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HISTÓRIAS DA NOSSA GENTE

Aos 76 anos, ele percorre o Centro de Jaicós vendendo mangas; conheça um pouco da história de “Zé Climério”

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Quem não conhece “Zé Climério”, ou melhor “Zé Quilimério”, como muitos, de maneira popular, o chamam. Quem mora em Jaicós, seja jovem ou idoso, com certeza já viu ele percorrendo as ruas da cidade empurrando um carrinho de mão cheio de mangas.

Seu Zé é uma das pessoas que mostram a força do povo jaicoense. Homem corajoso, batalhador, que do trabalho nunca fugiu, ele fez de tudo um pouco para garantir o sustendo da família, o pão de cada dia.

José dos Reis Carvalho, é nascido em Jaicós, e viveu por muitos anos no Juazeiro do Quitó, localidade da zona rural da cidade, hoje pertencente a Massapê do Piauí. Ele é casado com Maria Otília da Costa, com quem teve 5 filhos. O casal hoje tem também 4 netos.

Bastante conhecido na cidade, e exemplo para muitos, ele, aos 76 anos de idade, percorre o Centro de Jaicós vendendo mangas. As frutas vem do seu próprio quintal, onde ele tem mais de 20 mangueiras plantadas, que já fazem parte da história da família.

Ao Cidades na Net, seu José contou um pouco da sua trajetória, que sempre foi marcada por muito trabalho. Além de vender mangas, ele realizou diversas outras atividades para levar o alimento para a mesa. “Pra trás eu sofri muito, trabalhei de todo jeito. Caçava de noite para vender uma caça e ganhar um dinheirinho, também atirava de espingarda e matava coisa pra comer. Pescava também, o peixe que pegava tirava pra comer e vendia o outro. Eu pescava no Peixe, Massapê, e no rio onde tinha um poço que tinha peixe eu pescava. Eu trabalhava na roça, mas tirava aquele dia que não ia trabalhar, pra pescar, pra fazer um dinheirinho” lembrou ele.

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Seu Zé conta que fez muitas coisas para ganhar dinheiro. Ele disse que a família nunca passou fome, mas as vezes não podia comer mais que arroz e feijão. “Na roça eu criava um gadinho, umas ovelhinhas, aqui acolá engordava um porco, e plantava todos os anos. E eu vendia manga, e dava de comer para umas vacas pra tirar o leite para vender no outro dia. Também “aradava” terra para os outros, puxando animal ainda. Eu fiz tanta coisa pra ganhar dinheiro. A gente não passou fome, mas passava necessidade porque às vezes a gente tinha vontade de comer uma coisa boa e não tinha dinheiro para comprar, aí comia só arroz e feijão”.

A esposa, dona Otília, disse que sempre ajudou como pôde. “Eu toda vida sempre ajudei ele. “Coivarava” terra, limpava de enxada, carregava madeira nos braços. Tinha dia que o povo ia pescar e eu ia também ajudar, quando chegava de noite ia ajeitar os peixes, acordava de madrugada pra pesar. E quando ele saia eu ficava enfrentando a vida sozinha”.

Ela conta que no interior, eles conseguiam uma boa colheita de feijão. E que depois, o marido começou a vender carne das criações no açougue. “E quando morava no interior nós plantava feijão que quando batia dava 10, 15 sacos de feijão, de 15 a 20 de milho, engordava um porco, e aí a gente ficava com um pedacinho e vendia o resto. Vendia lá mesmo com os parentes, a vizinhança. Depois ele ficou sócio com o Zé, aí eles matavam as criações e vinham vender no açougue de Jaicós”.

Do tempo em que vendia, seu Zé conta que saia do interior ao amanhecer, mas vendia toda a carne. “A gente vinha de animal, de lá para cá é três léguas, aí a gente saia de lá no amanhecer do dia pra chegar aqui umas 9 horas. Mas vendia tudo. Tinha o peixe também, as vezes vendia 20, 30 quilos, aí eu dava metade para o dono do poço ou um pouco menos, porque o poço era dele, mas ele não se envolvia no trabalho, a gente que vendia”.

Depois de muito tempo morando no interior, seu Zé veio com a família para a cidade. Para comprar  a casa onde até hoje ele reside, ele teve que se desfazer de alguns bens. “Quando foi para a gente vir pra cá eu tinha um gadinho lá, aí vendi todo para comprar essa casa. E naquele tempo as coisas eram baratas. E a casa era de um sobrinho meu, aí ele me vendeu por 2 mil cruzeiros. Vendi o gado todo e propriedade lá para fazer esse dinheiro” lembrou.

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Ele conta que depois que veio para a cidade, a vida melhorou. “Depois que eu vim pra cá a vida “amiorou” mais porque comprei a casa com o quintal, que tinha muito pé de manga, aí quando era na safra de manga tinha aquele dinheiro, e dava pra comer um bocado de dia. Eu levava um carrinho cheio, que cabia umas 200 mangas. Mas “apurava” pouco, porque era barato, naquele tempo era 10 mangas por 1 real”.

Na cidade, a venda de manga e leite, ajudou ela a sustentar a família. “Mas mesmo vendendo assim barato ajudou muito. Se não fosse as mangas e o leite naquele tempo, a gente tinha morrido” destacou ele, que ainda completou dizendo que conheceu muitas pessoas vendendo manga no carrinho de mão. “Eu saia de manhã para vender as mangas, e às vezes 9 horas já estava em casa, outras vezes só chegava 11. Aquela serra ali eu andava todinha com carrinho de mão. Eu não lembro mais o nome das pessoas, mas conheço todo mundo lá. Aqui em Jaicós se perguntar quem é “Zé Quilimério” todo mundo sabe”.

Seu Zé Climério disse que era cansativo, mas que ficava satisfeito pelo dinheiro que conseguia. “Nos dias que eu chegava cedo ia para a roça fazer uma coisinha ou voltava de tarde para vender mais e ia andar a rua todinha de tarde de novo. Era cansativo, mas para quem é interessado, como eu toda vida fui, só em “tá pegando aquele dinheirinho” para mim era tudo na vida, era vender aquelas mangas. Porque chegava em um lugar e vendia 1 real de manga, em outro 3, cinco, e pegava naquele dinheirinho”.

Ele disse que sofreu muito na vida, mas, pelo menos tinha o que comer. “Eu sofri muito na minha vida, mas depois que chegamos aqui as coisas melhoraram porque a gente sofria trabalhando, mas levava uma vida boa, porque trabalhava, mas tinha o que comer, se chegasse um parente ou outra pessoa tinha o almoço. E essas mangas ajudaram muito, e também os pedaços de chão que comecei a vender”.

Hoje, mesmo com as limitações impostas pela idade, ele ainda vende as mangas. “Eu continuo vendendo para não perder e fazer aquele dinheirinho. Se a gente tem de que fazer um dinheirinho, vai deixar aquilo de lado? não, é errado. Hoje que estou mais velho é mais cansativo, eu chego todo doído, então agora vendo só aqui no Centro mesmo, e vou no máximo até a ladeira da Serra. Porque quando saio, se for em dia de receber dinheiro, a rua tá cheia de gente, aí vendo as mangas. Se acabar e tiver mais eu venho pegar”.

Ele diz que se morrer trabalhando vendendo mangas, parte satisfeito. “E enquanto eu aguentar andar, enquanto viver, vou continuar vendendo minhas mangas. Se um dia eu morrer empurrando um carrinho de manga eu morro satisfeito, e Deus perdoa aquilo ali porque sabe que eu estava fazendo por onde levar uma vida melhor do que a que eu já tive e tenho”.

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Seu Zé concluiu dizendo que o quintal com as mangueiras é uma herança da história da família, e que não venderia sua propriedade por preço algum. “Um quintal como esse eu não comparo nem se um caba for aposentado ganhando bem, sabe porque? o caba morre e aquela aposentadoria não fica para os filhos. E aqui eu vou morrer e os netos e até bisnetos vão aproveitar as mangas desse quintal. É uma herança da história da nossa família. E isso falo só do quintal, ainda tem a casa. Pode chegar uma pessoa aqui e dizer que me dá 200 mil que eu não vendo. ‘O cara pode botar o dinheiro que botar’ (risos), aí é para o filhos. Aí tem pé de manga com mais de 100 anos, uns foram plantados por meu pai”.

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