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Brasil: Racismo, preconceito e intolerância

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O Brasil, ao longo da história, sempre buscou apresentar-se ao mundo como uma Nação de povo pacífico, solidário, harmônico, destituído de preconceito de raça, gênero e religião, uma espécie de paraíso para a melhor convivência entre os povos.

Tal posição foi amplamente amparada na postura de governantes, sempre aptos a emitir uma posição oficial sobre essa vocação de cordialidade e paz de seu povo, desde a ação do Itamaraty no campo externo, às pregações religiosas nas igrejas e a um forte conteúdo disseminado na escola.

Por ter acolhido culturas variadas, sobretudo a partir do negro africano e dos nativos indígenas, e pelo fato de ser um país/continente de dimensões gigantescas e, mesmo assim, falar a mesma língua, não possuindo dialetos na comunicação entre suas mais diferentes regiões, apoderaram-se as classes dominantes do discurso eterno de que o Brasil era uma “Democracia Racial”.

Darcy Ribeiro, o extraordinário antropólogo, notabilizado por profundos estudos sobre a situação do índio e do negro no Brasil, transformado que foi no mais autêntico defensor da igualdade da sua gente, levantou sua voz, bravamente, contra essa falácia de “democracia racial”.

Em artigo publicado no “Folhetim”, da Folha de São Paulo, em 08 de Junho de 1980, há quarenta anos, portanto, ele afirmava que “uma das poucas coisas boas no Brasil é ver desmoralizada a imagem abominável e hedionda de que vivemos numa democracia racial, por que representa uma fantasia atrás da qual a classe dominante se desculpa da brutalidade do nosso racismo”.

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O grande Darcy nos alertava que ao falar do preconceito racial, “não podemos esquecer desse outro, vinculado a este e talvez pior ainda, que é o preconceito social. Pode-se dizer que o Brasil, tendo um preconceito de marca e não de origem, de cor e não de raça, tem um preconceito diferente do da África do Sul, que leva ao “aprtheid”. Mas nós temos um preconceito aqui, que é muito mais grave do  da África do Sul e dos Estados Unidos – é o preconceito social. A distância entre pobre e rico no Brasil é abismal. Só na Índia a gente encontra pessoas com a capacidade de passar por um pobre como se passasse por um poste, sem qualquer sentimento humano. Esse preconceito é tão grave quanto o racial e os dois se somam.”

Passadas quatro décadas dessa brava advertência, o Brasil segue atuante no racismo, expressando diariamente manifestações de preconceito e intolerância para com os diferentes e alargando, de maneira vergonhosa, a desigualdade de classe, num fosso perigoso entre ricos e miseráveis.

Foi agora, neste mês de Abril, exatamente dia 18, dentro de um hospital – um lugar criado para salvar vidas-, na cidade gaúcha de Gravataí, que se deu um episódio de grave estupidez e literal desumanidade.

O vigilante Everaldo da Silva Fonseca, um homem negro,  de 62 anos, acompanhava a esposa Maria Gonçalves Lopes, sua companheira há 35 anos,  no Hospital Dom João Becker. Ali ela se internara um dia antes, para tratar de uma cirrose.

Enquanto dormia ao lado das companheira, durante a madrugada, por volta das quatro da manhã, o negro Everaldo foi acordado por funcionários do hospital, e aí acusado de haver furtado o telefone celular de uma técnica de enfermagem. Ele foi arrancado do quarto da esposa e levado para um corredor por funcionários do hospital. Lá, foi agredido e humilhado. Depois, foi expulso do hospital. A mulher de Everaldo, que assistiu à parte da confusão, teve um infarto e morreu duas horas depois. –

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Naquela sexta-feira, Everaldo havia trabalhado doze horas seguidas, e foi para o hospital no início da noite para ficar com a esposa. Por volta das 4h da manhã, segundo o vigilante, várias técnicas de enfermagem e um segurança do hospital, contratado por uma empresa terceirizada, entraram no quarto e começaram a revistá-lo. Tudo aconteceu muito rápido, diz Everaldo. “Eu estava do lado da cama da minha esposa. Ela viu tudo — eles não quiseram saber. Mexeram nas fraldas dela, nas cobertas, nas roupas, reviraram a cama dela”,

“Falaram que negro não é cidadão”.

Depois de ser acusado de roubo, agredido, humilhado e expulso, Everaldo postou-se, encostado a uma parede, em frente ao hospital, esperando que pudesse ter alguma notícia de sua esposa. Cerca de duas horas e meia depois uma enfermeira do hospital – que não participou das agressões-, foi procura-lo e desculpar-se: o celular havia sido localizado numa sala de reunião a que Everaldo jamais poderia ter tido acesso.

Sua esposa, nesse momento, já havia morrido, provavelmente afetada pela brutal contrariedade que passou, ao ver o marido ser humilhado e acusado de roubo, sem que ninguém acreditasse na sua palavra de negro e pobre.

Isso é Brasil…

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