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Dia da Consciência Negra: piauiense produz murais que exaltam identidade negra em diversos estados do país

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Em todo o Brasil, homens e mulheres negras utilizam a arte para resgatar suas raízes, memórias e ancestralidade, como forma de valorizar a cultura e a luta histórica de antepassados.

Neste sábado (20), Dia da Consciência Negra, o g1 conversou com uma das representantes da arte visual no Piauí, a teresinense Luna Bastos. Aos 25 anos, ela desenvolveu grandes obras e participou de exposições em diversas regiões do país.

A artista possui murais no Piauí, no Rio de Janeiro e em São Paulo, que têm como eixos centrais a representação de corpos negros e a valorização da identidade negra.

Como tudo começou

O fascínio pela profissão começou na adolescência, quando Luna encontrou no grafite um meio de ampliar e expressar sua voz.

“Com 16 anos, participei de uma oficina na Central de Artesanato Mestre Dezinho, pintamos perto do Restaurante Popular de Teresina. Me encantei com a possibilidade de poder comunicar o que eu sentia em um diálogo direto com a cidade. O grafite é isso, dialoga com quem tá passando”, contou.

Piauiense Luna Bastos é artista urbana, ilustradora e tatuadora — Foto: Reprodução/Redes sociais

Piauiense Luna Bastos é artista urbana, ilustradora e tatuadora — Foto: Reprodução/Redes sociais

Na mesma época, Luna foi aprovada no curso de Psicologia da Universidade Estadual do Piauí. Em suas obras, os estudos acadêmicos sobre a psicoterapia corporal – área que aborda a relação entre corpo, mente e emoção – estão presentes até hoje, e foram fundamentais no processo de elaboração da identidade artística da jovem.

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“A psicologia tem um papel muito importante no que crio porque, à medida que eu ia estudando sobre comportamento humano, emoções e como elas são expressas em nosso corpo, comecei a desenvolver o meu estilo dentro da arte”, contou Luna.

Durante a graduação, uma nova atividade atraiu a atenção da artista: produção de tatuagens. Em 2016, Luna profissionalizou-se na área.

“Logo depois percebi que o lugar da psicologia era enquanto campo de estudo e meu trabalho de fato era como artista. Foi um processo longo porque, considerando a nossa cultura, escolher ser artista não é visto com bons olhos. Demorou até aceitar que meu caminho fugia do que é a norma”, relatou a jovem.

Luna Bastos em Parnaíba, no Litoral do Piauí  — Foto: Reprodução/Redes sociais

Luna Bastos em Parnaíba, no Litoral do Piauí — Foto: Reprodução/Redes sociais

Na arte, a representação de corpos negros e a valorização da identidade negra é um dos eixos centrais do trabalho de Luna. A inspiração surge, além de vivências do dia-a-dia, da trajetória de outras mulheres negras

“Mulheres como a Beatriz Nascimento e Conceição Evaristo, que abriram caminho para eu poder estar criando hoje. É muito importante a representação de corpos negros, principalmente nesse processo de construir novas narrativas sobre como são representadas na mídia, nas ruas. Poder pensar em novas possibilidades, ressignificar o modo como somos vistos”, contou.

Obras

Para Luna Bastos, uma das suas obras mais significativas é um mural pintado em julho deste ano, no bairro Bixiga, localizado no centro da cidade de São Paulo. A região tem sua origem no extinto Quilombo de Sararuca, um território urbano de resistência negra.

A obra faz parte do Museu de Arte de Rua, um projeto da Secretaria de Cultura de São Paulo.

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“Sou uma mulher preta, nordestina, LGBT e do candomblé pintando no centro de São Paulo. Essa obra representa meu corpo em travessia, transitando entre espaços e reafirmando a minha existência e o meu desejo por liberdade. Liberdade para reconstruir e transformar minha própria imagem”.

“Ela representa o desejo de contar a minha própria história, contrapondo o processo de silenciamento e apagamento de narrativas negras”, declarou.

Obra de Luna Bastos está localizada na Rua Fortaleza, em frente à escadaria do bairro Bixiga, em São Paulo — Foto: Reprodução/Redes sociais

No mês de maio, após a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, Luna realizou um trabalho no bairro Jacarezinho, Zona Norte da cidade.

“O mural que pintei no Jacarezinho, depois da chacina, foi muito impactante e emocionante pra mim. É sobre o afeto como possibilidade de cura. Sentir o potencial transformador da arte e ver a alegria dos moradores não tem preço, é uma experiência que levarei para vida”, disse.

Obra feita Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro, após operação mais letal da história do estado

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Ainda no Rio de Janeiro, em 2020, a artista produziu um mural de 850 m², o maior da sua carreira até o momento. A obra foi inspirada no poema “Ainda assim eu me levanto”, da escritora estadunidense Maya Angelou. Para Luna, o mural simboliza resiliência, perseverança e força.

Segundo a artista, que possui quase 40 mil seguidores nas redes sociais, o reconhecimento do trabalho, além de gratificante, é motivo de alegria por inspirar outras mulheres negras.

“De alguma forma, tô mostrando pra outras mulheres negras que é sim possível fazer o que você quer e viver a partir disso. É o ponto que mais me deixa feliz, quando recebo mensagens de mulheres que estão iniciando e enxergam no meu trabalho um ponto de possibilidades pra continuar acreditando e construindo o seu próprio caminho”, completou.

Dia da Consciência Negra

A data homenageia a figura de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, que morreu em 20 de novembro de 1695 e é um símbolo universal do combate à escravidão.

Fonte: G1 PI

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