Ariano dizia ver a morte muito mal, porque no seu entender “o homem não foi criado para a morte. Eu acho que o homem foi criado para a imortalidade. Eu digo às vezes, brincando, que eu não pretendo morrer, já fiz minhas contas, não é bom negocio. Eu não pretendo morrer. Mas evidentemente, com a razão, eu sei que vou morrer. Mas eu não sei se você já notou, mas a gente só acredita que vai morrer com a razão, que não é uma coisa muito convincente. No fundo nenhum de nós acredita (eu vou morrer, não é mesmo ? Eu não acredito, não. Eu, logo eu que era tão vivo? Eu não simpatizo coma ideia da morte.”
Esse sentimento expresso por Ariano Suassuna, diz bastante da forma como ele levou a vida, considerando o otimista um tolo e o pessimista um chato, assumindo, então, o papel do “realista esperançoso”, como ele mesmo se confessava.
A significação que ele dava à finitude da vida contrapunha-se na essência ao que muitos filósofos abraçaram e endossaram, no sentido do que expressava um provérbio romano :”Memento Mori”., que numa tradução livre significa “lembre-se de que vai morrer”. E viva pensando nisso.
Morto em 23 de Julho de 2014, após sofrer um AVC hemorrágico, o extraordinário autor de “O Auto da Compadecida” e de tantos outros romances e peças teatrais significativos, foi toda a vida um regionalista apaixonado, de uma autenticidade extremada, tendo a morte – em suas obras, em muitos de seus versos, descrita como “a Moça Caetana” -, associada a sua formação desde criança.
Não, evidentemente, sem razões que influenciassem sua conduta e sua quase obsessão pelo tema. Ariano tinha apenas três anos de idade quando perdeu seu pai, João Suassuna, assassinado em 09 de Outubro de 1930. Como o próprio Ariano revela em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, passaria o resto da vida para protestar contra a morte de seu ídolo.
Ele conta que herdou do pai, entre outras coisas, o amor pelo sertão, principalmente o da Paraíba, e a admiração por Euclides da Cunha. Posso dizer que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo, oferecendo-lhe esta precária compensação e, ao mesmo tempo, buscando recuperar sua imagem, através da lembrança, dos depoimentos dos outros, das palavras que o pai deixou.
Mas Ariano Suassuna, a despeito do trauma e das lembranças tristes que foi obrigado a carregar da infância, não se tornou uma pessoa árida. Pelo contrário, foi um intelectual de imensa vastidão, qualidade que se juntou a um humor de intensa grandeza e leveza. Suas aulas-espetáculo ainda hoje, decorridos seis anos de sua morte, permanecem iluminando o espírito de seus seguidores e fazendo rir intensamente.
Penso ser oportuno, neste dia, lembrar um pouco do legado desse sertanejo orgulho, de uma sabedoria inata e uma alegria contagiante, elencando alguns princípios, uma espécie de 10 testamentos, que ele firmou ao longo de sua vida e aos quais honrou com rigoroso compromisso:
Lição 1 – Não ter vergonha da terra onde nasceu.
Lição 2 – Assumir sua identidade
Lição 3 – Ter Persistência:
Lição 4 – Ter Sinceridade.
Lição 5 – Ter Disciplina.
Lição 6 – Adotar Personalidade/Autenticidade
Lição 7 –Ter Certeza da Fé:
Lição 8 – Possuir Amor verdadeiro
Lição 9 – Saber aproveitar a vida.
Lição 10 – Ter Solidariedade e humildade.
Fonte: por José Osmando de Araújo – Jornalista