltim chegou na maca. Ele passou do meu lado, lembro como se fosse hoje, parece uma câmera lenta, das piores cenas da vida. Do jeito que ele tava lá no chão emborcado, ele passou na maca. Desse momento aí eu não vi mais ele, nem a Lorena. Ela foi pra Teresina fazer uns exames porque passou um tempo sem fazer xixi, com uma dorzinha no pé da barriga. Ela foi, voltou e três dias depois eu estava indo pra Teresina, não vi mais eles. Mãe e pai estavam mal, então uma prima minha foi comigo para Teresina eu não vi mais meus pais também, ninguém”.

Em Teresina, a angústia de estar longe dos seus e pouco saber sobre o que acontecia. “Quando eu estava lá só sabia do que queriam me contar. Acho que até certas coisas me poupavam. Criaram um grupo pra falar de Eltim, eu acompanhava pelo grupo. Pra Lorena eu não tinha coragem de ligar [choro…]. Lembro que só fiz duas chamadas de vídeo pra ela, mas pra eu conseguir fazer essa chamada eu tive que me controlar, respirar. E muita coisa dela eu não fiquei sabendo. Só soube depois que ela deu febre, levaram pro hospital, o médico falou que era febre emocional. E de Eltin eu só sabia o que via no grupo ou o que alguma outra pessoa ligava e me falava. Todo mundo me mandando mensagem, perguntando por Eltin e eu respondia todos que conseguia, com o que sabia. Eu dizia que ele estava lá, esperando a senha pra vir pra Teresina, mas que ia ficar bem, ia dar certo. Eu não sei se era o que eu sabia ou era a verdade que eu queria que fosse” contou emocionada.

No acidente, Samara fraturou a lombar e precisou passar por uma cirurgia. “Alguns dias depois o médico veio para marcar minha cirurgia. Para isso tinha que assinar um termo de risco e quando li o risco era paraplegia geral, morte, e eu me desesperei. O médico falou ‘você não tem escolha, você só assina, é sua última saída’. Outras pessoas que estavam lá falaram para eu assinar, que ia dá certo, era só protocolo médico. Então eu assinei e no outro dia fiz a cirurgia. Quando acordei depois eu só sabia agradecer. Já agradecia muito por estarmos vivos e depois da cirurgia agradecia e dizia, meu Deus, está em suas mãos, seja o que tiver que ser. Quando estava perto da alta minha mãe perguntou qual era a chance de eu voltar a andar e o mesmo médico falou que eu tinha 2% de chance. Vi que pegou minha mãe de surpresa, mas eu não me abalei. Desde o dia da cirurgia, que eu chorei, mas percebi que não dependia da gente e sim de Deus, eu disse ‘Senhor, que seja feita sua vontade. Só em estar viva já tá bom’. Desde lá já comecei a fazer fisioterapia”.

Mas, após o alívio de um obstáculo vencido, viria a maior das dores. “Foi no dia 29 a morte de Eltin. O dia foi ótimo, porque ele conseguiu a senha para vir para Teresina e todo mundo tava contente, se ligando. E eu falei pra mãe dele ‘vai dar tudo certo, ele vai vir pra cá, vai fazer as cirurgias’. Quando ele chegou lá de tardezinha foi aquela euforia, e a alegria porque ele chegou onde a gente queria, vai fazer as cirurgias e ficar bem. O irmãs e o amigo dele, que andavam com ele, foram procurar onde ficar, pois não podia acompanhante na UTI. Foram passando as horas aí deu 11:55 e um primo dele que mora lá em Teresina começou ligar, ‘Samara, estão tentando falar com os meninos e não conseguem, pede para tua mãe ir lá’. Eu imaginei que era para algum procedimento que iriam realizar e sempre precisa de assinatura, aí pedi pra mãe ir. Ela foi e não voltou mais, demorou. Quando ela chegou eu perguntei ‘e aí mãe, o que era?’, e ela disse ‘minha filha, tu vai ter que ser forte’. Quando ela disse isso foi mesmo que o mundo desmoronar de novo. Eu só chorava, não sabia o que pensar, o que falar. Pensava na Lorena, na mãe dele, em todo mundo. Logo vieram os enfermeiros, médicos, os meninos chegaram e eu dizia ‘minha gente, diz que é mentira, não pode ser verdade, ele acabou de chegar, era a chance dele fazer as cirurgias. [Choro…]. Mas não tinha o que fazer”.

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Na data que era pra ser de alegria, pois ela sairia do hospital, o sofrimento de uma despedida que mal aconteceu. “No dia seguinte era a minha alta. Ele veio primeiro, o corpo dele chegou aqui em casa de manhã e eu tive alta meio dia e cheguei a noite. As últimas duas vezes que eu vi Eltim foram as piores da minha vida. Eu vi ele no hospital passando na maca e no caixão, mas foi pouco tempo, porque eu não sentava, não mexia, não podia ficar lá para passar a noite como todo mundo ficou. A maca era alugada, acho que não pude ficar nem meia hora lá, não podia pegar também porque ele teve uma infecção generalizada. Não fui ao enterro, não pude participar dos terços, fiquei só com a dor mesmo, dor de muitas coisas” disse em lágrimas.

Ela lembra com tristeza do último momento. “O remorso que tenho é esse, que não pude me despedir. Os pais, irmãos, outras pessoas puderem ver ele no hospital, ele chegou aqui e quem quis ter o úlimo momento ali com ele, mesmo que no caixão, teve. E eu sinto falta disso, de ter passado pelo menos uma hora ali, só me despedindo. O velório foi na minha casa, ele na área e eu fiquei na maca no quarto, sem poder sair. Foi a noite toda assim. Fiquei no meu quarto, só pensando”.

Depois, ela ainda teve que passar por outras barreiras. “Foram só momentos ruins. Mas assim, eu estou contando, mas nunca reclamei. Eu dizia ‘meu Deus, obrigada por pelo menos eu estar viva pra cuidar da Lorena, já que ele não está’. Mas quando cheguei ela tinha medo. Não sei se era medo de mim ou de me machucar, só sei que ela não enconstava perto de mim. Passou vários dias que nem lá em casa ela dormia com a gente. A primeira vez que ela dormiu ela acordou no meio da noite chamando por Ionara (irmã de Samara). E eu dizia, ‘Lorena a mamãe tá aqui, eu tô aqui, ela nem me ouvia, só chorava e dizia que queria Ionara’. Eu acho que também foi uma das piores dores. Ter uma filha, acostumada a você ser tudo para ela e ela estar chorando, passando por tudo aquilo e você não poder fazer nada. Não podia pegar, abraçar, nada. Foi outro momento de desespero. Mas com o tempo ela foi se aproximando de mim”.

Agora, Samara precisava também focar em sua recuperação. “Depois comecei fazer a fisioterapia em casa, de domingo a domingo. A prefeitura mandava quatro dias e eu pagava o restante. Foi um pouco complicado porque eu dei trombose na perna e ninguém podia tocar, tinha que ter todo cuidado do mundo. Foram dias pesados. Eu não sentava para banhar, era só aquele banho de leito, na maca mesmo. O xixi era na sonda, eu não podia ficar só porque tinha que ter alguém pra fazer a sonda quando a bexiga enchesse, senão era uma dor insuportável. Ficava só deitada e virava um pouco de lado na cama para não criar feridas. Foram vários dias assim”.

Com o tempo, melhoras foram surgindo. A sua pequena Lorena sempre foi sua maior fonte de força. “Mas fui fazendo a fisioterapia, mesmo doendo, mesmo às vezes pensando em tudo, tentando entender, eu fazia. E aí graças a Deus foi melhorando, fui começando a sentar, com ajuda, algum apoio. A Lorena foi começando a querer ficar mais perto de mim, dormir lá em casa, me procurar mais e aí foi aliviando mais um pouco. Mas desde o começo, mesmo ela estando um pouco distante de mim, ela sempre foi meu ponto forte. Se eu estivesse aqui conversando com alguém, chorando, e ela chegasse, ela dizia ‘mãe, não chora, não faz bem’, e aí eu já colocava um sorriso. Acho que muita gente não entendia, porque eu estava a maior parte do tempo firme, tentando ser forte, mas era muito por ela, porque ela é uma criança. O pai já não tava ali e se ela só me visse chorando, pra baixo, sei que ia piorar a situação. Então, toda vez que ela tava em casa eu tava bem, sorrindo, brincando, mas foi pesado”.

Samara diz que apesar de todas as dificuldades, escolheu aproveitar a nova chance de viver. “Eu era muito ativa e algo difícil foi que fiquei uma pessoa dependente, mas mesmo assim eu sempre agradecia porque eu tinha de quem depender. Tinha mãe, pai, meus irmãos, minhas tias, primas, cunhados, alguns amigos, pessoas que não podiam vir, mas mandavam mensagem. Algumas pessoas falavam, ‘Samara, não sei como tu consegue. Eu não passaria’. Mas não é a gente que escolhe passar por coisa ruim, tragédia. Nossa vida é Deus que dá e Ele que tira. A gente decide como vai viver, se quer viver, porque infelizmente algumas pessoas não aguentam e fazem besteira. Eu só decidi que queria viver. Enquanto Deus me desse vida eu faria de tudo para viver. Por mim, pela Lorena, por mãe, porque eu vi na pele o sofrimento da mãe de Eltin. Ele era o melhor filho do mundo e ela mesma fala do fiho que ele era. Ele era o filho caçula. Nunca saiu de dentro de casa, tirava o dinheiro pra mãe, marcava consulta pra ela. Tudo era ele, tanto para os pais, quanto para os irmãos, para mim. Ele resolvia tudo. Lembro que me desesperei no hospital e pensei ‘o que que vai ser agora de mim, da Lorena?’. Mas agradecia porque pelo menos eu estava ali”.

A falta do marido é presente em todo tempo, mas ela busca guardar as boas lembranças. “O que eu busco guardar é o homem exemplar que ele foi e falo pra ela, ‘Lorena, teu pai era o melhor’. Ele sempre foi carinhoso, cuidadoso, besta mesmo com a filha, os sobrinhos. A sobrinha dele é bebê e ela ainda hoje quando vê a foto fala ‘tio Eltin’. Lembro que quando aconteceu, a Lorena falou com umas amiguinhas que estava com raiva de papai do céu, porque rezou para o pai e a mãe virem para casa, mas ele levou o pai dela. Aí comecei a conversar com ela, ‘não é asssim Lorena, Deus tava precisando do papai, ele cumpriu tudo que tinha que cumprir aqui. E a mamãe ficou para cuidar de ti’. Hoje ela mesma fala, ‘mãe, graças a Deus que papai do céu te deixou pra cuidar de mim”.

Ela diz que hoje a filha sente ainda mais a falta do pai, mas ela agradece por agora poder ampará-la. “Todo mundo admira como ela foi forte quando aconteceu. Só que agora ela já não está mais tão forte. Hoje mesmo antes de você chegar ela pegou meu celular, eu mandei revelar umas fotos da gente pra guardar de lembrança e ela começou a chorar. E aí eu vejo que ela tá mais fraca em relação a saudade, a acordar de noite chorando. Até nisso eu agradeço a Deus, porque se ela tivesse ficado assim lá no início eu não podia ter feito nada, porque ela dormia com os outros, eu estava dependente pra tudo. E agora que ela tá assim eu tô com ela, posso colocar ela no colo, acalmar, contar uma história”.

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E Samara segue evoluindo. “Eu sai com diagnóstico de paraplegia, com 2% de chance de voltar a andar, mas quando voltei lá com três meses, lembro que já voltei mexendo um pouco as pernas e o médico pegou meus exames e um vídeo meu já ficando de pé com as muletas e ele mostrou para os alunos dele e falou, ‘olha, o caso de Samara é um milagre. Foi uma cirurgia bem feita, é uma fisioterapia bem feita, mas é um milagre, porque as chances eram mínimas’. E eu sempre soube que foi um milagre e sempre falei ‘tá nas mãos de Deus’. Agora estou bem melhor, graças a Deus. Já consigo dentro de casa dar uns passinhos com as muletas. Ainda dependo da cadeira de roda, porque cansa o fato de ir para as muletas, porque passei 7 meses só na cadeira de roda. Mas independentemente de qualquer coisa eu sou grata. Só em estar aqui, já poder tomar meu banho, eu levanto da cama, saio da cadeira, venho aqui fora, cuido de Lorena. Pra mim já é muito bom”.

Ela lembra da emoção e felicidade quando conseguiu ficar em pé pela primeira vez. “Eu parecia criança quando ganha um doce. Acho que foi uma das maiores felicidades do mundo. Depois de tanto tempo, você até esquece como é ficar em pé, e quando eu vi que podia, que tinha um pouco de força, que consegui ficar em pé, foi muita alegria. Alegria minha, de mãe, das fisios, de todo mundo. Hoje em dia minhas fisioterapeutas, que já são amigas, quando pergunto ‘vocês achavam que eu estaria assim?’, e elas dizem, ‘não Samara, pelo que a gente estudou, a gente não podia era te dizer, mas não achávamos que você estaria como hoje’. Tudo foi novo. O primeiro banho, quando consegui sentar na cadeira pra banhar, o primeiro xixi, quando consegui fazer sozinha. Agora estou mais na casa de mãe, mas quando estava lá em casa eu consegui ficar mais autônoma, lavava louça, fazia comida e tudo isso quando fiz pela primeira vez eu só sabia agradecer a Deus”.

Ela lembra que também teve dias difíceis, mas em nenhum deles abandonou a fé. “A tristeza, medo, o desespero, insistem em te procurar quando você está só. E eu já passei muitas noites em claro, do jeito que anoitecia eu via amanhacer. E eu clamava a Deus, ‘Deus, não me deixa enlouquecer. Me dá forças, eu tenho Lorena para criar’. Eu falo enlouquecer porque é bem próximo disso. A gente tem que ter Deus, tem que ter fé. Quando me vejo lá em baixo eu mesma peço ajuda a Deus pra me colocar lá em cima de novo. Porque o pior já aconteceu. O que é estar assim para o que eu estava antes, deitada, só com as palavras do médico ‘se você não se ajudar você fica acamada pro resto da vida’. Então eu só agradeço a Deus”.

Ela segue o tratamento agora almejando um novo passo na recuperação. “As meninas sempre falam, ‘Samara, tu tem que saber que quando tu for sair da cadeira de roda, é as muletas, não vai pensar que tu vai andar sem as muletas agora não’. As meninas são bem realistas e eu agradeço por ser assim. Então, agora a gente está tentando ir para as muletas, para andar de muletas, o que eu não vejo nenhum problema. E seja o que Deus quiser. Quando a gente coloca nas mãos de Deus, a gente espera o melhor. E eu sei que o milagre já começou no dia do acidente, quando vi Lorena levantar, que Deus protegeu ela, que ela está aqui perfeitinha, eu agradeço muito. Eu penso às vezes, ‘ainda bem que é em mim’, e ela está assim, bem. A gente pensa em tudo e agradece”.

Sua meta é seguir firme, com a ajuda de Deus e dos seus. “E assim eu vou seguindo dia após dia, com a ajuda de Deus, com Lorena, que é meu estresse e força diários (risos), mãe, pai, meus irmãos, nas fisios, em muitos que vem passando pela vida da gente e nos ajudam a passar por tudo, porque não é fácil, mas depende da gente continuar, ter fé em Deus, que é o que mais tenho. O que mais faço é rezar e pedir a Ele força. É muita coisa que fica pra eu resolver, muitas coisas que ficam na memória de tudo que a gente viveu, da Lorena ser tão pequena e já ter passado por tudo isso. Sempre tem a sobra pra mãe. Foi a dor do luto, a dor de ficar assim, de ver ela querendo ir para alguns lugares e eu não poder. Mas só peço a Deus para me manter firme, para não fraquejar. Triste vão me ver em alguns momentos, porque não tem como passar por tudo isso e viver como se não tivesse acontecido nada. Vão me ver alegre também, porque sou assim. Mas fraquejar não, desistir não, só pra frente, seguindo firme na fé”.

Por fim, Samara agradeceu. “E é só agradecer a todo mundo, porque graças a Deus a gente conhece gente que nunca pensou em conhecer. Muitas pessoas que a gente nem pensou que tinha aquele amor e carinho pela gente, tem, e sempre foram muito presentes, nem que fosse por uma mensagem. Agradecer a vocês por me mandarem mensagem. Não vou mentir, pensei em não aceitar o convite, mas às vezes pego o celular e fico olhando vídeos, vejo pessoas que também passam por isso. Lembro que esses dias fiquei mal. Porque quando vai chegando datas, como a do falecimento, a gente fica mal. Aí quando vi vídeos de outros cadeirantes, que começaram a andar ou conseguiram fazer algo, chega me dá um ânimo novo. Então eu digo, ‘meu Deus, que legal, vou conseguir também’. Então quando você me mandou mensagem eu disse ‘eu vou fazer, porque do jeito que me inspiro, os outros se inspiram em mim” concluiu ela.


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